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LUÍS NASSIF
Varig e ignorância nacional
O fim da Varig demonstra
que nem governos nem
mercado estão preparados
para um país moderno
AO LONGO de sua existência, no
auge de seu poder, a Varig
conseguiu derrotar, uma a
uma, suas concorrentes. Em parte,
pela competência; muito, pela influência política.
Foi um avião da Varig que transportou João Goulart da China para
Porto Alegre, quando os militares
ameaçaram não deixá-lo tomar posse. Foi em um avião da Varig que Ruben Berta transportou clandestinamente Walther Moreira Salles a Porto Alegre, num regime parlamentarista.
Mudou o regime, não a influência
da Varig. No regime militar, sua influência ajudou no fim da Panair, de
quem herdou os espaços nos aeroportos. Depois, incorporou a Cruzeiro do Sul. Seu poder era fantástico
nos tempos de um país fechado, em
que uma viagem ao exterior era considerada "jabá" que encantava políticos e jornalistas.
Ruben Berta morreu. Seu sucessor, Hélio Smidt, ampliou a influência da Varig. Mas, já em sua gestão, o
modelo de governança implantado
por Berta começava a fazer água.
Feudos começaram a se estratificar
na companhia. Como um imperador, Smidt distribuía benesses. Cada
vez mais a Varig ia se burocratizando
na gestão. Na linha de frente, mantinha a qualidade do atendimento, a
excelência dos pilotos, da manutenção.
Smidt morreu, logo depois de ter
sido envolvido por Mário Garnero
no episódio Brasilinvest, nos anos
80. Seu sucessor, Rubel Thomas,
acabou de afundar a Varig. Sob seu
comando, surgiu a Rio-Sul, uma empresa de excelência que, durante certo período, chegou a rivalizar com a
TAM em qualidade de atendimento.
O presidente da Varig, Fernando
Pinto, foi demitido, acusado de incompetente. Mudou-se para Portugal, salvou a TAP e se tornou o mais
prestigiado executivo do país. Thomas foi demitido, contratado pela
TAM, e quase deixa a companhia em
maus lençóis por sua megalomania
na montagem das linhas internacionais.
Na época da saída de Thomas, a
Varig já estava começando a degringolar. Ano após ano, a situação ia piorando. Pouco antes de morrer, o comandante Rolim, da TAM, estava articulando com o então presidente da
Varig, Ozires Silva, uma maneira de
assumir a empresa, tentar recuperá-la e, mais adiante, promover uma fusão com a TAM. Sua morte frustrou
os planos.
Depois disso, era questão de tempo para a Varig desaparecer. Uma
atuação decisiva de governos, de
FHC ou de Lula, de credores, da própria Justiça teria permitido à companhia se salvar, surgir uma nova Varig, com novos controladores, preservando empregos, linhas e o nome
Varig. Nada disso ocorreu. FHC fugiu do problema Varig da mesma
maneira irresponsável que seu sucessor Lula.
Na imprensa, o caso Varig era afogado por um mar de desinformação,
de quem não conseguia entender
que quem deve ser punido por má
gestão são gestores, não empresas.
Recuperar uma empresa não significa premiar seus controladores, se
eles forem afastados e punidos por
seus erros. É ato de racionalidade.
O fim da Varig é o atestado maior
da ignorância nacional. É a demonstração de que nem governos, nem
Judiciário, nem mercado e credores
estão preparados para um país moderno. O fim da Varig é a comprovação cabal do grau de ignorância nacional.
Blog: luisnassif@uol.com.br
@ - Luisnassif@uol.com.br
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