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CAIO MEGALE
A meta de inflação para 2009
A melhor decisão parece ser reduzir a meta de 2009 para algo como 4%, com bandas de tolerância mais estreitas
NO PRÓXIMO dia 26 de junho, o
Conselho Monetário Nacional decidirá a meta de inflação para o ano de 2009, bem como
as bandas que definiram a sua zona
de tolerância.
Essa decisão tem gerado um intenso debate entre os economistas.
De um lado, os que defendem uma
redução da meta, dado que os atuais
4,5% ainda são altos para os padrões
mundiais -hoje em torno de 3%. De
outro, os que entendem que a manutenção dos 4,5% seria mais desejável, pois abre espaço para o Banco
Central cortar mais a taxa de juros,
levando a um maior crescimento
econômico.
Dessa forma, parece oportuno
avaliar alguns princípios da teoria
econômica que possam ajudar um
pouco mais no debate.
Em primeiro lugar, a decisão passa por um dilema ("trade off") comum em política econômica: credibilidade versus flexibilidade.
Manter a meta em 4,5% com bandas largas daria mais flexibilidade à
atuação do BC. Entretanto objetivos
pouco desafiadores podem comprometer a credibilidade do regime, que
tem como um de seus principais pilares a ancoragem de expectativas
de inflação dos agentes econômicos.
Nesse caso, parece aconselhável
reduzir a meta de inflação e as bandas de tolerância, dado que o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) hoje acumula 3,3% nos últimos 12 meses e, portanto, 4,5% parece pouco desafiador. Mas fazê-lo
de forma gradual, pois metas muito
audaciosas também acabam sendo
pouco críveis e, portanto, igualmente ineficazes para coordenar as expectativas.
Outro ponto relevante é o impacto
dessa decisão sobre o crescimento.
No curto prazo, a busca de um patamar mais baixo de inflação pode
custar alguns trimestres de crescimento baixo.
Por outro lado, o estudo econômico empírico mostra que níveis mais
baixos de inflação tendem a levar a
um maior crescimento no longo
prazo, dado que a estabilidade permite o planejamento, incentivando
o investimento e o consumo.
Como parece razoável apertar um
pouco os cintos no curto prazo, em
nome de maior crescimento por
muitos anos à frente, esse aspecto
também aponta no sentido de continuarmos a reduzir a nosso objetivo
inflacionário, rumo a um patamar
mais condizente com a prática internacional.
Finalmente, devemos observar o
papel das expectativas. A teoria
mostra que é possível reduzir a inflação com um menor custo de produto, se os agentes acreditarem que
a aquela será efetivamente menor à
frente e ajustarem seus preços e salários de acordo.
Ou seja, se a inflação esperada for
mais baixa, provavelmente o custo
de curto prazo da desinflação, mencionado no parágrafo anterior, tende a ser amenizado.
Estudos do BC mostram que a
meta estipulada tem um forte poder
de coordenar as expectativas. Se
aproveitássemos o momento favorável por que passa a economia brasileira para reduzir a meta, a inflação
esperada tenderia a ser menor, tornando assim a convergência menos
penosa.
Mantendo a meta em 4,5%, ancoramos a expectativa de longo prazo
nesse patamar, o que demandará
um custo maior de produto se desejarmos reduzir a inflação em algum
momento do futuro.
Portanto, a melhor decisão a ser
tomada parece ser a de reduzir a meta de 2009 de forma gradual, para algo como 4%, com bandas de tolerância um pouco mais estreitas, pois isso não apenas será decisivo para
manter a credibilidade do regime
monetário atual como contribuirá
para o maior crescimento do país no
futuro.
CAIO MEGALE, 32, economista, mestre pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), é sócio da
Mauá Investimentos.
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