São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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SEMENTES DA DISCÓRDIA

Sem visto, missão não consegue ir a Pequim discutir veto; governo rejeita adotar ação contra a China

Impasse cresce, mas Brasil descarta ir à OMC

ANDRÉ SOLIANI
EM SÃO PAULO

Mesmo depois de um pedido pessoal dos ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) a autoridades chinesas, a missão brasileira que tentaria convencer o governo da China a facilitar a entrada de soja brasileira no país teve de ser adiada.
Os chineses alegam que o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Maçao Tadano, não pode entrar no país sem convite formal. "A embaixada da China não concedeu o visto porque não tinha o convite", disse Rodrigues. Como o convite não pôde ser providenciado, o mais provável é que a missão tenha de esperar até a semana que vem.
Rodrigues determinou anteontem que Tadano liderasse a missão, assim que soube que o parceiro comercial havia recusado mais uma carga de soja do Brasil e proibido mais 15 empresas de exportarem para o país.
Apesar de mais esse novo desencontro com a China, tanto Furlan como Rodrigues descartaram a hipótese de recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) para solucionar o impasse. Furlan disse que se trata de "questão ocasional". Segundo ele, caso seja comprovado no futuro que se trata de uma barreira à exportação brasileira, o governo poderá entrar na OMC. Para Rodrigues, a solução será obtida via negociação. Pelas regras da OMC, apenas países, e não empresas, podem entrar com recurso.
No total, 23 empresas estão proibidas de vender soja para os chineses. Segundo Rodrigues, o impacto nas exportações para a China será relevante. O prejuízo, de acordo com ele, poderá ultrapassar US$ 1 bilhão -que se refere à soja recusada e, principalmente, à queda de preços do mercado internacional. Furlan, porém, afirma que não será preciso mudar a atual meta de exportações do país (US$ 83 bilhões).

Pedidos
Na manhã de ontem, Rodrigues e Furlan pediram pessoalmente ao vice-ministro de Comércio da China, Yi Xiaozhun, e ao embaixador chinês em Brasília, Jian Yuande, para interceder nas autoridades do seu país e tentar viabilizar uma reunião. As duas autoridades chinesas estavam ontem em São Paulo.
Mesmo depois do adiamento da missão por motivos protocolares, Rodrigues sustentou que os chineses mostraram boa vontade. A missão para a China tem como objetivo convencê-los a aceitar o padrão de qualidade para a soja estabelecido pelo governo brasileiro na semana passada.
Xiaozhun também afirmou acreditar que seria possível encontrar uma solução para o problema. Ponderou que o embargo à soja brasileira se trata de uma questão de saúde humana.

Queda-de-braço
A China não aceita a presença de nenhuma semente tratada com fungicida nos carregamentos de grão. O Brasil permite até uma semente tratada por quilo do produto ou carregamentos, cujas análises laboratoriais dêem um resultado abaixo dos limite máximo de toxicidade estabelecidos internacionalmente.
Para tentar evitar a recusa de novos carregamentos, Rodrigues sugeriu à China que inspecione as cargas antes de deixarem o país.
O custo do serviço dos inspetores no país seria pago pelos exportadores. A inspeção prévia de cargas já acontece no embarque de frutas para os Estados Unidos e para a União Européia.


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