São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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FINTA NA ALCA

Indústrias brasileiras abrem unidades em outros países do continente para contornar restrições comerciais

Empresas driblam protecionismo americano

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO

Em busca da abertura de novos mercados, e com o objetivo de driblar as restrições impostas por outros países para a entrada de seus produtos, empresas brasileiras optam por abrir unidades em nações como Estados Unidos, México, Canadá e Argentina.
Empresas siderúrgicas, como a Gerdau, e de suco de laranja, como a Cutrale e a Citrosuco, cuja produção esbarra em taxas e tarifas elevadas para entrar no mercado americano, investiram na construção de unidades nos EUA e no vizinho México.
A Gerdau planeja fechar 2004 com investimentos de US$ 80 milhões distribuídos na América do Norte, Argentina, Chile e Uruguai. Entre 1995 e 2003, a companhia investiu US$ 1 bilhão para a aquisição e modernização das empresas Co-Steel e da AmeriSteel, que estão localizadas na América do Norte.
A Weg, fabricante de motores e geradores, prepara-se para inaugurar nova unidade em solo mexicano neste mês, na qual investiu US$ 15 milhões. O faturamento da primeira unidade alcançou US$ 34,5 milhões em 2003 -sendo 4% em exportações para os EUA.
Outro caso é o da Marcopolo, fabricante de caminhões e ônibus, que começou com a instalação de uma montadora no México, cujo imposto de importação de produtos desmontados é zero. "A nossa opção de crescimento foi via internacionalização", diz Carlos Zignani, diretor de Relações com o Investidor da empresa.
A montadora possui projetos em fase de estudo para a entrada no mercado de ônibus dos EUA em 2005, ano previsto para a implementação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
O investimento no México se justifica pois, por ser membro do Nafta (sigla em inglês para Acordo de Livre Comércio da América do Norte), o país é uma via de acesso natural para os EUA.

Investimento restrito
Para Antonio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), a internacionalização das empresas brasileiras ainda está restrita a um número pequeno de companhias.
"Ainda não se criou essa cultura. Muitos pensam que um país como o Brasil não pode ser exportador de capital", argumenta.
O investimento produtivo além das fronteiras brasileiras não é incompatível com a preocupação do governo brasileiro com a geração de empregos no país, na avaliação de Michel Alaby, do Conselho de Estudos Econômicos da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo).
Segundo ele, o aumento de empresas brasileiras instaladas no exterior contribuirá para uma elevação da demanda de peças e outros insumos produzidos no Brasil, além de diminuir o potencial de contenciosos comerciais entre o Brasil e os demais parceiros.

Plataforma latina
Os EUA são o maior receptor de investimento estrangeiro direto brasileiro nas Américas. Das 33 maiores filiais brasileiras, 18 estão no país, segundo a Unctad (órgão das Nações Unidas para comércio e desenvolvimento) compilados pela consultoria Prospectiva.
Apesar da nítida concentração nos Estados Unidos, os países do Mercosul e outros da América Latina também atraem investimentos brasileiros. A Weg, por exemplo, tem unidades na Argentina, além da fábrica no México.

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