São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2005

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"RISCO-MENSALÃO"

Sindicatos temem que empresas usem incertezas políticas para segurar aumentos entre setembro e novembro

Medo da crise antecipa campanha salarial

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise política puxou para agosto o início da mobilização anual de trabalhadores que têm datas-base entre setembro e novembro. Os sindicatos afirmam que as empresas já usam o medo da crise para acenar com reajustes menores nos próximos meses.
A Força Sindical, que representa 6 milhões de trabalhadores com data-base no período (2,5 milhões só em São Paulo) terá hoje, na prática, o início dessa mobilização, que ocorre na esteira de uma campanha contra a corrupção.
Já o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo anunciou que fará excepcionalmente na semana que vem uma reunião com 1.500 delegados de 50 sindicatos do Estado para fechar antecipadamente uma pauta de reivindicações. Esse tipo de encontro, que é incomum, nunca ocorreu em agosto.
"A crise está dando às empresas uma ótima desculpa nesse início de período de negociações. Nossa resposta será antecipar as mobilizações", diz Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
"O pico da crise será no meio das campanhas salariais. As empresas vão usar isso para querer não dar nada", afirma Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical.
Paulinho diz acreditar que as apreensões em relação aos desdobramentos em Brasília podem afetar, de fato, os planos de investimentos e as vendas das empresas. "Mas não podemos deixar que os trabalhadores assumam o ônus dessa crise, que é política."
Grandes empresas como a Multibras e Continental (linha branca) e da área de metais para a construção civil já deram férias coletivas em julho. Na mesma época, a General Motors fez um inesperado plano de demissões voluntárias -com baixa adesão.
A Multibras alega que a paralisação foi normal, para manutenções e reparos. Bezerra, do sindicato dos metalúrgicos, diz que nessa época do ano "as empresas deveriam estar a todo o vapor".
Do ponto de vista da Força Sindical e de vários sindicatos de São Paulo, a crise política pode representar um balde de água fria em um 2005 que parecia promissor para as campanhas salariais.
Segundo levantamento parcial realizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) no primeiro semestre, das negociações concluídas no período, 89% tiveram algum tipo de aumento salarial.
Outro dado, da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, mostra que 97% dos sindicatos que tiveram negociação entre janeiro e junho conseguiram aumentos salariais acima da inflação.
A CUT -cujo presidente, Luiz Marinho, deixou o cargo há menos de um mês para ser o novo ministro do Trabalho- não acredita que a crise política terá impacto nas negociações salariais.
Na área comercial, apreensiva com os efeitos da crise na economia, a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) encomendou uma ampla pesquisa de opinião para "sentir o pulso da rua", informa o presidente da entidade, Guilherme Afif Domingos.
Afif diz que o engajamento em uma campanha contra a corrupção dependerá dos resultados da pesquisa. "O grau de insatisfação é muito grande. Queremos sentir se é o momento de ir para a rua."


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