São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Para analistas, reajuste dos combustíveis é inevitável, mas impacto na inflação deverá ser limitado

Alta na gasolina não afeta cenário interno

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um eventual aumento de 10% na gasolina ainda estaria dentro da projeção de alta do Banco Central para o preço do produto e não afetaria a expectativa de inflação neste ano, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), segundo analistas.
O receio é que as pressões aumentem e as cotações do petróleo subam acima de US$ 45, permanecendo nesse patamar.
"O modelo do Banco Central já contempla o aumento de 9,5% na bomba. Uma alta de 10% deverá significar em torno de 5% para o consumidor", diz Alexandre Lintz, estrategista do BNP Paribas, que não trabalha, porém, com a possibilidade de reajuste.
Para boa parte dos analistas, entretanto, a Petrobras não poderá deixar de elevar o preço interno se o petróleo ficar acima de US$ 40 por um período de até dois meses.
"Aumentaria no máximo 10%, desde que a empresa não demore muito a elevar o preço. E, se o petróleo ficar acima de US$ 45, de forma duradoura, a Petrobras terá de aumentar de novo", afirma Walter Brasil Mundell, vice-presidente de investimentos da Sul América Seguros.
"A Petrobras esperar não é tão ruim, dado que pode haver reversão de preços. A análise da demanda e dos estoques indica queda no final do ano", diz Lintz, que frisa não falar como um analista de empresas petrolíferas.
Até a sexta-feira passada, quando a explosão em uma refinaria nos EUA ajudou a empurrar os preços do barril para novos recordes (US$ 46,58 em Nova York), a expectativa era de as cotações encerrarem 2004 em US$ 32.
O preço interno da gasolina está 20% abaixo do preço internacional, segundo Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult. No diesel, a diferença seria de 17%, o que forçaria o repasse de preço, conforme o consultor.
"Quando a diferença aparece só na gasolina, a Petrobras agüenta por um tempo porque o produto representa cerca de 20% do seu faturamento. Mas, quando a diferença no diesel chega num patamar de 15%, dificilmente não há repasse porque ele responde por cerca de 40% do resultado", diz.
O BNP Paribas projeta números diferentes. O preço da gasolina no mercado doméstico estaria 12% abaixo do preço internacional e o do diesel, 20%.
Para Lintz, o efeito da alta dos combustíveis seria pequeno sobre o IPCA. "O diesel afeta mais fortemente o IPA. Repercute de forma indireta em toda a cadeia produtiva, mas a meta de inflação considera o IPCA", afirma Lintz.
"O diesel impacta o IPCA, ainda que indiretamente, porque é usado na área rural, no transporte, para irrigação, e isso afeta os preços", diz Mundell. "Pode demorar 15 dias para o IPCA captar a alta do diesel, mas qualquer aumento de derivados pressiona a inflação." Para ele, a Petrobras não pode deixar de elevar os preços.
"É uma empresa que vendeu ações ao público e que afirmou a acionistas que seguiria os preços internacionais. Além disso, o governo federal depende dos resultados da estatal para compor o superávit primário", afirma.
Nesse rali do petróleo, analistas se perguntam como ficarão oferta e demanda em 2005. De um lado, há previsão de crescimento da economia e de aumento do consumo. De outro, dúvidas em relação à oferta do petróleo, uma vez que apenas Arábia Saudita e Rússia, que se encontram em situação delicada, têm condições de aumentar a produção.
"Há a certeza de que o consumo vai crescer e só dúvidas em relação ao petróleo, o que pode limitar o PIB", diz Simino.

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