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OPINIÃO ECONÔMICA
A taxa Selic vai subir novamente?
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A aceleração da inflação
nos últimos meses e a recuperação da produção industrial,
em intensidade superior à esperada, têm levado alguns analistas a
pedir uma nova rodada de aumento de juros pelo Banco Central. Embora a previsão sobre o
comportamento do IPCA neste
ano (7,5%) seja ainda inferior ao
topo da banda fixada para a meta de inflação (8%), já existe um
mal-estar no mercado financeiro
em relação ao ano de 2005.
A meta de inflação, já fixada
para o próximo ano (4,5%), é
muito apertada quando considerada a variação do IPCA esperada em 2004. Trazer uma inflação
anual de 7,5% para perto de 4,5%
-uma redução de mais de
60%- em um prazo de 12 meses,
vindo a variação do IGP-M em
2004 (de cerca de 11,5%) a corrigir
uma parcela importante dos preços, é uma tarefa quase impossível. Mas, se essa é a meta estabelecida, não sobra ao Banco Central
outro caminho a não ser aumentar os juros, esfriar a economia e
reduzir o consumo dos brasileiros.
Mas justificar a decisão de elevar os juros como resultado da
aceleração recente da inflação
não faz sentido. Os índices de preços mais recentes mostram que o
aumento da inflação ao consumidor está concentrado em itens voláteis, como energia e alimentos,
que foram pressionados por aumentos nas cotações internacionais das commodities, pela recente desvalorização do real e por
preços públicos indexados ao
IGP-M. Quando trabalhamos
com os índices de inflação sem a
influência desses itens, os chamados índices núcleos, o cenário que
se visualiza é muito claro: o choque externo de preços foi assimilado sem que houvesse o tão temido efeito secundário sobre os preços.
O gráfico nesta página apresenta a evolução do núcleo por exclusão do índice de inflação calculado pela Fipe na cidade de São
Paulo nos últimos meses. Eu prefiro seguir o chamado núcleo por
exclusão, e não modelos estatísticos mais sofisticados usados pelo
Banco Central, pela simples razão
de que esse é o índice usado nas
economias mais avançadas, há
muitos anos. Não vejo, portanto,
a necessidade de reinventar a roda para mostrar erudição estatística!
O que se vê no gráfico é um processo claro de choque externo sem
que o impacto inicial de aumento
de preços contamine, posteriormente, os preços da cesta de produtos acompanhada pela Fipe. O
gráfico mostra, claramente, que
houve um primeiro choque entre
novembro de 2003 e janeiro de
2004, seguido de outro de intensidade ainda maior nos dois meses
seguintes. A partir de março, os
efeitos desse choque foram sendo
absorvidos nos índices, com recuo
constante da taxa de inflação medida pelo núcleo por exclusão. A
primeira medida realizada pela
Fipe em julho mostra a estabilização do núcleo em níveis equivalentes a uma taxa de inflação
anual da ordem de 7,5% ao ano.
As previsões de alguns analistas
mostram que terminaremos este
ano com a inflação anualizada
do último trimestre, medida pelo
núcleo por exclusão, entre 6% e
6,5%.
Por enquanto, os efeitos de escassez de oferta de alguns produtos no mercado interno ainda
não apareceram nos radares dos
institutos que medem a inflação
no Brasil. O nervosismo -que já
se pode detectar entre alguns analistas financeiros e no segmento
mais duro do Copom- com o
aparecimento de uma inflação de
demanda é fruto apenas de modelos econométricos e expectativas. Mas o aumento da taxa Selic
já faz parte dos murmúrios que se
ouvem nas mesas de operação do
mercado financeiro no Brasil.
Será muito interessante acompanhar os efeitos políticos de uma
nova rodada de elevação dos juros às vésperas das eleições municipais de outubro próximo!
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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