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OPINIÃO ECONÔMICA
Urgências urgentíssimas
BENJAMIN STEINBRUCH
Fiquei espantado ao ler,
na semana passada, uma reportagem da revista "Meio &
Mensagem" sobre os custos da
campanha eleitoral de 2002,
quando 94 milhões de brasileiros
votaram para eleger deputados
estaduais e federais, governadores, senadores e o presidente da
República. Segundo a revista, especializada em publicidade e
marketing, a campanha custou
cerca de R$ 10 bilhões.
O espanto não foi apenas com o
valor total do gasto, obviamente
astronômico para um país pobre
como o Brasil, mas também com
a diferença entre os valores oficiais e reais do dinheiro aplicado
na campanha. Oficialmente, os
partidos políticos declararam
aos tribunais eleitorais dispêndios de R$ 850 milhões. Ou seja,
91,5% dos gastos "não foram
contabilizados", expressão inventada pelos autores da atual
crise para não pronunciar a denominação correta de caixa dois.
Não dá para continuar assim.
Uma das grandes lições do terremoto político deste triste inverno
brasileiro é que ficou impossível
adiar a reforma eleitoral. Sem
ela, a próxima campanha já começará manchada pela suspeita
do caixa dois e os eleitos não terão credibilidade para exercer
seus mandatos. Embora o PT esteja pagando mais pelos seus pecados nessa matéria, o fato é que
nenhum partido grande ou médio pode dizer que não conheceu
caixa dois nas últimas campanhas.
Infelizmente, não há tempo para fazer até 30 de setembro, prazo constitucional, uma reforma
político-eleitoral completa. Para
isso, seria necessário contar com
um tempo mais longo para debates. É impossível saber, por exemplo, se a sociedade aprova novidades como o voto distrital, o financiamento exclusivamente
público de campanhas ou o fim
da reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Mas a farra
do caixa dois precisa e pode ser
estancada imediatamente por
uma reforma eleitoral de emergência, cujo eixo principal deve
ser a austeridade.
Cabe aos parlamentares examinar e votar com urgência urgentíssima medidas simples para
reduzir drasticamente os gastos
na próxima campanha. Já estão
no Congresso propostas nesse
sentido e parece haver consenso
sobre alguns pontos, como redução pela metade do período de
propaganda política na TV, fim
dos showmícios, proibição da
maquiagem de candidatos pela
ação de marqueteiros e obrigação de contabilizar diariamente
os gastos pela internet.
O controle de gastos terá de ser
rigoroso. É indispensável que os
candidatos e partidos tenham
um limite máximo de despesas,
para que sejam dadas oportunidades iguais a candidaturas ricas e pobres. Com esse limite,
campanhas luxuosas ou exageradamente visíveis ficarão imediatamente sob suspeita de caixa
dois.
Ficaria então para a próxima
legislação a reforma política
completa, embora seu esboço já
possa ser desenhado na própria
campanha do ano que vem. Seria muito útil que cada candidato à Presidência da República
apresentasse em seu programa
de governo o teor da proposta de
reforma que defende. Assim, ao
eleger o presidente, a população
já indicaria indiretamente o tipo
de legislação que a sociedade deseja.
É ingênuo esperar que possa
partir dos próprios parlamentares medidas que reduzam, por
exemplo, o número de deputados
ou de suas mordomias. Alterações dessa natureza só podem ser
viabilizadas se estiverem em programas de candidatos e se forem
sancionadas pelo voto popular.
Benjamin Steinbruch, 51, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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