São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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Mais educação não eleva a renda no NE

Houve avanço na qualificação, mas trabalhadores de indústrias da região não viram o salário crescer de 1994 a 2005

Renda média nas indústrias do Nordeste caiu de 4,4 salários mínimos para 2,6 mínimos no período, com queda de R$ 789 para R$ 764

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar da significativa melhoria na qualificação de sua mão-de-obra e da política agressiva de atração de indústrias por meio de isenção fiscal, os trabalhadores nordestinos não viram seus salários crescer de 1994 a 2005.
Dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho) tabulados pelo economista Adriano Sarquis, do Banco do Nordeste e doutorando em economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostram que o número médio de anos de estudo dos trabalhadores das indústrias nordestinas aumentou de 5,7 para 7,5 anos.
Em 1994, quase a metade (48%) desses empregados havia completado apenas a 4ª série do ensino fundamental, ou nem isso. Passados 11 anos, esse percentual caiu para 28%.
Já aqueles que possuíam pelo menos o nível médio completo viram sua participação no total de empregos industriais da região aumentar de 17% para 33%. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que houve aumento de empregos formais, de 552 mil para 788 mil.
"Há o pressuposto clássico na economia de que, melhorando a qualificação, você eleva também a produtividade e o salário real. Não foi isso, no entanto, que aconteceu na indústria no Nordeste", diz Sarquis.
O rendimento médio nas indústrias nordestinas caiu de 4,4 salários mínimos para 2,6 salários. Levando em conta o valor do mínimo de 1994 e de 2005 e inflacionando pelo INPC do período, significa queda de R$ 789 para R$ 764 -considerando que o salário mínimo subiu 329% no período.
Para o autor do estudo, essa melhoria da escolaridade sem reflexo na renda aconteceu por que a PEA (População Economicamente Ativa) tem crescido bastante sem a geração correspondente de postos de mais alta remuneração, o que aumenta a oferta de mão-de-obra mais qualificada e disposta a aceitar um emprego em condição abaixo da compatível com seu nível de qualificação.
"Estamos numa etapa que eu chamaria de "low road" de desenvolvimento regional, caracterizada pela baixa produtividade, baixos salários e pela predominância de segmentos tradicionais (alimentos, bebidas, têxtil ou vestuários) com pouca capacidade de gerar uma dinâmica interna de crescimento."
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, concorda com os argumentos de Sarquis e diz que não se deve esperar melhoria do padrão de salários da região. "São empregos de menos qualidade e, conseqüentemente, de menor remuneração do que no resto do país. A questão é que essas empresas foram para essa região justamente por conta desse custo menor."
Vale acrescenta nessa análise que outros fatores atraíram essas indústrias para o Nordeste: a política de incentivos fiscais e a proximidade dos mercados compradores internacionais, como forma de fugir do câmbio apreciado na década de 90.
Para Lena Lavinas, professora do Instituto de Economia da UFRJ, o Nordeste sofre, de forma preocupante, com uma característica que ela identifica em toda a economia brasileira: a criação de empregos formais, principalmente em atividades de até dois salários mínimos.


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