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Incerteza afeta planos de empresários
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresários reunidos ontem
em seminário em São Paulo para
discutir a sonegação de impostos
e a carga tributária do Brasil temem que a crise política afete seus
negócios neste final de ano.
Grandes investimentos, segundo informam, já estão sendo adiados até que fique mais claro qual
será o desfecho na política brasileira -o que significa até a permanência ou não de Luiz Inácio
Lula da Silva na Presidência.
"Não podemos dizer que todos
os investimentos estão trancados.
Mas, num momento como esse
que estamos vivendo, as decisões
de investimento exigem uma análise muito mais profunda do que
se estivéssemos num período de
euforia", diz Carlos William Ferreira, diretor de desenvolvimento
do grupo Saint-Gobain.
"Os empresários não querem se
comprometer com investimentos
altos nesse clima de indefinição
política. Estão preferindo aguardar um pouco mais para ver qual
será o rumo político", diz João
Carlos Basílio da Silva, presidente
da Abihpec, associação dos fabricantes de produtos de higiene
pessoal, perfumaria e cosméticos.
As indústrias estão preocupadas com o efeito da crise política
sobre os consumidores e a economia. "No nosso caso, o problema
é o câmbio, já que somos grandes
importadores de matérias-primas", afirma Ciro Mortella, presidente-executivo da Febrafarma
(Federação Brasileira da Indústria
Farmacêutica.
Cerca de 80% das matérias-primas do setor farmacêutico são
importadas, e 30% dos medicamentos vendidos no país vêm do
exterior. "Se a crise afetar o câmbio, o setor vai sofrer. Cerca de
80% dos remédios têm preços
controlados", afirma Mortella.
Gabriel Tannus, presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de
Pesquisa), diz que o setor está em
fase de observar as turbulências
políticas. "Os investimentos de
médio e longo prazos são sólidos.
Agora, existe, sim, uma certa
apreensão entre os empresários."
A indústria de material de construção acredita que a crise política
deve afetar os negócios do setor.
"Não temos informação se já afetou e de que forma, mas a sensação dos fabricantes é que vai afetar", afirma Luis Fernando Ferrari, presidente da Artesp, associação que reúne os revendedores
paulistas de tintas.
Ferrari diz que as lojas já sentem
que os consumidores estão mais
desanimados com as compras.
"Não temos claro ainda se a queda no consumo tem relação com a
crise política, mas as vendas estão
4% menores do que em igual período do ano passado", afirma.
Além da crise política, os empresários estão preocupados com
o atraso nas discussões para a reforma tributária. Ontem, após o
primeiro debate no seminário,
promovido pelo Etco (Instituto
Brasileiro de Ética Concorrencial)
e que que discutiu carga tributária
e desenvolvimento, alguns ficaram desanimados.
"O que ouvimos é que a reforma
concreta deve sair daqui a três
anos com a nova equipe de deputados e senadores. Não sei se dá
para esperar até lá", afirma
Melvyn David Fox, diretor-presidente da Abramat, associação que
reúne a indústria de material de
construção.
Emerson Kapaz, presidente do
Etco, disse que a crise política não
pode interromper uma ""agenda
positiva" e sustentou que é possível arrecadar mais tributando
menos.
Um dos fatores que estimula a
sonegação, na análise dos empresários, é a elevada carga tributária
brasileira. Na indústria de higiene
pessoal, o índice de sonegação
chega a 60%, segundo a Abihpec.
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