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DRAMA URBANO
Ao grupo Só pra Contrariar
"Eu escrevo esta carta para vocês
porque sou sua fã e sei que vocês
não têm preconceito com ninguém. Eu estou desempregada,
não moro com os meus pais e nem
com os meus irmãos, que vivem na
Bahia.
Sou bastante esperta. Já fiz várias
coisas no mundo. Hoje eu preciso
ajudar a minha mãe e não tenho
como. Estou com muitas dívidas.
Às vezes, chego a chorar, pois não
tenho dinheiro nem para comprar
uma passagem para conhecer os
meus pais (...).
Saio todos os dias procurando
trabalho e só encontro "não, talvez,
volte depois". Até pessoas que estão empregadas passaram a tirar
sarro de mim.
No dia 27, eu tive uma decepção.
Fui em um supermercado na Vila
Formosa e perguntei se estavam
fazendo ficha de emprego. Eles
disseram que não. Aí minha colega, que é branca, foi, e eles fizeram
a ficha dela (...).
Estou fazendo de tudo para não
sujar o meu nome. Eu não posso ficar desempregada e com o nome
sujo (...).
Eu perdi um tio na Vila Rica. Ele
estava trabalhando e foi assaltado
e reagiu. Levou sete tiros e não resistiu e morreu. Ele precisando do
dinheiro, e o ladrão também.
Eu preciso fazer um curso, mas
não tenho como pagar. Gostaria de
fazer: para telefonista e informática ou qualquer um que me dê emprego para ajudar minha família.
Eu tenho um sonho de fazer o curso para militar, mas eu ainda não
terminei meus estudos e nem tenho ninguém para me ajudar financeiramente.
(...) Sei que não é só eu. Tem muita
gente assim. Às vezes nós encontramos até senhores, rapazes e moças lutando para levar o que comer
para casa.
Aqui, as pessoas que têm firma
discriminam as pessoas de cor escura e valorizam as pessoas mais
claras.
Eu sou escura, mas sou muito feliz, apesar da discriminação que
tem no Brasil.
Tenho certeza que vou conseguir
um emprego e peço a ajuda de vocês. Espero que vocês leiam com
atenção."
Jucineide Santos Oliveira, 20, está desempregada há dez meses. Baiana, mora com tios. Deixou Ipirá, sua cidade natal, ainda bebê e nunca reencontrou os pais. Já trabalhou como babá, feirante, gráfica e vendedora de aparelhos odontológicos. Pouco antes de perder o último emprego, comprou um forno microondas a prestação. Também deu entrada em um terreno na zona leste paulistana. Não quitou nenhum dos dois
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