São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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Ponto de contaminação é incógnita

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A responsabilidade pela contaminação de grãos de soja por sementes trabalhadas com fungicidas esbarra no complexo itinerário da produção e comercialização, que vai da colheita à venda.
Segundo o produtor Jorge Rodrigues, responsável pela comissão de grãos da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), fica difícil identificar o momento da contaminação porque "o que ocorreu é um fato isolado", não havendo uma ação sistemática a ser investigada.
Exportador ouvido pela Folha, que não quis se identificar, concorda com Rodrigues quanto à complexidade de todo o processo pelo qual a soja passa até a sua venda -interna ou externa.
Na delegacia regional do Ministério da Agricultura, a dificuldade é reconhecida. O delegado Francisco Signor define o responsável como "ganancioso, que pensou em se aproveitar do preço alto da soja e acabou causando um prejuízo geral".
A Folha apurou que a tese mais defendida na investigação é a de que alguém tinha semente trabalhada com fungicida da safra passada (que teve o recorde de 9,5 milhões de toneladas) e a utilizou nos grãos deste ano.
Os momentos e "manejos" (segundo o linguajar do setor) pelos quais a soja passa são os seguintes: há a colheita e o suprimento de uma carreta ou caminhão que leva o produto para o armazém. No armazém, é feita a secagem e a limpeza do grão, normalmente sob a responsabilidade já da cooperativa ou do exportador. Novo caminhão ou carreta leva a soja para a indústria (onde ela é transformada em óleo, farelo ou algum outro produto industrializado). Caso não seja levado para a indústria, segue para o comerciante -que pode ser um exportador.
Nessa cadeia toda, o responsável pela eventual mistura de semente contaminada com fungicida ao grão até então sadio pode ser o produtor em um primeiro momento, a cooperativa, o exportador, o próprio importador e o "cerealista", que é uma espécie de atacadista no processo comercial.
O Ministério da Agricultura anunciou ontem, por exemplo, a suspeita de que 130,4 mil toneladas de soja possam estar contaminadas. As vistorias foram realizadas por sete equipes de fiscais, em caminhões, vagões de trem, terminais de portos e silos, entre os dias 7 e 14 deste mês.
Em nenhum momento, porém, foi identificado o momento da contaminação.
O produto teve a sua comercialização suspensa. Foram coletadas nove amostras, compostas de 36 subamostras que serão analisadas em laboratórios oficiais ou credenciados pelo Ministério da Agricultura.


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