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LUÍS NASSIF
Os incendiários e a crise
Há uma certa confusão nessa história do papel dos
presidenciáveis na administração da atual crise cambial.
O que se argumenta é que, como foi Fernando Henrique Cardoso quem colocou o país nesse
alçapão, não se poderia sonegar
dos presidenciáveis o direito legítimo de recorrer a qualquer
retórica para se eleger.
Não pode ser assim. Equivale
a absolver o sujeito que riscou
conscientemente o fósforo em
uma poça de gasolina porque o
responsável pelo vazamento foi
outro.
Peraí! Independentemente de
Fernando Henrique Cardoso,
tem de haver um compromisso
claro dos candidatos com o futuro do país. Caso contrário, se
estimularão iniciativas temerárias, de algum voluntarista
inescrupuloso botar fogo na gasolina agora, simplesmente para não correr o risco de a gasolina inflamar no seu governo. É
isso o que se quer para o país?
Vamos tentar definir responsabilidades. A culpa pela atual
situação é do governo FHC. Ciro Gomes deu sua contribuição,
ao defender com unhas e dentes
a irresponsabilidade dos economistas do Real de apreciar o
câmbio e de abrir indiscriminadamente a economia. Não foi
capaz sequer de defender os interesses nacionais na negociação do acordo automotivo com
a Argentina, na sua curta gestão à frente do Ministério da
Fazenda. Mais: quando, internamente na equipe de transição, José Serra e Pérsio Arida
começaram a articular a alteração do câmbio, em dezembro de
1994, Ciro encetou campanha
nacional tentando estigmatizar
qualquer mudança. Dizia que
os defensores da mudança cambial eram inimigos da pátria, e
do Real, e só ele seria a garantia
de manutenção do plano.
No entanto sua responsabilidade cessa em 31 de dezembro
de 1994. A partir daí é inteiramente da responsabilidade do
governo FHC, do ministro da
Fazenda, Pedro Malan, e dos
sucessivos presidentes do Banco
Central, após a saída de Arida,
a fragilização da economia.
Só que hoje a manutenção
dessa estabilidade depende,
mais do que qualquer coisa, da
palavra dos presidenciáveis, especialmente daqueles com
chances reais de vitória em outubro. Portanto eles são co-responsáveis, sim, pela estabilidade, e poderão arcar com a culpa
da desestabilização se tentarem
apostar no pior.
Responsabilidade
Os rompantes de Ciro Gomes
nada agregam de positivo ao
país, apenas à sua campanha.
Usar de retórica inflamada contra o tal "mercado", em plena
campanha, não tem a menor
utilidade para o país, sequer para a sua gestão. Se eleito, na hora em que sentar na cadeira de
presidente, vai ter de informar,
primeiro, onde conseguirá os
dólares que substituam a ajuda
do FMI (Fundo Monetário Internacional), e como conseguirá
evitar uma explosão partindo
para o pau com o mercado, sem
uma estratégia clara e antecipada de equacionamento das dívidas interna e externa.
A retórica inflamada só tem
duas consequências -nenhuma delas positiva para o país. A
primeira, eleitoral, com aquela
massa de eleitores que confundem voluntarismo com coragem, e adjetivação com conhecimento. A segunda, a de antecipar o estouro da boiada, para
não correr o risco de que o rebanho estoure após a posse.
É importante que os presidenciáveis tenham a consciência de
que, se se comportarem com responsabilidade, mesmo na eventualidade de um estouro da
boiada depois da posse, a responsabilidade será exclusivamente de Fernando Henrique
Cardoso. Se quiserem colocar
fogo no circo, terão de conviver
não só com uma economia desorganizada mas também -e
para sempre- com a pecha de
incendiários.
"Call center"
O crescimento do número de
funcionários da Embratel, de
8.000 para 12 mil, se explica pela
criação de um "call center" como subsidiária integral. No caso de outras empresas, o "call
center" foi criado como empresa
independente, razão de não ter
impactado nos dados sobre o
número de funcionários.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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