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PETRÓLEO
A italiana Agip oferece 53.565% acima do preço mínimo por área na bacia de Santos; ANP descarta subavaliação
Monopólio cai com ágio surpreendente
ISABEL CLEMENTE
SERGIO TORRES
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Foi de 53.565% o maior ágio pago por uma das 12 áreas de exploração e produção de petróleo e gás
natural leiloadas ontem pela ANP
(Agência Nacional do Petróleo),
na primeira rodada das licitações
que decretam o fim do monopólio
da Petrobras.
Houve ágio em todas as concessões. A ANP arrecadou R$
217.852.682,00 com o leilão. Quatro áreas ficaram sem propostas, e
só três das oito áreas licitadas foram disputadas por mais de um interessado. Mas, das 38 empresas
pré-qualificadas, apenas nove respondem pelas propostas.
"O resultado foi um sucesso",
disse o diretor-geral da ANP, David Zylbersztajn. Ele negou que tenha havido uma subavaliação das
áreas. Repetidamente questionado
sobre os elevados ágios, Zylbersztajn disse que "nossa intenção não
era estampar um ágio enorme.
Preço mínimo não importa num
negócio de risco". O que importa,
disse ele, é o investimento futuro.
Zylbersztajn disse que "estão
confundindo ágios com bugalhos"
e citou o caso do bloco da bacia Potiguar, o mais barato (R$ 85 mil),
que ficou sem ofertas.
"O preço mínimo é estabelecido
por uma metodologia conhecida:
receita, despesas, mercado. É metodologia consagrada e quase nunca questionada." E completou:
"Não existe critério para estabelecer preço mínimo nessas áreas".
O trabalho de avaliação das áreas
licitadas contou com a consultoria
da Gaffney&Cline, empresa norte-americana especializada na avaliação de ativos de petróleo.
Das quatro áreas que restaram,
duas são da bacia do Paraná, cujo
banco de dados foi o mais assediado na fase de consultas. Uma delas
voltou a ser leiloada à noite, mas ficou sem ofertas.
A italiana Agip, responsável pelo
maior ágio, deu um lance de R$
134.162.101,00 pelo bloco quatro da
bacia de Santos, uma das melhores
áreas em oferta, segundo especialistas, que recebeu três propostas.
A ANP fixara o preço mínimo do
bônus de assinatura para esse bloco em R$ 250 mil, valor usado também em outras áreas. Áreas menos
promissoras tinham um preço mínimo de R$ 170 mil e R$ 85 mil.
A ANP chegou a cogitar não cobrar bônus de assinatura, disse o
superintendente de Promoção de
Licitações da agência, Ivan de
Araújo Simões Filho. O executivo
disse que a ANP estudou seguir o
exemplo de licitações de petróleo
realizadas no Reino Unido e na
Noruega, onde nada se cobra. São
oferecidos percentuais de royalties
ou cotas de perfurações.
A segunda opção da ANP seria fixar o preço mínimo conforme um
cálculo do que as empresas poderiam pagar. A idéia foi abandonada. "Não dá para imaginar o que
uma empresa pode oferecer."
Para o secretário-executivo do
IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), Álvaro Teixeira, os ágios não
estão altos se o raciocínio for inverso: "Os bônus estavam baixos".
Os demais ágios atingidos nos
leilões não chegaram perto do nível atingido pela proposta da Agip,
que derrotou a British Gas e o consórcio da britânica Amerada Hess
e da norte-americana Kerr McGee.
O preço mínimo não era o único
quesito para decidir o vencedor.
Ele pesava 85% na pontuação final.
O compromisso dos interessados
em adquirir equipamentos e serviços locais nas fases de exploração e
desenvolvimento valia 15 pontos.
Pelo resultado do leilão, pelo menos um quarto dos equipamentos
e serviços a ser contratados pelos
novos concessionários será nacional -"patamar mínimo", segundo Zylbersztajn.
Hoje, a ANP encerra a primeira
rodada de licitações, com 15 leilões
previstos, no Hotel Sheraton, no
Rio. Ontem a tarde, cerca de dez
manifestantes distribuíram nota
na porta do hotel criticando "privatização da área petrolífera".
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