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Metalúrgico do ABC eleva poder de compra
Melhora entre 2002 e 2006 deve-se à inflação controlada, ao bom desempenho do setor e aos aumentos salariais reais
Para comprar uma cesta de
156 produtos e serviços em 2002, metalúrgico precisava trabalhar 163 horas; no ano passado, apenas 125 horas
DA REPORTAGEM LOCAL
O poder de compra dos metalúrgicos do ABC paulista aumentou significativamente nos
últimos cinco anos. Com a inflação sob controle e o desempenho positivo do setor automotivo, os aumentos reais chegaram a 22,6% no período de
2002 a 2006.
Pesquisa do Dieese e da CNM
(Confederação Nacional dos
Metalúrgicos) da CUT mostra
que, em 2002, um metalúrgico
de montadora do ABC precisava trabalhar 163 horas -de
uma jornada mensal de 174 horas- para conseguir comprar
uma cesta de 156 produtos e
serviços. No ano passado, foram necessárias 125 horas para
adquirir a mesma cesta.
Para comprar um dos carros
populares que ajuda a produzir,
um operário precisou trabalhar
1.138 horas no ano passado. Em
2002, eram necessárias 1.285
horas. O cálculo considera um
carro estimado em R$ 23 mil.
Os salários de trabalhadores
das montadoras do ABC, ligados diretamente à produção, tiveram aumento de 22,6% acima da inflação entre 2002 e
2006, segundo levantamento
dos técnicos do Dieese a partir
de dados da Rais (Registro
Anual de Informações Sociais),
do Ministério do Trabalho. Só a
inflação medida pelo INPC (indicador mais usado nos acordos salariais), chegou a 45% no
período. A média salarial nas
montadoras do ABC foi de R$
3.563,22 no ano passado. Há
cinco anos, era de R$ 1.999,83.
A realidade é bem diferente
para os demais empregados
com carteira assinada do setor
privado na região metropolitana de São Paulo, segundo dados
do IBGE. Em abril de 2002, por
exemplo, a remuneração média
de um trabalhador desse setor
foi de R$ 1.291,93. Em abril do
ano passado foi menor: R$
1.275,94. Em abril deste ano,
cresceu apenas 1,34% sobre
2006 e chegou a R$ 1.293.
"O ganho real no setor metalúrgico se justifica na medida
em que a indústria automobilística teve desempenho positivo tanto no mercado interno,
impulsionado pela melhora do
crédito, como no externo. Esse
setor ficou estagnado entre
1998 e 2002. Mas a partir daquele ano entrou em processo
de recuperação que permitiu
atingir níveis recordes de produção", diz o economista Fabio
Silveira, sócio-diretor da RC
Consultores. As vendas para o
mercado interno cresceram
29% no período de 2002 a
2006, enquanto a expansão das
exportações foi de 100%.
Para os técnicos do Dieese, a
inflação sob controle e a melhora no emprego também facilitaram as negociações salariais. "Os acordos firmados no
ABC que deram garantia de
emprego aos trabalhadores de
parte das montadoras [como na
Volkswagen e na Ford] também contribuíram para elevar a
remuneração nas fábricas", diz
Osvaldo Rodrigues Cavignato,
coordenador da subseção do
Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. "A rotatividade, uma das causas do achatamento salarial, também diminuiu com esses acordos."
Os sindicalistas querem estender os aumentos reais conquistados para as demais regiões do país e discutiram em
um congresso nacional da categoria, encerrado ontem, a adoção de um piso nacional e do
contrato coletivo nacional de
trabalho, além de uma campanha salarial unificada em todo
o país. No congresso, Carlos Alberto Grana foi reeleito presidente da CNM.
Abismo regional
A pesquisa mostrou que a diferença de salário entre os metalúrgicos de montadoras em
19 cidades do país chegou a
471% no ano passado, enquanto o preço da cesta de produtos
nessas mesmas localidades variou 11,6%. Enquanto o salário
médio foi de R$ 3.563 em uma
montadora do ABC, em Sete
Lagoas (MG) correspondeu a
R$ 757 no ano passado.
"São diferenças salariais brutais para um custo de vida muito parecido, o que não justifica
a idéia de que os salários são
distantes porque a vida em São
Paulo é mais cara. Esses dados
revelam a necessidade urgente
de adotar um piso único e evitar que as empresas, atraídas
por incentivos fiscais em outros Estados, paguem salários
tão baixos a seus trabalhadores", diz Valter Sanches, secretário-geral da confederação.
Para o estudo, os técnicos
pesquisaram ainda os salários
dos metalúrgicos de montadoras, autopeças e siderúrgicas
em 54 cidades de dez Estados.
No setor de autopeças, a variação salarial chegou a 184%, e no
siderúrgico, a 266%.
Com 12 anos de carteira assinada no setor metalúrgico,
Claudio Miranda dos Santos,
37, diz que conquistou o atual
padrão de vida graças ao emprego em uma indústria da região do ABC. "Certamente, minha situação melhorou muito
nos últimos anos. O salário permitiu comprar minha casa, carro e o que tenho hoje para o
conforto da família", diz o operador de máquinas, que veio de
Pernambuco a passeio em 1993
com os pais e decidiu arranjar
emprego em São Paulo.
(CLAUDIA ROLLI)
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