São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENERGIA

BNDES só liberará empréstimo de R$ 6,3 bilhões às empresas após reclassificação dos consumidores de baixa renda

Repasse a distribuidoras depende de acordo

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Enquanto não sair um acordo sobre a reclassificação dos consumidores de baixa renda, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não poderá liberar os empréstimos, no valor de R$ 6,3 bilhões, às distribuidoras de energia. O objetivo dos financiamentos é compensá-las pelas perdas com o apagão.
O diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), José Mário Abdo, afirmou que só serão homologados os contratos assinados entre o governo e as empresas no chamado Acordo Geral do Setor Elétrico, que prevê o financiamento do BNDES, quando for solucionado o problema dos consumidores de baixa renda.
Pelo acordo, que para vigorar depende da homologação da Aneel, as distribuidoras se comprometeram a não entrar na Justiça contra o governo por causa dos prejuízos com o racionamento. Em troca, receberão os empréstimos.

Batalha
A Aneel e a Abradee (entidade que representa as distribuidoras) estão batalhando desde maio, quando foi regulamentada a lei nš 10.438, que aumentou o total de beneficiados pela tarifa especial à clientela de baixa renda. A agência calcula que o número de usuários incluídos na categoria dobrou no país: de 8 milhões para 16 milhões.
Os consumidores que gastam menos de 80 kWh por mês passaram a ter direito ao benefício, o que, segundo a Aneel, pode originar redução de até 60% na conta.
O benefício, porém, ainda não saiu do papel, pois a Abradee obteve liminar na Justiça impedindo a reclassificação dos clientes de gasto menor. Antes da lei, cada concessionária adotava critérios diversos para qualificá-los, que incluíam, além do consumo, as condições socioeconômicas do usuário.
Segundo Abdo, a Aneel ainda não homologou porque não há concordância sobre o subsídio à baixa renda. Segundo ele, a solução mais provável, com boa aceitação pelo governo, é a criação de um fundo para compensar os prejuízos causados pelo maior número de clientes beneficiados. A Aneel e a Abradee projetam que as distribuidoras podem perder até R$ 300 milhões por ano.
Os recursos para compor o fundo viriam da RGR (Reserva Geral de Reversão), uma taxa paga pelos consumidores e usada pela Eletrobrás para programas de eletrificação rural e iluminação pública, entre outros. O dinheiro a ser repassado às distribuidoras, diz Abdo, não será a fundo perdido, mas em forma de empréstimo. Ele não detalhou as condições do financiamento.
Para compensar as perdas do setor com a expansão da baixa renda, Abdo descartou um reajuste tarifário.
Do dinheiro do BNDES, as empresas só receberam no começo do ano uma pequena parcela, liberada em caráter emergencial antes da assinatura do acordo. Foi emprestado R$ 1,2 bilhão dos R$ 7,5 bilhões previstos. Faltam R$ 6,3 bilhões. Os recursos funcionam como antecipação do que as empresas faturarão com os aumentos especiais de tarifas concedidos pelo governo.


Texto Anterior: Mercado financeiro: Bolsa cai mais 1,7%; bancos mantêm baixa
Próximo Texto: Aneel leiloa oito linhas de transmissão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.