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BC E O MUNDO REAL
Taxas cobradas por bancos caem menos do que a Selic, após um ano de cortes promovidos pelo Banco Central
Juro cai menos para consumidor e empresa
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em junho de 2003, o governo
Luiz Inácio Lula da Silva deu início à redução da taxa básica de juros do governo -a Selic- para
reativar investimentos e consumo. Um ano depois, dados mostram que consumidores e empresas foram beneficiados com uma
parte muito pequena dessa redução, embora a economia já mostre sinais de retomada.
Entre junho de 2003 e maio de
2004, a Selic foi reduzida de 26,5%
para 16% anuais. Com essa redução, a taxa básica atual representa
60,4% do que era há um ano.
A Selic serve de referência para
o mercado, sendo uma espécie de
piso para os juros pagos pelo governo nos títulos públicos, dos
quais os bancos são grandes detentores. Pretendia-se que o impacto das reduções da Selic fosse
sentido mais diretamente no
mundo real, o que não ocorreu.
No caso do cartão de crédito,
por exemplo, a taxa média estava
em 237,57% em junho de 2003 e
recuou para 217,98% ao ano em
maio. Ou seja, a taxa atual representa 91,8% da taxa de um ano
atrás. Se tivesse caído na mesma
proporção da Selic, estaria em
143,5% ao ano. Os dados são da
Anefac, entidade nacional dos
executivos de finanças.
Já a taxa do cheque especial caiu
de 206,7% para 160,05% no mesmo período. Mas deveria ter caído
para 124,9%, se fosse obedecido o
ritmo de queda da taxa oficial.
Os juros médios no comércio,
que estavam em 118,5% há um
ano, ficaram no mês passado em
102,4% anuais -taxa que representa 86,4% da de um ano atrás.
Esses dados mostram o limite
da capacidade do governo de interferir na relação de crédito entre
bancos e pessoas físicas e jurídicas. E tiram o foco do BC, que, hoje, anuncia como fica a Selic.
Dentre os motivos alegados pelos bancos para justificar a diferença entre o ritmo de queda da
Selic e o das taxas finais estão a alta inadimplência, os impostos e
despesas administrativas.
Mas há quem ache que o sistema financeiro poderia ser mais
agressivo na queda dos juros cobrados de seus clientes.
"Mesmo que a decisão do BC
fosse a de aumentar a Selic, haveria espaço para os bancos cortarem os juros para empresas e consumidores. O "spread" bancário [a
diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros que cobram dos tomadores] é muito elevado", diz Sérgio Lima, da Mellon
Global Investments.
No caso de pessoa física, as taxas
mais elevadas são cobradas nos
empréstimos pessoais feitos em
financeiras, que exigem menos
garantias dos consumidores. A taxa média nessa modalidade de
crédito ficou em 289,2% anuais
em maio. Segundo a Anefac, houve financeiras que, em maio, chegaram a cobrar taxas de 23,7% ao
mês para empréstimos pessoais
(ou 1.184,9% ao ano).
Além de caírem proporcionalmente menos do que a Selic, alguns empréstimos chegam a subir mesmo em meses em que a taxa final fica inalterada.
É o que ocorreu, por exemplo,
com as taxas médias cobradas no
cartão de crédito de abril para
maio: subiram de 215,56% para
217,98% ao ano, atingindo a
maior taxa desde janeiro.
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