São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Com recolhimento de R$ 10,8 bilhões, bancos devem cobrar taxas mais altas dos clientes em suas operações

Compulsório maior deve elevar os juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação das alíquotas do recolhimento compulsório sobre os depósitos à vista e a prazo e sobre a poupança, anunciados anteontem pelo Banco Central, deve resultar em aumento de juros para os consumidores cobrados nas operações bancárias.
"O aumento [do compulsório" representa mais custos para o sistema bancário. Alguma coisa acaba sendo repassada para os preços", disse o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Roberto Troster.
Ao todo o BC vai recolher dos bancos R$ 10,8 bilhões, dinheiro que ficará retido numa conta da instituição e que será remunerado pela taxa básica de juros da economia (que atualmente está em 18% ao ano).
O diretor do Itaú e ex-diretor do Banco Central Sérgio Werlang também diz acreditar que haverá pressão sobre as taxas de juros como reflexo da medida.
"Potencialmente, como a quantidade de recursos nas mãos dos bancos vai diminuir, acaba havendo algum efeito [de alta" sobre os juros para o consumidor final", afirma Werlang.
O argumento dos bancos é que, como haverá menos dinheiro para ser emprestado, o custo do crédito aumentará.
De acordo com Troster, o total de recursos recolhido como compulsório ao BC é de R$ 74,8 bilhões. Com mais R$ 10,8 bilhões, sobe para R$ 85,6 bilhões. A autoridade monetária adotou a medida para levantar recursos para recomprar R$ 11 bilhões de títulos públicos federais.
Já para Alcindo Ferreira, ex-diretor do BC, as instituições financeiras não encontrarão espaço para passar a cobrar taxas mais altas em suas operações de crédito. "Não há apetite para crédito no mercado. Isso segurará as taxas onde estão", diz Ferreira.
O economista-chefe do banco Inter American Express, Marcelo Allain, tem a mesma opinião. "Os juros já estão muito altos, não há espaço para aumentarem nesse momento, mesmo com as últimas medidas", afirma o economista.
Uma crítica que analistas fazem à elevação do compulsório é que a medida pode afetar as perspectivas de crescimento da economia. Se os custos dos empréstimos aumentam, a tendência é haver queda nos investimentos.
"Esperávamos é que houvesse diminuição do compulsório no segundo semestre, como forma de melhorar o crédito que já estava bastante ruim", diz Fernando Coelho, da ABM Consulting.


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