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Projetos ameaçam ampliar rombo do INSS
Cálculos oficiais e de especialistas indicam que déficit cresceria, de imediato, entre R$ 55 bi e R$ 100 bi
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de seis anos e meio
evitando uma reforma na Previdência Social, o governo pode
ser atropelado por projetos que
ganham força no Congresso e
têm potencial de implodir as
contas públicas. Cinco propostas -todas em condições de ir à
votação ainda neste ano-
ameaçam ampliar o rombo previdenciário, de imediato, em algo entre R$ 55 bilhões e quase
R$ 100 bilhões, segundo dados
oficiais e de especialistas.
O risco despertou a preocupação do Ministério da Fazenda, que iniciou uma operação
pente-fino em todos os projetos que podem afetar a Previdência e seus estágios de tramitação. Na equipe econômica, no
entanto, não há nenhuma proposta em estudo para negociação com o Congresso.
Mesmo saídas defendidas
pelo Ministério da Previdência
Social são encaradas com cautela pela Fazenda, que vê nessas soluções uma brecha para
futuros esqueletos. Um exemplo é o chamado Fator 85/95.
A Previdência negocia esse
novo fator como forma de enterrar a ideia, já aprovada no
Senado, de acabar com o atual
fator previdenciário (ver glossário). O Fator 85/95 passaria a
ser uma opção para o trabalhador, que poderia escolher entre
o novo e o velho mecanismo.
Mas dúvidas começam a ser
levantadas na área econômica.
Como o novo fator implica melhores condições de aposentadoria, quem adquiriu o benefício antes poderia buscar judicialmente a equiparação, criando um novo esqueleto.
Cálculos elaborados pelos especialistas Marcelo Caetano
(técnico do Ipea), Marcos Mendes (consultor do Senado) e
Raul Velloso (consultor) indicam que o fim do fator previdenciário geraria gasto extra de
R$ 600 milhões para o governo
no primeiro ano. No segundo
ano, mais R$ 1,8 bilhão.
A ameaça mais imediata ao
governo é a possibilidade de o
Congresso derrubar um veto do
presidente Lula à medida provisória 288, de 2006. Isso estenderia o aumento real do salário mínimo naquele ano a todos os benefícios do INSS.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), já
confidenciou que, se o assunto
fosse a plenário hoje, o governo
seria derrotado. Pelas contas da
Fazenda, o impacto da medida
seria de R$ 35,8 bilhões com o
pagamento de atrasados. Neste
ano, o aumento da folha de pagamento do INSS seria de R$ 11
bilhões, acumulando R$ 120 bilhões em 20 anos.
O autor das propostas, senador Paulo Paim (PT-RS), tem a
promessa de que o assunto será
colocado em pauta, mas as sessões do Congresso para analisar vetos são esporádicas.
Em número de salários
Outra proposta com efeito
explosivo é a que prevê a vinculação das aposentadorias ao
número de salários mínimos à
época de sua concessão. Estimativas oficiais indicam que isso custaria R$ 76 bilhões, considerando o mínimo ainda de
R$ 415. Com o valor de R$ 465,
o custo é de R$ 85 bilhões.
Há ainda o projeto de incluir
todos os benefícios da Previdência na política de aumento
real do salário mínimo. Se for
aprovado, as despesas da Previdência crescem R$ 6,7 bilhões
no primeiro ano; no segundo,
em mais R$ 13 bilhões.
Segundo Caetano, o impacto
de todas as medidas supera a
soma dos efeitos isolados, em
alguns casos, porque as mudanças se sobrepõem. O fim do fator previdenciário, o aumento
real para todos os benefícios e a
vinculação dos benefícios ao
salário mínimo somariam R$
92,3 bilhões no primeiro ano e
R$ 104 bilhões no segundo.
Já o fim do fator, o aumento
real e a derrubada do veto totalizariam R$ 18,4 bilhões no primeiro ano e de R$ 25,7 bilhões
no segundo. Isso sem considerar o pagamento dos atrasados,
de R$ 35,8 bilhões.
(JULIANNA SOFIA e LEANDRA PERES)
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