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São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

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Sindicatos e indústria fazem ressalvas à medida

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Força Sindical querem que o empréstimo bancário com desconto em folha seja negociado pelos sindicatos ou passe pela sua supervisão.
Os presidentes das entidades tiveram acesso a versões preliminares da medida. "O texto tem contradições: estabelece negociação com os sindicatos e, em outro momento, só com o empregado", afirmou Luiz Marinho, da CUT.
"Isso está confuso na medida", concordou Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, da Força Sindical.
Para Marinho, os sindicatos podem conseguir para os trabalhadores as vantagens que atualmente só as empresas conseguem. "Hoje as empresas têm benefícios pelo volume de empregados que negociam para recebimento do salário por determinado banco."
Paulinho disse que o novo empréstimo será um sucesso porque terá juros mais baixos e facilidade de acesso. "Vai livrar o trabalhador do agiota na porta da fábrica."
Roberto Faldini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (indústrias de SP), disse que governo e empresários não poderiam ""induzir" os trabalhadores a tomar crédito se o programa não resultar em redução drástica nos juros dos financiamentos. ""Se por essa fórmula, de desconto em folha, conseguirmos uma taxa de juros de 0,90%, 1%, como de financiamento de veículos, tudo bem. Mas levar as pessoas a se endividar a taxas de juros de 3%, 4% ao mês será um desserviço, uma irresponsabilidade."
A assessoria da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) informou que a entidade só vai comentar as regras sobre os novos empréstimos quando elas forem anunciadas pelo governo.

Estrutura
Mesmo que decidam oferecer o novo tipo de empréstimo, os bancos terão que montar uma estrutura para fazê-lo, criando sistemas para formalizar os contratos com empresas e trabalhadores, estimando as diferentes taxas de juros de cada modalidade de empréstimo e treinando pessoal.
Montar todo o esquema leva tempo e, ainda que a regulamentação saia na próxima semana, é provável que demore para que os trabalhadores possam usar o contracheque para garantir dívidas.
Alguns bancos privados já têm modalidade de empréstimos parecida. O Itaú, por exemplo, herdou do Banestado, banco que comprou em 2001, uma enorme carteira de empréstimos para funcionários públicos. São empréstimos com taxas de juros mais baixas, com desconto direto na folha de pagamento dos servidores.
O banco criou uma diretoria especial só para cuidar do setor público. A intenção era estender a modalidade. Mas o projeto não progrediu. Mesmo sendo um esquema seguro e rentável, a diretoria do banco avaliou que seria um problema formar uma "casta" de clientes que, ainda que com a mesma renda dos demais, fosse tratada de forma diferente.


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