GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, acha que o governo e o setor empresarial deveriam concentrar a discussão sobre a taxa de juro, a partir de agora, no "spread" (a diferença entre as taxas de captação e dos empréstimos), e não na Selic (a taxa básica de juros da economia). "O "spread" não caiu tanto como deveria", disse Monteiro.
Para ele, há uma agenda grande em relação ao "spread" que deveria começar a ser discutida. Ele sugere ao governo, por exemplo, como um dos caminhos para a redução do "spread", a eliminação do compulsório sobre os depósitos a prazo. "Isso ajuda a encarecer as operações."
Há outras medidas, para Monteiro, que deveriam entrar nessa discussão. Entre elas, a cunha fiscal que pesa sobre os juros e a Lei de Falências. "Essa agenda precisa evoluir. Os juros que pagamos para operações como desconto de duplicatas são muito maiores do que os fixados pela Selic."
A taxa média anual de juros cobrada das empresas caiu de 38,6% em junho do ano passado para 29,9% em abril deste ano, segundo o Banco Central. Mas, na avaliação dos empresários, a queda ainda não foi suficiente para estimular investimentos.
"O custo do financiamento hoje é menor do que há um ano, mas ainda é muito elevado. A taxa atual não anima o empresário a investir", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
O empresário que pega um financiamento hoje para pagar nos próximos 12 meses arcará com juros de 22,7%, se considerar uma inflação ao redor de 5,7% para 12 meses. "Para voltar a investir, a taxa de juros real deveria ser menor do que 10% ao ano", diz Almeida.
Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (brinquedos), diz que os empresários do setor pagam hoje juros da ordem de 34,5% ao ano. "Como as empresas são de pequeno porte, os banqueiros não cedem."