|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Autonomia risonha
e franca
Está tudo muito bom, está
tudo muito bem. A indicação
do novo reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro) pelo ministro da
Educação -escolhendo o terceiro colocado nas eleições internas- virou questão estadual. Professores, alunos e
funcionários da universidade
aliaram-se a políticos e às forças vivas do Estado, para um
brado em defesa cívica da autonomia da instituição.
A UFRJ quer pegar o freio
nos dentes. Mas o que oferece
como contrapartida aos contribuintes? O que entende por
autonomia universitária passa, por acaso, pela prestação
de contas, sobre o que é feito
com o dinheiro dos impostos
que anualmente vai para seu
caixa?
O mínimo que se esperaria
de quem pretende a autonomia absoluta é um contrato
firmado com a sociedade, com
metas explícitas de melhoria
da produção acadêmica, de
reestruturação organizacional, de fim da estrutura departamentalizada, de obtenção de patentes, de demissão
dos funcionários e professores
relapsos, de implantação de
critérios de mérito, em troca
dessa autonomia sem risco.
Regras do jogo
Se foi boa escolha ou não do
ministro, se ele foi politicamente inábil ou não na indicação do novo reitor, não é o cerne do problema. A questão é
que a lei que autoriza o ministro a indicar os reitores das
universidades, a partir de uma
lista tríplice, é a única ingerência externa nos destinos da
universidade por parte do seu
provedor: a União.
Essa lei tem uma razão de ser.
A autonomia absoluta -ainda
mais com recursos públicos-
é uma excrescência, assim como é uma excrescência qualquer forma de controle absoluto da universidade pelo Estado.
Por isso firmou-se um pacto
de equilíbrio de forças, registrado com firma reconhecida
na Constituição Federal, pelo
qual a universidade seleciona
três candidatos e o MEC indica
um deles para reitor. Nem o
MEC fica com poderes absolutos sobre a universidade nem a
universidade fica com a autonomia absoluta.
Caso assuma a reitoria, o
professos Aluizio Teixeira
-primeiro colocado na consulta para reitor- vai se dispor a enquadrar os departamentos em que não se cumpre
o regime de dedicação integral?
Ou exigir aumento de produtividade dos funcionários, mesmo sabendo que o sindicato da
categoria foi decisivo para sua
eleição? O mesmo vale para o
reitor Vilhena, indicado pelo
MEC.
Esse democratismo, de permitir até a funcionários escolher o reitor, é uma distorção
enorme. A democracia é fundamental como expressão da
vontade dos cidadãos. Ocorre
que uma universidade não é
um país, nem seus funcionários, representantes dos cidadãos -mas seus servidores. A
democracia interna garante os
direitos da maioria da corporação, não os direitos dos cidadãos que financiam a universidade com seus impostos. O reitor passa a prestar contas de
seus atos a seus eleitores, não
aos cidadãos.
Há que se ter um poder externo -um executivo indicado,
senão pelo MEC, pelo menos
por um conjunto relevante de
representantes de organização
extra-universidade-, que assegure o cumprimento das metas acordadas com a sociedade.
O nome do reitor pouco importa, assim como a indicação.
O relevante é que a universidade pública não é uma ilha. Mais
importante que o nome, é se
firmarem compromissos explícitos com metas de qualidade, de produtividade, e com a
produção de tecnologia.
Indicadores
A UFRJ é uma instituição
com bons indicadores, perto
da média nacional. Tem um
orçamento de R$ 516 milhões
-1,5 vez o da Unicamp. Dos
3.165 docentes, 50,6% têm título de doutor e 34,4%, de
mestre. A relação professor/aluno é de 10,6, pouco acima
da média nacional, embora
inferior aos padrões internacionais.
Tem 82 cursos de mestrado
e de doutorado, a maioria dos
quais com conceito A e B da
Capes.
Internet e governo
O site do MEC e da Capes
não possui um indicador sequer que possa ser consultado
pelo público, comparando a
produtividade das universidades federais.
E-mail: lnassif@uol.com.br
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|