São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2005

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Incerteza afeta planos de empresários

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários reunidos ontem em seminário em São Paulo para discutir a sonegação de impostos e a carga tributária do Brasil temem que a crise política afete seus negócios neste final de ano.
Grandes investimentos, segundo informam, já estão sendo adiados até que fique mais claro qual será o desfecho na política brasileira -o que significa até a permanência ou não de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência.
"Não podemos dizer que todos os investimentos estão trancados. Mas, num momento como esse que estamos vivendo, as decisões de investimento exigem uma análise muito mais profunda do que se estivéssemos num período de euforia", diz Carlos William Ferreira, diretor de desenvolvimento do grupo Saint-Gobain.
"Os empresários não querem se comprometer com investimentos altos nesse clima de indefinição política. Estão preferindo aguardar um pouco mais para ver qual será o rumo político", diz João Carlos Basílio da Silva, presidente da Abihpec, associação dos fabricantes de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos.
As indústrias estão preocupadas com o efeito da crise política sobre os consumidores e a economia. "No nosso caso, o problema é o câmbio, já que somos grandes importadores de matérias-primas", afirma Ciro Mortella, presidente-executivo da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica.
Cerca de 80% das matérias-primas do setor farmacêutico são importadas, e 30% dos medicamentos vendidos no país vêm do exterior. "Se a crise afetar o câmbio, o setor vai sofrer. Cerca de 80% dos remédios têm preços controlados", afirma Mortella.
Gabriel Tannus, presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), diz que o setor está em fase de observar as turbulências políticas. "Os investimentos de médio e longo prazos são sólidos. Agora, existe, sim, uma certa apreensão entre os empresários."
A indústria de material de construção acredita que a crise política deve afetar os negócios do setor. "Não temos informação se já afetou e de que forma, mas a sensação dos fabricantes é que vai afetar", afirma Luis Fernando Ferrari, presidente da Artesp, associação que reúne os revendedores paulistas de tintas.
Ferrari diz que as lojas já sentem que os consumidores estão mais desanimados com as compras. "Não temos claro ainda se a queda no consumo tem relação com a crise política, mas as vendas estão 4% menores do que em igual período do ano passado", afirma.
Além da crise política, os empresários estão preocupados com o atraso nas discussões para a reforma tributária. Ontem, após o primeiro debate no seminário, promovido pelo Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial) e que que discutiu carga tributária e desenvolvimento, alguns ficaram desanimados.
"O que ouvimos é que a reforma concreta deve sair daqui a três anos com a nova equipe de deputados e senadores. Não sei se dá para esperar até lá", afirma Melvyn David Fox, diretor-presidente da Abramat, associação que reúne a indústria de material de construção.
Emerson Kapaz, presidente do Etco, disse que a crise política não pode interromper uma ""agenda positiva" e sustentou que é possível arrecadar mais tributando menos.
Um dos fatores que estimula a sonegação, na análise dos empresários, é a elevada carga tributária brasileira. Na indústria de higiene pessoal, o índice de sonegação chega a 60%, segundo a Abihpec.


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