São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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CAIO MEGALE

A meta de inflação para 2009

A melhor decisão parece ser reduzir a meta de 2009 para algo como 4%, com bandas de tolerância mais estreitas

NO PRÓXIMO dia 26 de junho, o Conselho Monetário Nacional decidirá a meta de inflação para o ano de 2009, bem como as bandas que definiram a sua zona de tolerância. Essa decisão tem gerado um intenso debate entre os economistas.
De um lado, os que defendem uma redução da meta, dado que os atuais 4,5% ainda são altos para os padrões mundiais -hoje em torno de 3%. De outro, os que entendem que a manutenção dos 4,5% seria mais desejável, pois abre espaço para o Banco Central cortar mais a taxa de juros, levando a um maior crescimento econômico.
Dessa forma, parece oportuno avaliar alguns princípios da teoria econômica que possam ajudar um pouco mais no debate.
Em primeiro lugar, a decisão passa por um dilema ("trade off") comum em política econômica: credibilidade versus flexibilidade. Manter a meta em 4,5% com bandas largas daria mais flexibilidade à atuação do BC. Entretanto objetivos pouco desafiadores podem comprometer a credibilidade do regime, que tem como um de seus principais pilares a ancoragem de expectativas de inflação dos agentes econômicos.
Nesse caso, parece aconselhável reduzir a meta de inflação e as bandas de tolerância, dado que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) hoje acumula 3,3% nos últimos 12 meses e, portanto, 4,5% parece pouco desafiador. Mas fazê-lo de forma gradual, pois metas muito audaciosas também acabam sendo pouco críveis e, portanto, igualmente ineficazes para coordenar as expectativas. Outro ponto relevante é o impacto dessa decisão sobre o crescimento.
No curto prazo, a busca de um patamar mais baixo de inflação pode custar alguns trimestres de crescimento baixo. Por outro lado, o estudo econômico empírico mostra que níveis mais baixos de inflação tendem a levar a um maior crescimento no longo prazo, dado que a estabilidade permite o planejamento, incentivando o investimento e o consumo.
Como parece razoável apertar um pouco os cintos no curto prazo, em nome de maior crescimento por muitos anos à frente, esse aspecto também aponta no sentido de continuarmos a reduzir a nosso objetivo inflacionário, rumo a um patamar mais condizente com a prática internacional.
Finalmente, devemos observar o papel das expectativas. A teoria mostra que é possível reduzir a inflação com um menor custo de produto, se os agentes acreditarem que a aquela será efetivamente menor à frente e ajustarem seus preços e salários de acordo.
Ou seja, se a inflação esperada for mais baixa, provavelmente o custo de curto prazo da desinflação, mencionado no parágrafo anterior, tende a ser amenizado.
Estudos do BC mostram que a meta estipulada tem um forte poder de coordenar as expectativas. Se aproveitássemos o momento favorável por que passa a economia brasileira para reduzir a meta, a inflação esperada tenderia a ser menor, tornando assim a convergência menos penosa.
Mantendo a meta em 4,5%, ancoramos a expectativa de longo prazo nesse patamar, o que demandará um custo maior de produto se desejarmos reduzir a inflação em algum momento do futuro.
Portanto, a melhor decisão a ser tomada parece ser a de reduzir a meta de 2009 de forma gradual, para algo como 4%, com bandas de tolerância um pouco mais estreitas, pois isso não apenas será decisivo para manter a credibilidade do regime monetário atual como contribuirá para o maior crescimento do país no futuro.


CAIO MEGALE, 32, economista, mestre pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), é sócio da Mauá Investimentos.


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