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FOLHAINVEST
MERCADO FINANCEIRO
Para analistas, reajuste dos combustíveis é inevitável, mas impacto na inflação deverá ser limitado
Alta na gasolina não afeta cenário interno
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um eventual aumento de 10%
na gasolina ainda estaria dentro
da projeção de alta do Banco Central para o preço do produto e não
afetaria a expectativa de inflação
neste ano, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), segundo analistas.
O receio é que as pressões aumentem e as cotações do petróleo
subam acima de US$ 45, permanecendo nesse patamar.
"O modelo do Banco Central já
contempla o aumento de 9,5% na
bomba. Uma alta de 10% deverá
significar em torno de 5% para o
consumidor", diz Alexandre
Lintz, estrategista do BNP Paribas, que não trabalha, porém,
com a possibilidade de reajuste.
Para boa parte dos analistas, entretanto, a Petrobras não poderá
deixar de elevar o preço interno se
o petróleo ficar acima de US$ 40
por um período de até dois meses.
"Aumentaria no máximo 10%,
desde que a empresa não demore
muito a elevar o preço. E, se o petróleo ficar acima de US$ 45, de
forma duradoura, a Petrobras terá de aumentar de novo", afirma
Walter Brasil Mundell, vice-presidente de investimentos da Sul
América Seguros.
"A Petrobras esperar não é tão
ruim, dado que pode haver reversão de preços. A análise da demanda e dos estoques indica queda no final do ano", diz Lintz, que
frisa não falar como um analista
de empresas petrolíferas.
Até a sexta-feira passada, quando a explosão em uma refinaria
nos EUA ajudou a empurrar os
preços do barril para novos recordes (US$ 46,58 em Nova York), a
expectativa era de as cotações encerrarem 2004 em US$ 32.
O preço interno da gasolina está
20% abaixo do preço internacional, segundo Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult. No diesel,
a diferença seria de 17%, o que
forçaria o repasse de preço, conforme o consultor.
"Quando a diferença aparece só
na gasolina, a Petrobras agüenta
por um tempo porque o produto
representa cerca de 20% do seu
faturamento. Mas, quando a diferença no diesel chega num patamar de 15%, dificilmente não há
repasse porque ele responde por
cerca de 40% do resultado", diz.
O BNP Paribas projeta números
diferentes. O preço da gasolina no
mercado doméstico estaria 12%
abaixo do preço internacional e o
do diesel, 20%.
Para Lintz, o efeito da alta dos
combustíveis seria pequeno sobre
o IPCA. "O diesel afeta mais fortemente o IPA. Repercute de forma
indireta em toda a cadeia produtiva, mas a meta de inflação considera o IPCA", afirma Lintz.
"O diesel impacta o IPCA, ainda
que indiretamente, porque é usado na área rural, no transporte,
para irrigação, e isso afeta os preços", diz Mundell. "Pode demorar
15 dias para o IPCA captar a alta
do diesel, mas qualquer aumento
de derivados pressiona a inflação." Para ele, a Petrobras não pode deixar de elevar os preços.
"É uma empresa que vendeu
ações ao público e que afirmou a
acionistas que seguiria os preços
internacionais. Além disso, o governo federal depende dos resultados da estatal para compor o superávit primário", afirma.
Nesse rali do petróleo, analistas
se perguntam como ficarão oferta
e demanda em 2005. De um lado,
há previsão de crescimento da
economia e de aumento do consumo. De outro, dúvidas em relação à oferta do petróleo, uma vez
que apenas Arábia Saudita e Rússia, que se encontram em situação
delicada, têm condições de aumentar a produção.
"Há a certeza de que o consumo
vai crescer e só dúvidas em relação ao petróleo, o que pode limitar o PIB", diz Simino.
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