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Brasil erra na OMC, diz conselheiro de Bush
Para Edward P. Lazear, do conselho econômico da Casa Branca, brasileiros têm mais a perder se não abrirem comércio
Ele considera ampla a proposta agrícola dos EUA para Doha e diz que o "resto do mundo deveria enxergar" isso como os americanos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os impasses da chamada Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio) deveriam ser superados porque
são ruins para todos os lados
envolvidos. "Para ser honesto,
são piores para vocês do que
para nós, porque nós já somos
uma economia grandemente
aberta, já gozamos dos benefícios do livre comércio."
"Nós" são os Estados Unidos.
"Vocês" é o Brasil. O autor do
pensamento e da frase acima,
dita em entrevista à Folha, é
Edward P. Lazear, chefe do
Council of Economic Advisers
(CEA) da Casa Branca, que despacha com George W. Bush algumas vezes por mês sobre assuntos como a alta da inflação,
o comércio exterior, a moeda
chinesa e, é claro, as negociações econômicas em curso com
o Brasil. Ele falou por telefone.
FOLHA - Entre os países do chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China),
o primeiro é o que tem tido pior desempenho nos índices de crescimento. Por que, em sua opinião?
LAZEAR - Hesito em comentar
as políticas econômicas de outros países, mas me deixe perverter um pouco sua pergunta e
lhe dizer o que deu certo para
nós. Se concluir que isso seria
uma boa política para o Brasil,
será sua conclusão. Nossas
ações mais importantes foram
os grandes níveis de investimento em recursos humanos,
as baixas taxas de juro, um mercado de trabalho livre e flexível
e um comércio exterior aberto.
Se você olhar para as barreiras
que os EUA impõem em suas
exportações, não somos uma
economia completamente
aberta, concordo, mas somos
mais abertos que qualquer outro país do mundo. Essa é a fórmula do sucesso. Deu certo não
só nos EUA, mas na China e na
Índia. Há algo a se aprender aí.
FOLHA - Um ponto de discórdia entre nossos países é a Rodada Doha.
Como sair do impasse?
LAZEAR - Espero que os países
possam superar esse impasse,
que é ruim para os dois lados e,
para ser honesto, pior para vocês do que para nós, porque nós
já somos uma economia aberta,
já gozamos dos benefícios do livre comércio. Os países que estão bloqueando acesso ao mercado mundial estão fazendo
mal a eles próprios a longo prazo e provavelmente a curto prazo também. Mas espero que ultrapassemos as dificuldades.
Ainda não perdi a esperança.
FOLHA - Um dos problemas apontados pelo Brasil nas discussões é a
agricultura altamente subsidiada
americana. Estar disposto a negociar esse ponto não seria um modo
de os EUA avançarem as conversas?
LAZEAR - Nós já fizemos uma
proposta bastante ampla em
relação à agricultura, para eliminar uma parte muito grande
de nossos subsídios. Dado que
já somos uma economia bastante aberta, achamos que essa
oferta deveria ser aceita e que o
resto do mundo deveria enxergar como nós. Até agora isso
não aconteceu, mas acho que é
um erro, não tanto em termos
de prejudicar os EUA mas de
prejudicar seu próprio país. Isso seria algo que eu levaria em
conta se estivesse aconselhando o governo de seu país. Mas
não quero pensar pelos negociadores brasileiros, sei que
eles vão querer o que seja melhor para o Brasil. Só espero
que eles vejam as coisas como
nós vemos.
FOLHA - Lawrence Summers, que
acaba de deixar seu posto de reitor
de Harvard, tem dito que é uma
aberração que países pobres ou em
desenvolvimento como o Brasil invistam em títulos do tesouro americano em vez de investir em sua própria infra-estrutura. O sr. concorda?
LAZEAR - É uma opinião interessante, com a qual eu concordo em parte. É mesmo estranho quando países pobres estejam emprestando dinheiro a
países ricos. O caso mais óbvio
é na verdade entre a China e os
EUA. É um país em que o PIB
per capita é uma fração do nosso, e eles estão nos emprestando 200 e poucos bilhões de dólares por ano. Você pode dizer
que estão cometendo um erro.
Bom, se você olha para os índices chineses -e eu prefiro usar
China em vez de Brasil-, eles
têm uma poupança de 22% do
PIB, mas também estão investindo na própria China a uma
taxa de 45% do PIB. Então, não
é que eles não estejam investindo em seu próprio país; estão, a
taxas muito altas, mas é porque
a poupança deles é tão grande
que eles ainda têm um superávit de cerca de 7% do PIB, que
pode ser investido no resto do
mundo. Mas é estranho, eu
concordo com Larry.
FOLHA - O sr. é o principal conselheiro econômico de um presidente
que não tem fama de ouvir opiniões
diferentes das que ele já tem. Quão
difícil é seu trabalho?
LAZEAR - O que mais me surpreendeu é que o presidente
não só é muito envolvido ativamente nas questões econômicas como é atento aos detalhes.
Ele não só entende as questões
de uma maneira ampla como os
CEOs mas também os detalhes
com uma profundidade de conhecimento que eu sinceramente não esperava.
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