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CONJUNTURA
Dados recentes do IBGE desmentem cenários traçados por economistas logo depois da desvalorização do real
PIB reage e derruba previsões caóticas
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
O Brasil se dividiu em dois nos
últimos quatro meses. Até fevereiro, o país descrito pelos economistas tinha cores dramáticas: o PIB
cairia até 6%, a inflação bateria em
70% ao ano e poderia ocorrer confisco da poupança.
Na semana passada, o IBGE divulgou dados que estão levando os
economistas a traçar outro retrato
para a economia do Brasil: o país
não só escapou do desastre como
1999 poderá ser um ano de crescimento econômico.
O choque não veio por várias razões. Com o empréstimo do FMI e
a troca de comando no BC, o governo conseguiu recuperar a confiança do mercado financeiro e
controlar a desvalorização. Não
houve quebradeira de empresas e
de bancos porque já se sabia dos
riscos de uma desvalorização com
antecedência e as companhias se
protegeram comprando dólares.
A inflação também não subiu
tanto porque a economia já estava
em recessão e quem mexeu nos
preços teve dificuldade de vender
os produtos. "Houve um grande
erro de avaliação", diz o ex-ministro Marcílio Marques Moreira. "A
economia brasileira está mais madura do que se imaginava e os consumidores não aceitam qualquer
aumento de preço."
A economia real acabou se mostrando muito mais sólida do que
imaginavam até os otimistas. Os
economistas erraram feio ao deduzir que a história se repete e que o
Brasil enfrentaria uma crise igual à
da Rússia ou à da Tailândia.
Os analistas de bancos e de consultorias estão tornando mais
brandas suas projeções para 1999.
Para a maioria dos economistas, o
balanço do ano ainda será uma recessão, embora não seja uma queda tão violenta como se imaginava
no início do ano. Hoje, boa parte
dos economistas fala em retração
de até 1,5% do PIB, contra 3,5% a
4,0%, em média, do início do ano.
Os mais otimistas acham, até mesmo, que a economia vai crescer.
"Imaginávamos que o PIB ia cair
2,4%, mas agora achamos que pode crescer até 1%", diz Alexandre
Azara, do banco BBA. A consultoria MB Associados, do ex-secretário de política econômica José Roberto Mendonça de Barros, projetava recuo de 1,8% no PIB e agora
prevê que não haverá retração.
Os economistas estão revendo
suas posições com base nos dados
do IBGE. De acordo com o instituto, a economia cresceu 1,02% no
primeiro trimestre em comparação aos três últimos meses de 1998.
Em comparação ao primeiro trimestre do ano passado, a economia ainda está em marcha lenta,
com queda de 0,99%.
O crescimento do PIB foi uma
surpresa porque se previa que a
economia entraria numa espiral
em que a desvalorização provocaria alta de preços e a inflação geraria nova queda do real. Para conter
a alta dos preços, os juros ficariam
altos por muito tempo. Com o dólar em alta, haveria quebradeira de
empresas com dívidas no exterior.
Uma surpresa do PIB veio do
campo. Como as estatísticas da
agricultura são muito precárias, os
economistas não contabilizaram o
aumento da safra nem os ganhos
dos preços, em reais, dos produtos
exportados. No primeiro trimestre, a agropecuária cresceu 17,6%.
"A boa safra de produtos como
arroz e feijão diminuiu a pressão
sobre os preços da cesta básica e
gerou aumento de consumo no
campo", diz Mendonça de Barros.
Tudo isso poderia ter sido previsto, em maior ou menor escala,
mas alguns economistas preferiram adotar uma técnica mecânica.
Em vez de analisar as peculiaridades da economia, traçaram um paralelo com outros países que desvalorizaram suas moedas.
"O que ocorre no Brasil não tem
antecedente. Previmos que haveria
uma moratória na dívida interna
brasileira porque era um caso parecido com o da Rússia", explica
Gustavo Canonero, economista do
Deutsche Bank. O Deutsche previa
inflação de 70% e queda de 5,5%
no PIB em 1999. Agora, está refazendo suas contas.
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