|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EM TRANSE
BC tenta hoje trocar dívida que vence entre 2004 e 2006 por papéis que vencem em 2003 para conter crise nos fundos
Próximo governo começa com dívida maior
LEONARDO SOUZA
MARIANA MAINENTI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central tenta hoje trocar R$ 13 bilhões de sua dívida de
prazo mais longo, que vence entre
2004 e 2006, por títulos (LFTs, certificados de dívida pública) que
vencem até junho do ano que
vem. Se a troca tiver sucesso, o
próximo presidente terá de administrar o vencimento de uma dívida de R$ 112,283 bilhões no primeiro semestre do ano que vem
em vez dos R$ 99,283 bilhões previstos até agora.
Além da troca, o BC informou
que 20% dos novos títulos que forem adquiridos (R$ 2,6 bilhões, se
todo o lote for leiloado) poderão
ser revendidos à instituição em
dezembro deste ano se os compradores assim o desejarem. Na
prática, o vencimento dessa parcela será em dezembro deste ano,
podendo ser renovada por mais alguns meses.
Concentração
As LFTs são os títulos federais
de maior participação na dívida
interna e os que mais se depreciaram nas últimas semanas, o que
gerou perdas para os fundos de
investimento e influenciou os resgates por parte dos cotistas.
Pela posição de maio deste ano,
o total de LFTs que vencia no último trimestre deste ano era de R$
2,051 bilhões. Pela posição de junho, os vencimentos desses papéis no último trimestre já estavam em R$ 24,647 bilhões. Ou seja, a concentração desses títulos
nos últimos três meses do ano aumentou em mais de 12 vezes.
Pela posição de março, venciam
R$ 17,251 bilhões em títulos públicos no primeiro trimestre de
2003. Pela posição de maio, o total
de vencimentos caiu para R$
16,254 bilhões. Mas os de junho
subiram para R$ 25,691 bilhões.
Foi exatamente no final de maio
que o BC antecipou a decisão de
que os títulos públicos teriam de
ser registrados nas carteiras dos
fundos pelo seu valor de mercado,
e não mais pelo preço de aquisição. Como esses papéis haviam
perdido valor nas semanas anteriores à marcação a mercado, os
fundos apresentaram perdas, o
que levou muitos cotistas a resgatar seus investimentos.
Para cobrir os saques, os gestores dos fundos tiveram de vender
as LFTs, o que derrubou ainda
mais o valor dos papéis.
Diante da resistência dos investidores em comprar títulos de
longo prazo, o BC decidiu oferecer ao mercado papéis de vencimento mais curto. É o que o diretor de Política Monetária do BC,
Luiz Fernando Figueiredo, chama
de "encurtamento tático" -uma
redução no prazo da dívida pública para que a rolagem dos títulos
não seja prejudicada.
A medida serve, principalmente, para atender a pedidos de administradoras de fundos de investimento. Anteontem, o BC e a Comissão de Valores Mobiliários
suavizaram as regras que obrigam
os fundos a contabilizar seus papéis pelo seu valor de mercado.
Com a mudança, títulos de curto prazo -como os que serão
ofertados hoje- não precisam
mais ser avaliados pelo valor de
mercado. Podem ser marcados
pelo seu preço de aquisição, que
não está sujeito às turbulências do
mercado.
Mais encurtamento
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional Rubens Sardenberg
disse ontem à Folha que pretende
vender neste mês um total de R$
2,5 bilhões a R$ 3 bilhões em títulos públicos com vencimento em
outubro próximo. Desse total, R$
1 bilhão já foi leiloado. Restam,
portanto, entre R$ 1,5 bilhão e R$
2 bilhões para vender.
O diretor da Mercatto Gestão de
Recursos, Régis Abreu, diz que a procura maior por títulos de curto prazo vai partir dos bancos de varejo. "Os gestores de grandes bancos vão querer papéis de curto prazo para diminuir a volatilidade dos fundos, pois o cliente deles
não gosta de volatilidade (variação continuamente irregular do
valor das cotas dos fundos). Grandes clientes estão acostumados ao
risco e suportam melhor papéis de prazo longo, mesmo marcados
a mercado", diz.
Alexandre Záquia, diretor do Itaú, diz que a demanda maior será por títulos de prazo "o mais curto possível". "Com o dinheiro dos leilões de recompra do BC, a
tendência dos gestores é comprar ativos com vencimento até o fim
do ano e ir para o "overnight" [vencimento de um dia para o outro] mesmo", diz. Segundo Záquia, os saques no Itaú foram de quase 10% do valor do patrimônio. "É muito, mas abaixo da evasão do mercado, que ficou em 14%", disse.
Texto Anterior: BC faz enquete sobre a volta das linhas de crédito Próximo Texto: Mudança não recupera fundos já Índice
|