São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2007

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País tem trava para expansão do crédito

Inexistente no Brasil, mercado subprime causa preocupação nos EUA, mas permite aumento nos empréstimos

Mercados mais maduros atuam na gestão do crédito de risco, que oferece maior retorno tanto para bancos como para investidores

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mantido o atual cenário de crescimento de 20% ao ano, o volume de crédito brasileiro poderá duplicar até 2011 e atingir R$ 1,5 trilhão. Hoje em R$ 786 bilhões, o mercado brasileiro carece de instrumentos sofisticados de análise e de gestão de risco capazes de permitir essa expansão do crédito em meio a um ambiente de juro baixo e de alta competição.
Hoje, a gestão brasileira de financiamentos se divide em dois momentos: antes de conceder um empréstimo -com a consulta a serviço de proteção ao crédito e análise da capacidade de pagamento- e depois, a retomada do dinheiro, em caso de inadimplência.
Os mercados mais maduros -e competitivos- atuam ainda em um momento intermediário: a gestão do crédito de risco, que oferece maior retorno tanto para bancos como para investidores. É ela que faz os bancos manterem margens de lucro altas mesmo com juros "civilizados", entre 4,5% e 6% ao ano. Permite ainda o estabelecimento de preços aos papéis dessas dívidas, que mais tarde são negociados no mercado secundário de títulos, trazendo liquidez e recursos para fomentar novos empréstimos.
Conhecido como crédito subprime (literalmente, aquele que não é de primeira linha), os empréstimos imobiliários que flertam com a inadimplência são hoje a principal fonte de preocupação do mercado americano, após dois fundos do Bear Stearns quase quebrarem por conta da má avaliação de risco -ou seja: compraram papéis com preços bastante superiores ao que o mercado aceita hoje pagar. São subprime desde as hipotecas de pagadores impontuais ou endividados até as famílias de imigrantes sem histórico de pagamento nos EUA.
Segundo Cláudio Pasqualin, diretor de Operações da Experian, empresa que comprou a Serasa, o segmento que mais se aproxima do subprime no Brasil seria o crédito para trabalhadores informais. Sem comprovação de renda, mas com capacidade de pagamento, profissionais informais e autônomos acabam tendo de se submeter a juros altos e prazos curtos.
O mercado prevê um avanço importante com a criação do chamado birô positivo, que mostrará o nível de endividamento e hábitos de pagamento dos tomadores. A expectativa é aprovar no Congresso o projeto ainda em 2007.
Nos EUA, a Experian criou uma ferramenta chamada ScoreRight, em que o próprio consumidor preenche seus dados e obtém uma espécie de rating [nota] que possibilita conseguir juro mais baixo. O serviço permite ao cliente saber quais atributos deve ter para ganhar uma melhor condição de crédito. "Hoje, ninguém quer ter o nome na Serasa. Com o cadastro positivo, todos vão querer ter", disse Gilberto Vasconcelos, presidente da Experian.
Para o consultor Adriano Blatt, o mercado de crédito brasileiro está cada vez mais sofisticado em suas análises. "Os bancos estão mais preparados do que as empresas. A tendência é usar sistemas automatizados. Senão, começa a escapar o líquido entre os dedos", disse.
José Pereira Gonçalves, superintendente técnico da Abecip (associação de crédito imobiliário), diz que as operações de adiantamento de recebíveis do setor imobiliário serão importantes para captar mais recursos para financiamento. Ele vê o juro baixo da poupança como teto para a expansão do financiamento imobiliário no Brasil. "Para oferecer juro abaixo de 8%, a captação terá de ser feita fora da poupança. Uma opção é a captação externa."


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