São Paulo, quinta-feira, 16 de julho de 2009

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Principal assessor de Lina assume Receita

Para conter "rebelião" no fisco, Mantega nomeia como interino Otacílio Dantas Cartaxo, que contestou demissão de secretária

Nome preferido por ministro era o do presidente do INSS; ministro justifica demissão como forma de "aperfeiçoar" a gestão da Receita Federal

Valter Campanato - 12.dez.08/ABr
Otacílio Dantas Cartaxo, secretário interino da Receita

SHEILA D'AMORIM
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na tentativa de conter a disputa de poder que tomou conta da Receita Federal e minimizar o desgaste que sofreu dentro do governo, o ministro Guido Mantega (Fazenda) nomeou ontem Otacílio Dantas Cartaxo como secretário interino.
Braço direito de Lina Maria Vieira, demitida da chefia da Receita, Cartaxo é o primeiro da lista de 25 nomes -entre superintendentes, coordenadores e assessores diretos do órgão- que assinaram um manifesto de apoio à ex-secretária e com críticas à sua saída. No texto entregue à própria Lina e a Mantega, os técnicos elogiam a liderança da ex-secretária e afirmam que sua demissão "perturba" o clima e "traz graves prejuízos" à secretaria.
Cartaxo foi uma escolha para tentar conter a rebelião que se iniciou com a notícia da demissão de Lina. Claramente dividida entre o grupo que apoia a ex-secretária e o que ainda se ressente da saída de Jorge Rachid (antecessor de Lina no cargo), a Receita foi palco de articulações de ambos os lados para a escolha do novo secretário.
Na segunda-feira, pelo menos sete superintendentes ameaçaram deixar o cargo caso Mantega nomeasse pessoas identificadas politicamente com o grupo de Rachid. Inicialmente disposto a mudar toda a estrutura da Receita, Mantega teve que ceder. Com a Receita no centro dos debates da CPI da Petrobras, instalada nesta semana, o ministro e sua equipe avaliaram que não poderiam correr o risco de perder o controle da secretaria.
Ao assumir o comando da Receita, Lina trocou toda a cúpula do órgão e se cercou de pessoas da sua confiança. A avaliação de pessoas próximas é que a secretária partiu em voo próprio, e Mantega e o secretário-executivo, Nelson Machado, encarregado de supervisionar o trabalho da Receita, perderam influência sobre ela.
Recentemente, Lina deixou Machado falando sozinho e se retirou de uma reunião em que o secretário conversava com a equipe dela. O grande desgaste da secretária ocorreu em maio, quando bateu de frente com a Petrobras por causa de uma compensação de tributos que os fiscais consideraram irregular. A reação da Receita deu munição aos defensores da CPI, instalada depois no Senado para investigar a estatal.

Grandes empresas
Mas esse não foi o único problema. Segundo a Folha apurou, pelo menos três grandes empresas teriam feito chegar reclamações contra Lina no Palácio do Planalto por fiscalizações. Em entrevistas, ela dizia que seu alvo seriam grandes sonegadores. Os bancos também não andavam nada satisfeitos com a ex-secretária. No final de maio, ela ordenou uma ofensiva sobre o setor para retomar uma cobrança de tributos questionados na Justiça estimada em R$ 20 bilhões.
Ontem, Lina esteve com Mantega pela manhã. Antes, ela havia pedido aos técnicos da sua confiança que não abandonassem o barco. Pouco antes do almoço, o ministro convocou os superintendentes para comunicar que Cartaxo assumiria interinamente. Estava selada a trégua. No texto para comunicar a saída de Lina, Mantega elogiou sua atuação e justificou a troca como forma de "aperfeiçoar" a gestão.
O preferido do ministro para assumir o cargo era o presidente do INSS, Valdir Simão. Também estava na lista o próprio Nelson Machado. Ele, aliás, foi um dos padrinhos da nomeação de Lina. No entanto, segundo a Folha apurou, estaria arrependido da indicação.


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