São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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BC E O MUNDO REAL

Taxas cobradas por bancos caem menos do que a Selic, após um ano de cortes promovidos pelo Banco Central

Juro cai menos para consumidor e empresa

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em junho de 2003, o governo Luiz Inácio Lula da Silva deu início à redução da taxa básica de juros do governo -a Selic- para reativar investimentos e consumo. Um ano depois, dados mostram que consumidores e empresas foram beneficiados com uma parte muito pequena dessa redução, embora a economia já mostre sinais de retomada.
Entre junho de 2003 e maio de 2004, a Selic foi reduzida de 26,5% para 16% anuais. Com essa redução, a taxa básica atual representa 60,4% do que era há um ano.
A Selic serve de referência para o mercado, sendo uma espécie de piso para os juros pagos pelo governo nos títulos públicos, dos quais os bancos são grandes detentores. Pretendia-se que o impacto das reduções da Selic fosse sentido mais diretamente no mundo real, o que não ocorreu.
No caso do cartão de crédito, por exemplo, a taxa média estava em 237,57% em junho de 2003 e recuou para 217,98% ao ano em maio. Ou seja, a taxa atual representa 91,8% da taxa de um ano atrás. Se tivesse caído na mesma proporção da Selic, estaria em 143,5% ao ano. Os dados são da Anefac, entidade nacional dos executivos de finanças.
Já a taxa do cheque especial caiu de 206,7% para 160,05% no mesmo período. Mas deveria ter caído para 124,9%, se fosse obedecido o ritmo de queda da taxa oficial.
Os juros médios no comércio, que estavam em 118,5% há um ano, ficaram no mês passado em 102,4% anuais -taxa que representa 86,4% da de um ano atrás.
Esses dados mostram o limite da capacidade do governo de interferir na relação de crédito entre bancos e pessoas físicas e jurídicas. E tiram o foco do BC, que, hoje, anuncia como fica a Selic.
Dentre os motivos alegados pelos bancos para justificar a diferença entre o ritmo de queda da Selic e o das taxas finais estão a alta inadimplência, os impostos e despesas administrativas.
Mas há quem ache que o sistema financeiro poderia ser mais agressivo na queda dos juros cobrados de seus clientes.
"Mesmo que a decisão do BC fosse a de aumentar a Selic, haveria espaço para os bancos cortarem os juros para empresas e consumidores. O "spread" bancário [a diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros que cobram dos tomadores] é muito elevado", diz Sérgio Lima, da Mellon Global Investments.
No caso de pessoa física, as taxas mais elevadas são cobradas nos empréstimos pessoais feitos em financeiras, que exigem menos garantias dos consumidores. A taxa média nessa modalidade de crédito ficou em 289,2% anuais em maio. Segundo a Anefac, houve financeiras que, em maio, chegaram a cobrar taxas de 23,7% ao mês para empréstimos pessoais (ou 1.184,9% ao ano).
Além de caírem proporcionalmente menos do que a Selic, alguns empréstimos chegam a subir mesmo em meses em que a taxa final fica inalterada.
É o que ocorreu, por exemplo, com as taxas médias cobradas no cartão de crédito de abril para maio: subiram de 215,56% para 217,98% ao ano, atingindo a maior taxa desde janeiro.


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