|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mais educação não eleva a renda no NE
Houve avanço na qualificação, mas trabalhadores de indústrias da região não viram o salário crescer de 1994 a 2005
Renda média nas indústrias do Nordeste caiu de 4,4 salários mínimos para 2,6 mínimos no período, com queda de R$ 789 para R$ 764
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar da significativa melhoria na qualificação de sua
mão-de-obra e da política
agressiva de atração de indústrias por meio de isenção fiscal,
os trabalhadores nordestinos
não viram seus salários crescer
de 1994 a 2005.
Dados da Rais (Relação
Anual de Informações Sociais,
do Ministério do Trabalho) tabulados pelo economista
Adriano Sarquis, do Banco do
Nordeste e doutorando em economia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, mostram
que o número médio de anos de
estudo dos trabalhadores das
indústrias nordestinas aumentou de 5,7 para 7,5 anos.
Em 1994, quase a metade
(48%) desses empregados havia completado apenas a 4ª série do ensino fundamental, ou
nem isso. Passados 11 anos, esse
percentual caiu para 28%.
Já aqueles que possuíam pelo
menos o nível médio completo
viram sua participação no total
de empregos industriais da região aumentar de 17% para
33%. Isso aconteceu ao mesmo
tempo em que houve aumento
de empregos formais, de 552
mil para 788 mil.
"Há o pressuposto clássico
na economia de que, melhorando a qualificação, você eleva
também a produtividade e o salário real. Não foi isso, no entanto, que aconteceu na indústria no Nordeste", diz Sarquis.
O rendimento médio nas indústrias nordestinas caiu de 4,4
salários mínimos para 2,6 salários. Levando em conta o valor
do mínimo de 1994 e de 2005 e
inflacionando pelo INPC do período, significa queda de R$ 789
para R$ 764 -considerando
que o salário mínimo subiu
329% no período.
Para o autor do estudo, essa
melhoria da escolaridade sem
reflexo na renda aconteceu por
que a PEA (População Economicamente Ativa) tem crescido
bastante sem a geração correspondente de postos de mais alta remuneração, o que aumenta
a oferta de mão-de-obra mais
qualificada e disposta a aceitar
um emprego em condição abaixo da compatível com seu nível
de qualificação.
"Estamos numa etapa que eu
chamaria de "low road" de desenvolvimento regional, caracterizada pela baixa produtividade, baixos salários e pela predominância de segmentos tradicionais (alimentos, bebidas,
têxtil ou vestuários) com pouca
capacidade de gerar uma dinâmica interna de crescimento."
O economista Sérgio Vale, da
MB Associados, concorda com
os argumentos de Sarquis e diz
que não se deve esperar melhoria do padrão de salários da região. "São empregos de menos
qualidade e, conseqüentemente, de menor remuneração do
que no resto do país. A questão
é que essas empresas foram para essa região justamente por
conta desse custo menor."
Vale acrescenta nessa análise
que outros fatores atraíram essas indústrias para o Nordeste:
a política de incentivos fiscais e
a proximidade dos mercados
compradores internacionais,
como forma de fugir do câmbio
apreciado na década de 90.
Para Lena Lavinas, professora do Instituto de Economia da
UFRJ, o Nordeste sofre, de forma preocupante, com uma característica que ela identifica
em toda a economia brasileira:
a criação de empregos formais,
principalmente em atividades
de até dois salários mínimos.
Texto Anterior: Metalúrgico do ABC eleva poder de compra Próximo Texto: Região precisa de um projeto de desenvolvimento, diz economista Índice
|