São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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VIZINHOS EM CRISE

Um dia após entendimento em fogões, Brasil e Argentina concordam em

Países fecham acordo sobre geladeiras

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

CLAUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Depois de acertarem acordo na área de fogões, como a Folha antecipou, empresários e técnicos dos governos argentino e brasileiro chegaram a um entendimento para o segmento de refrigeradores ontem em Buenos Aires. O Brasil poderá exportar 36 mil unidades até setembro.
Nesse período, um grupo de trabalho vai definir qual será a cota de exportação do Brasil nos próximos meses e decidir qual o espaço que os refrigeradores brasileiros vão ocupar no mercado argentino. Atualmente a participação é de mais de 60%.
Na quarta-feira, já havia sido fechado um acordo que limita as exportações brasileiras de fogões a 90 mil unidades em 2004 e 47,5 mil no primeiro semestre de 2005, quando as indústrias voltam a se reunir para debater a questão.
Com essa cota determinada, os fabricantes de fogões brasileiros terão reduzido a sua participação de 30% para 22% nas vendas no mercado argentino, informam fontes do setor.
Ainda falta, no entanto, que os fabricantes de máquinas de lavar cheguem a um consenso. De acordo com empresários argentinos, essa é a negociação mais difícil porque as empresas brasileiras não concordam em diminuir sua participação no mercado argentino, que atualmente é de cerca de 40%, de acordo com o Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Até as 22h30 de ontem, governo e empresários ainda discutiam esse setor.
Ontem, o MDIC divulgou uma nota anunciando os dois acordos. Segundo a nota, "a negociação foi um êxito porque evitou a aplicação de medidas restritivas contra produtos brasileiros".
A Folha apurou, porém, que o Ministério da Economia da Argentina ainda pretende regulamentar a medida que prevê a aplicação de licenças não-automáticas (autorização prévia) para a importações de eletrodomésticos. A medida, publicada na semana passada, precisa de regulamentação para entrar em vigor.
De acordo com uma fonte do govenro argentino, a regulamentanção deverá estar pronta em um prazo máximo de dez dias.
As normas de contenção estão presentes numa resolução do Ministério da Economia da Argentina tornada pública na segunda-feira, no dia 5.
Mas não foram regulamentadas ainda porque o ministro de Economia argentino, Roberto Lavagna, comprometeu-se a não fazê-lo até que as partes chegassem a um acordo.
Mesmo sem a intenção de aplicar as medidas a serem regulamentadas, a Argentina quer ter uma ferramenta de proteção pronta para utilizá-la, caso julgue necessário, segundo afirmou um funcionário do governo argentino à Folha.
Os países pretendem finalizar as negociações antes de apresentar os detalhes. As duas partes ainda não avançaram com relação à tarifa de 21% sobre as importações de televisores provenientes da Zona Franca de Manaus, medida que o governo argentino também anunciou na semana passada, mas ainda não adotou.
O porta-voz da Presidência da República, André Singer, informou ontem que "o presidente Lula disse que está confiante que chegarão em breve a um bom termo". As negociações, segundo Lula, "estão se desenrolando de forma satisfatória".
Os acordos foram negociados de forma "picotada", ou seja, produto por produto, o que não agradou os representantes da indústria brasileira, segundo apurou a reportagem. O ideal, na avaliação das indústrias, seria fechar um pacote para o setor e, com isso, evitar que a negociação para o segmento de máquinas de lavar roupa acontecesse isoladamente.
Uma fonte do governo argentino disse que os setores de máquinas agrícolas, de carne de porco e de frango também estão preparando pedidos de proteção para apresentar ao governo argentinos.
Esses setores serão temas das próximas reuniões do grupo de monitoramento de comércio entre os dois países, criado em julho do ano passado a pedido da Argentina, para controlar o comércio.


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