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LUÍS NASSIF
À espera do futuro
Apesar do estrondo em cima dos índices de PIB turbinados por comparações indevidas de séries históricas -conforme demonstrado por Luiz
Carlos Mendonça de Barros-,
é óbvio que ninguém do governo pode estar satisfeito com a situação econômica. Com a possível exceção do Banco Central.
O oba-oba em torno da suposta vitória do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, teve
como único objetivo aplacar a
ansiedade de Lula, que poderia
levar a gestos impensados. Nem
Lula, nem José Dirceu, nem Roberto Rodrigues, nem Luiz Furlan, nem Celso Amorim, nem
José Alencar, nem Tarso Genro
estão satisfeitos com a política
econômica. Por que não se muda, então? A política econômica
é sustentada exclusivamente
pelo Banco Central, por acadêmicos ideológicos, por alguns
analistas financeiros e alguns
jornalistas que agem muito
mais por reflexo condicionado
do que por raciocínio.
Não existe mais a unanimidade de outros tempos, mas
existe o temor imobilizante. Palocci representa o bom senso, a
não-politização da máquina
pública, a não-xenofobia, a responsabilidade fiscal. Seus defensores incondicionais não
conseguiram avançar para a
constatação de que essas são
virtudes necessárias, mas não
suficientes para caracterizar
uma política econômica virtuosa. Falta visão de conjunto para
perceber que essas virtudes não
são incompatíveis com mudanças incontornáveis na política
econômica.
O modelo está errado, com essa mistura fatal de juros altos e
impostos pesados, vulnerabilidades externa e interna.
Só que a mudança, para ser
bem-sucedida, depende de três
etapas prévias.
A primeira é a tomada de
consciência não apenas em relação aos erros da atual política, mas ter um diagnóstico claro sobre a política alternativa.
O governo Lula -e a opinião
pública em geral- sabe que a
política está errada, mas não
tem o diagnóstico sobre a política alternativa. Existem diagnósticos competentes sobre as
saídas, mas ainda não há massa crítica de adeptos suficiente
para romper a inércia.
A segunda precondição é a
existência de um grupo técnico
com credibilidade, capacidade
operacional, conhecimento de
mercado. E esse grupo não existe nem no PT nem em outros
partidos.
A terceira precondição são as
condições políticas para implementar a nova política. Além
de coragem política, há que ter
o momento adequado.
Com um ano e meio de governo, sem um Plano Real para
auxiliá-lo, Lula já gastou seu estoque político. Recriar as condições dependeria de algum fato
político muito relevante -uma
reestruturação ministerial, um
plano gerencial que significasse
uma mudança radical de rumo
ou até mesmo uma crise grave.
Essas condições não existem por
enquanto.
Por isso mesmo só resta continuar plantando, aprofundando
os diagnósticos sobre a crise e
suas saídas, aguardando um
momento qualquer do futuro
em que se criem as condições
para a mudança.
Espiões
Eliane Catanhêde matou a
charada sobre o "espião" que
atua no Palácio do Planalto,
que, em troca dos segredos
mais recônditos do centro do
poder, recebe R$ 2.500 por mês.
É infinita a capacidade brasiliense de transformar qualquer
mexerico planaltino em questão de Estado.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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