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LUÍS NASSIF
Para mudar a economia
Segunda-feira poderá ser
uma data histórica para o
futuro do país e, especialmente,
das ciências econômicas nacionais. Será oficialmente lançada
na Bovespa a Faculdade de Economia da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo. Sua principal missão será tentar inverter
a rotunda mediocridade que
marcou o debate econômico
brasileiro nas duas últimas décadas, especialmente na última.
Nesse período, consolidou-se
um tipo de pensamento econômico falsamente complexo e intrinsecamente superficial, no
qual modelos econométricos desenvolvidos no exterior passaram a ser utilizados mecanicamente, acriticamente, descosturados da realidade nacional,
sem nenhuma sofisticação de
análise, sem conhecimento básico das condições jurídicas, políticas, sociais e empresariais do
país.
Esse tipo de pensamento simplista levou a discussão econômica nacional a um grau de
alienação e a erros de diagnóstico que tiraram o país da rota de
crescimento que havia sido sua
marca desde o começo do século.
Até então, os economistas brasileiros, especialmente no pós-guerra, caracterizavam-se por
uma formação intelectual ampla e eclética e pela capacidade
de utilizar a teoria como ferramenta para a solução prática
dos problemas de desenvolvimento.
Especialmente nos anos 90 desenvolveu-se um modelo importado, cuja complexidade em
muito se assemelhava ao do rococó, quando o movimento barroco se esgotou. A criatividade e
a inventividade foram substituídas por complexidades vazias,
que, longe de permitir interpretar adequadamente o país, serviram apenas para jogá-lo em
uma sucessão interminável de
crises. Criaram-se teorias auto-referenciadas, estáticas, sem o
cuidado da comprovação empírica, que produziram desastres
os quais comprometeram o
bem-estar de toda uma nação.
Hoje em dia em decadência, a
figura do "economista de planilha" tornou-se referência de opinião na economia, mediocrizando o debate econômico e tornando o país refém de padrões
de análise que seriam risíveis se
não fossem suas consequências
trágicas.
Muito se criticou o jornalismo
financeiro, que acabou se submetendo ao primarismo dos
bordões brandidos pelos cabeças
de planilha. Mas, por trás desse
modelo de jornalismo acrítico,
havia a ausência de um centro
de pensamento alternativo, que
consolidasse uma visão mais
crítica e abrangente do processo
econômico. Sem esse centro de
irradiação, as opiniões dos economistas mais consistentes -e
existem vários- se perdiam, sufocados pelo alarido, pelo coral
de declarações repetidas, repetidas e repetidas na mídia, mesmo sendo desmentidas diariamente pelos fatos.
A nova faculdade surge com
uma proposta inovadora de ensino. A formação dos alunos se
dará na prática, intrinsecamente ligada aos setores produtivos,
conhecendo suas particularidades, suas limitações e potencialidades, submetendo as novas
teorias econômicas ao teste da
realidade, ao desafio da solução
de problemas concretos do país,
incorporando ao conhecimento
econômico a formação jurídica,
política e setorial, imprescindíveis para montar modelos econômicos que vão além das planilhas.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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