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Juízes terão acesso rápido a banco de dados da Receita
Magistrados precisarão de certificação digital, com senha fornecida pelo fisco
Medida, válida em alguns Estados, como SP, deve acelerar trâmites, mas OAB
diz que é preciso controle rígido dos dados acessados
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um convênio firmado entre a
Receita Federal e a Justiça vai
permitir que juízes federais, estaduais e trabalhistas tenham
acesso on-line ao banco de dados do fisco para obter informações de contribuintes e de
empresas que estão envolvidos
em processos judiciais.
Para a Receita e representantes dos tribunais, a medida vai
acelerar a tramitação das ações,
uma vez que, para obter informações sobre dados cadastrais
e declarações de Imposto de
Renda das pessoas físicas e jurídicas, um juiz levava até 30 dias
-desde o envio do ofício por
meio dos Correios até o recebimento da resposta. No sistema
on-line, levará segundos.
Especialistas em informática
e advogados consultados ressaltam, entretanto, que é preciso criar mecanismos de proteção eficientes para que o sigilo
dos contribuintes continue assegurado, como prevê a lei.
O acordo foi assinado nesta
semana com a Justiça estadual
de São Paulo. Já havia sido firmado no início do mês com os
Tribunais Regionais do Trabalho de São Paulo (2ª região) e
Campinas (15 ª região), além do
Tribunal de Regional Federal
de São Paulo e Mato Grosso do
Sul (3ª região). No Distrito Federal e no Paraná, os juízes federais já firmaram convênio.
"Além de disponibilizar as
informações de forma muito
mais rápida, haverá economia
de pessoal e até mesmo de papel", diz Claudia Maria de Andrade, chefe da divisão de tecnologia da Receita Federal.
Por ano, as delegacias do fisco em São Paulo recebem 220
mil ofícios de juízes e destacam
90 servidores para atender esses pedidos. Cerca de 80% deles
pedem dados cadastrais, como
endereços atualizados, e cópias
da declaração de bens.
O juiz Antônio José Teixeira
de Carvalho, presidente do
TRT-SP, avalia que o acordo
agilizará principalmente os
processos trabalhistas em fase
de execução. Por dia, as Varas
do Trabalho recebem em média mil novas ações. Desse total, 75% chegam à fase de execução -mas boa parte delas
com informações erradas, o
que dificulta a cobrança. Segundo o TRT, o acesso via internet permitirá que as correções sejam feitas imediatamente, o que acelera a tramitação.
Quem pode
Para entrar no banco de dados, os juízes têm de ter certificação digital e uma senha que
receberão da Receita. "Ao acessar o centro virtual de atendimento ao contribuinte, por
meio do Infojud [sistema de informações ao Judiciário], o juiz
terá de preencher um formulário on-line com o número da
ação e o CPF ou CNPJ do contribuinte. Portanto, não terá
acesso irrestrito a todos os contribuintes", diz Andrade.
Para o advogado Ives Gandra,
se os juízes utilizarem o banco
de informações do fisco somente para consultas de processos
em que atuam, não há problemas. "O que não pode ocorrer é
que seja usado para "pescar" informações", afirma.
O advogado Marcos da Costa,
diretor da OAB-SP e especialista em direito de informática,
diz que a entidade não teve
acesso aos convênios e que pedirá mais detalhes aos tribunais. "Substituir o papel por
meio eletrônico não me parece
ilegal. Mas quem terá acesso a
esses dados? Como ficarão arquivados na caixa postal do juiz
no sistema Infojud? Um juiz
pode pedir a um assistente para
acionar? Como os dados migrarão do meio eletrônico para o
papel? É preciso detalhar isso."
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