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Ponto de contaminação é incógnita
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A responsabilidade pela contaminação de grãos de soja por sementes trabalhadas com fungicidas esbarra no complexo itinerário da produção e comercialização, que vai da colheita à venda.
Segundo o produtor Jorge Rodrigues, responsável pela comissão de grãos da Farsul (Federação
da Agricultura do Rio Grande do
Sul), fica difícil identificar o momento da contaminação porque
"o que ocorreu é um fato isolado",
não havendo uma ação sistemática a ser investigada.
Exportador ouvido pela Folha,
que não quis se identificar, concorda com Rodrigues quanto à
complexidade de todo o processo
pelo qual a soja passa até a sua
venda -interna ou externa.
Na delegacia regional do Ministério da Agricultura, a dificuldade
é reconhecida. O delegado Francisco Signor define o responsável
como "ganancioso, que pensou
em se aproveitar do preço alto da
soja e acabou causando um prejuízo geral".
A Folha apurou que a tese mais
defendida na investigação é a de
que alguém tinha semente trabalhada com fungicida da safra passada (que teve o recorde de 9,5
milhões de toneladas) e a utilizou
nos grãos deste ano.
Os momentos e "manejos" (segundo o linguajar do setor) pelos
quais a soja passa são os seguintes: há a colheita e o suprimento
de uma carreta ou caminhão que
leva o produto para o armazém.
No armazém, é feita a secagem e a
limpeza do grão, normalmente
sob a responsabilidade já da cooperativa ou do exportador. Novo
caminhão ou carreta leva a soja
para a indústria (onde ela é transformada em óleo, farelo ou algum
outro produto industrializado).
Caso não seja levado para a indústria, segue para o comerciante
-que pode ser um exportador.
Nessa cadeia toda, o responsável pela eventual mistura de semente contaminada com fungicida ao grão até então sadio pode
ser o produtor em um primeiro
momento, a cooperativa, o exportador, o próprio importador e o
"cerealista", que é uma espécie de
atacadista no processo comercial.
O Ministério da Agricultura
anunciou ontem, por exemplo, a
suspeita de que 130,4 mil toneladas de soja possam estar contaminadas. As vistorias foram realizadas por sete equipes de fiscais, em
caminhões, vagões de trem, terminais de portos e silos, entre os
dias 7 e 14 deste mês.
Em nenhum momento, porém,
foi identificado o momento da
contaminação.
O produto teve a sua comercialização suspensa. Foram coletadas nove amostras, compostas de
36 subamostras que serão analisadas em laboratórios oficiais ou
credenciados pelo Ministério da
Agricultura.
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