São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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Metalúrgico do ABC eleva poder de compra

Melhora entre 2002 e 2006 deve-se à inflação controlada, ao bom desempenho do setor e aos aumentos salariais reais

Para comprar uma cesta de 156 produtos e serviços em 2002, metalúrgico precisava trabalhar 163 horas; no ano passado, apenas 125 horas


DA REPORTAGEM LOCAL

O poder de compra dos metalúrgicos do ABC paulista aumentou significativamente nos últimos cinco anos. Com a inflação sob controle e o desempenho positivo do setor automotivo, os aumentos reais chegaram a 22,6% no período de 2002 a 2006.
Pesquisa do Dieese e da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) da CUT mostra que, em 2002, um metalúrgico de montadora do ABC precisava trabalhar 163 horas -de uma jornada mensal de 174 horas- para conseguir comprar uma cesta de 156 produtos e serviços. No ano passado, foram necessárias 125 horas para adquirir a mesma cesta.
Para comprar um dos carros populares que ajuda a produzir, um operário precisou trabalhar 1.138 horas no ano passado. Em 2002, eram necessárias 1.285 horas. O cálculo considera um carro estimado em R$ 23 mil.
Os salários de trabalhadores das montadoras do ABC, ligados diretamente à produção, tiveram aumento de 22,6% acima da inflação entre 2002 e 2006, segundo levantamento dos técnicos do Dieese a partir de dados da Rais (Registro Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho. Só a inflação medida pelo INPC (indicador mais usado nos acordos salariais), chegou a 45% no período. A média salarial nas montadoras do ABC foi de R$ 3.563,22 no ano passado. Há cinco anos, era de R$ 1.999,83.
A realidade é bem diferente para os demais empregados com carteira assinada do setor privado na região metropolitana de São Paulo, segundo dados do IBGE. Em abril de 2002, por exemplo, a remuneração média de um trabalhador desse setor foi de R$ 1.291,93. Em abril do ano passado foi menor: R$ 1.275,94. Em abril deste ano, cresceu apenas 1,34% sobre 2006 e chegou a R$ 1.293.
"O ganho real no setor metalúrgico se justifica na medida em que a indústria automobilística teve desempenho positivo tanto no mercado interno, impulsionado pela melhora do crédito, como no externo. Esse setor ficou estagnado entre 1998 e 2002. Mas a partir daquele ano entrou em processo de recuperação que permitiu atingir níveis recordes de produção", diz o economista Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. As vendas para o mercado interno cresceram 29% no período de 2002 a 2006, enquanto a expansão das exportações foi de 100%.
Para os técnicos do Dieese, a inflação sob controle e a melhora no emprego também facilitaram as negociações salariais. "Os acordos firmados no ABC que deram garantia de emprego aos trabalhadores de parte das montadoras [como na Volkswagen e na Ford] também contribuíram para elevar a remuneração nas fábricas", diz Osvaldo Rodrigues Cavignato, coordenador da subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. "A rotatividade, uma das causas do achatamento salarial, também diminuiu com esses acordos."
Os sindicalistas querem estender os aumentos reais conquistados para as demais regiões do país e discutiram em um congresso nacional da categoria, encerrado ontem, a adoção de um piso nacional e do contrato coletivo nacional de trabalho, além de uma campanha salarial unificada em todo o país. No congresso, Carlos Alberto Grana foi reeleito presidente da CNM.

Abismo regional
A pesquisa mostrou que a diferença de salário entre os metalúrgicos de montadoras em 19 cidades do país chegou a 471% no ano passado, enquanto o preço da cesta de produtos nessas mesmas localidades variou 11,6%. Enquanto o salário médio foi de R$ 3.563 em uma montadora do ABC, em Sete Lagoas (MG) correspondeu a R$ 757 no ano passado.
"São diferenças salariais brutais para um custo de vida muito parecido, o que não justifica a idéia de que os salários são distantes porque a vida em São Paulo é mais cara. Esses dados revelam a necessidade urgente de adotar um piso único e evitar que as empresas, atraídas por incentivos fiscais em outros Estados, paguem salários tão baixos a seus trabalhadores", diz Valter Sanches, secretário-geral da confederação.
Para o estudo, os técnicos pesquisaram ainda os salários dos metalúrgicos de montadoras, autopeças e siderúrgicas em 54 cidades de dez Estados. No setor de autopeças, a variação salarial chegou a 184%, e no siderúrgico, a 266%.
Com 12 anos de carteira assinada no setor metalúrgico, Claudio Miranda dos Santos, 37, diz que conquistou o atual padrão de vida graças ao emprego em uma indústria da região do ABC. "Certamente, minha situação melhorou muito nos últimos anos. O salário permitiu comprar minha casa, carro e o que tenho hoje para o conforto da família", diz o operador de máquinas, que veio de Pernambuco a passeio em 1993 com os pais e decidiu arranjar emprego em São Paulo.
(CLAUDIA ROLLI)


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