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"RISCO-MENSALÃO"
Sindicatos temem que empresas usem incertezas políticas para segurar aumentos entre setembro e novembro
Medo da crise antecipa campanha salarial
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise política puxou para
agosto o início da mobilização
anual de trabalhadores que têm
datas-base entre setembro e novembro. Os sindicatos afirmam
que as empresas já usam o medo
da crise para acenar com reajustes
menores nos próximos meses.
A Força Sindical, que representa
6 milhões de trabalhadores com
data-base no período (2,5 milhões
só em São Paulo) terá hoje, na
prática, o início dessa mobilização, que ocorre na esteira de uma
campanha contra a corrupção.
Já o Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo anunciou que fará
excepcionalmente na semana que
vem uma reunião com 1.500 delegados de 50 sindicatos do Estado
para fechar antecipadamente
uma pauta de reivindicações. Esse
tipo de encontro, que é incomum,
nunca ocorreu em agosto.
"A crise está dando às empresas
uma ótima desculpa nesse início
de período de negociações. Nossa
resposta será antecipar as mobilizações", diz Eleno José Bezerra,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
"O pico da crise será no meio
das campanhas salariais. As empresas vão usar isso para querer
não dar nada", afirma Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical.
Paulinho diz acreditar que as
apreensões em relação aos desdobramentos em Brasília podem
afetar, de fato, os planos de investimentos e as vendas das empresas. "Mas não podemos deixar
que os trabalhadores assumam o
ônus dessa crise, que é política."
Grandes empresas como a Multibras e Continental (linha branca) e da área de metais para a
construção civil já deram férias
coletivas em julho. Na mesma
época, a General Motors fez um
inesperado plano de demissões
voluntárias -com baixa adesão.
A Multibras alega que a paralisação foi normal, para manutenções e reparos. Bezerra, do sindicato dos metalúrgicos, diz que
nessa época do ano "as empresas
deveriam estar a todo o vapor".
Do ponto de vista da Força Sindical e de vários sindicatos de São
Paulo, a crise política pode representar um balde de água fria em
um 2005 que parecia promissor
para as campanhas salariais.
Segundo levantamento parcial
realizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) no primeiro semestre, das negociações concluídas no período, 89% tiveram
algum tipo de aumento salarial.
Outro dado, da Confederação
Nacional dos Metalúrgicos, mostra que 97% dos sindicatos que tiveram negociação entre janeiro e
junho conseguiram aumentos salariais acima da inflação.
A CUT -cujo presidente, Luiz
Marinho, deixou o cargo há menos de um mês para ser o novo
ministro do Trabalho- não acredita que a crise política terá impacto nas negociações salariais.
Na área comercial, apreensiva
com os efeitos da crise na economia, a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) encomendou
uma ampla pesquisa de opinião
para "sentir o pulso da rua", informa o presidente da entidade,
Guilherme Afif Domingos.
Afif diz que o engajamento em
uma campanha contra a corrupção dependerá dos resultados da
pesquisa. "O grau de insatisfação
é muito grande. Queremos sentir
se é o momento de ir para a rua."
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