São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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LUÍS NASSIF

À espera do futuro

Apesar do estrondo em cima dos índices de PIB turbinados por comparações indevidas de séries históricas -conforme demonstrado por Luiz Carlos Mendonça de Barros-, é óbvio que ninguém do governo pode estar satisfeito com a situação econômica. Com a possível exceção do Banco Central.
O oba-oba em torno da suposta vitória do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, teve como único objetivo aplacar a ansiedade de Lula, que poderia levar a gestos impensados. Nem Lula, nem José Dirceu, nem Roberto Rodrigues, nem Luiz Furlan, nem Celso Amorim, nem José Alencar, nem Tarso Genro estão satisfeitos com a política econômica. Por que não se muda, então? A política econômica é sustentada exclusivamente pelo Banco Central, por acadêmicos ideológicos, por alguns analistas financeiros e alguns jornalistas que agem muito mais por reflexo condicionado do que por raciocínio.
Não existe mais a unanimidade de outros tempos, mas existe o temor imobilizante. Palocci representa o bom senso, a não-politização da máquina pública, a não-xenofobia, a responsabilidade fiscal. Seus defensores incondicionais não conseguiram avançar para a constatação de que essas são virtudes necessárias, mas não suficientes para caracterizar uma política econômica virtuosa. Falta visão de conjunto para perceber que essas virtudes não são incompatíveis com mudanças incontornáveis na política econômica.
O modelo está errado, com essa mistura fatal de juros altos e impostos pesados, vulnerabilidades externa e interna.
Só que a mudança, para ser bem-sucedida, depende de três etapas prévias.
A primeira é a tomada de consciência não apenas em relação aos erros da atual política, mas ter um diagnóstico claro sobre a política alternativa. O governo Lula -e a opinião pública em geral- sabe que a política está errada, mas não tem o diagnóstico sobre a política alternativa. Existem diagnósticos competentes sobre as saídas, mas ainda não há massa crítica de adeptos suficiente para romper a inércia.
A segunda precondição é a existência de um grupo técnico com credibilidade, capacidade operacional, conhecimento de mercado. E esse grupo não existe nem no PT nem em outros partidos.
A terceira precondição são as condições políticas para implementar a nova política. Além de coragem política, há que ter o momento adequado.
Com um ano e meio de governo, sem um Plano Real para auxiliá-lo, Lula já gastou seu estoque político. Recriar as condições dependeria de algum fato político muito relevante -uma reestruturação ministerial, um plano gerencial que significasse uma mudança radical de rumo ou até mesmo uma crise grave. Essas condições não existem por enquanto.
Por isso mesmo só resta continuar plantando, aprofundando os diagnósticos sobre a crise e suas saídas, aguardando um momento qualquer do futuro em que se criem as condições para a mudança.

Espiões
Eliane Catanhêde matou a charada sobre o "espião" que atua no Palácio do Planalto, que, em troca dos segredos mais recônditos do centro do poder, recebe R$ 2.500 por mês.
É infinita a capacidade brasiliense de transformar qualquer mexerico planaltino em questão de Estado.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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