São Paulo, Domingo, 16 de Maio de 1999
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DRAMA URBANO
Ao grupo Só pra Contrariar

"Eu escrevo esta carta para vocês porque sou sua fã e sei que vocês não têm preconceito com ninguém. Eu estou desempregada, não moro com os meus pais e nem com os meus irmãos, que vivem na Bahia.
Sou bastante esperta. Já fiz várias coisas no mundo. Hoje eu preciso ajudar a minha mãe e não tenho como. Estou com muitas dívidas. Às vezes, chego a chorar, pois não tenho dinheiro nem para comprar uma passagem para conhecer os meus pais (...).
Saio todos os dias procurando trabalho e só encontro "não, talvez, volte depois". Até pessoas que estão empregadas passaram a tirar sarro de mim.
No dia 27, eu tive uma decepção. Fui em um supermercado na Vila Formosa e perguntei se estavam fazendo ficha de emprego. Eles disseram que não. Aí minha colega, que é branca, foi, e eles fizeram a ficha dela (...).
Estou fazendo de tudo para não sujar o meu nome. Eu não posso ficar desempregada e com o nome sujo (...).
Eu perdi um tio na Vila Rica. Ele estava trabalhando e foi assaltado e reagiu. Levou sete tiros e não resistiu e morreu. Ele precisando do dinheiro, e o ladrão também.
Eu preciso fazer um curso, mas não tenho como pagar. Gostaria de fazer: para telefonista e informática ou qualquer um que me dê emprego para ajudar minha família. Eu tenho um sonho de fazer o curso para militar, mas eu ainda não terminei meus estudos e nem tenho ninguém para me ajudar financeiramente.
(...) Sei que não é só eu. Tem muita gente assim. Às vezes nós encontramos até senhores, rapazes e moças lutando para levar o que comer para casa.
Aqui, as pessoas que têm firma discriminam as pessoas de cor escura e valorizam as pessoas mais claras.
Eu sou escura, mas sou muito feliz, apesar da discriminação que tem no Brasil.
Tenho certeza que vou conseguir um emprego e peço a ajuda de vocês. Espero que vocês leiam com atenção."


Jucineide Santos Oliveira, 20, está desempregada há dez meses. Baiana, mora com tios. Deixou Ipirá, sua cidade natal, ainda bebê e nunca reencontrou os pais. Já trabalhou como babá, feirante, gráfica e vendedora de aparelhos odontológicos. Pouco antes de perder o último emprego, comprou um forno microondas a prestação. Também deu entrada em um terreno na zona leste paulistana. Não quitou nenhum dos dois



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