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EM EXPANSÃO
Negócios em feira deste ano aumentam 73%; apesar da alta, setor quer maior acesso a tecnologia de produção
Agricultura familiar dribla crise e cresce
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Maio de 2005, Ribeirão Preto,
cidade do interior de São Paulo.
Um grande produtor do Piauí negocia com uma multinacional
produtora de colheitadeiras a
compra de novas máquinas para
a colheita de arroz, soja e milho
nos 10 mil hectares cultivados por
ele no Estado nordestino.
A negociação ocorreu na 12ª
Agrishow, feira que concentra os
grandes negócios do agronegócio
brasileiro. Produtor e indústria
saíram satisfeitos com a negociação. Ele, porque conseguiu reduzir os preços das máquinas, que
superam R$ 500 mil cada. A indústria, por ter feito mais algumas
vendas em um período de vacas
magras. Serão necessárias 31 mil
sacas de arroz para pagar cada
uma das máquinas.
Agosto de 2005, Agudos, também no interior paulista. O pequeno produtor Antônio Marcos
Cardoso de Souza, de Sete Barras,
no Vale do Ribeira, mostra eufórico uma máquina para "bater" arroz (separar o grão do cacho) na
3ª Agrifam -feira voltada para a
agricultura familiar e trabalhadores assalariados no campo.
Movida a gás (usa um botijão de
três quilos), a engenhoca, que é
capaz de "bater" até 40 sacas por
dia, está exposta no espaço dedicado a inventos voltados à agricultura familiar da 3ª Agrifam.
A nova máquina, comercializada por apenas R$ 300, já tinha cinco interessados, segundo Souza.
Para pagar esse investimento, o
produtor vai gastar o correspondente a 17 sacas de arroz.
Alexandre Abbud, diretor-executivo da Abag (Associação Brasileira de Agribusiness), associação
que congrega grandes empresas
do agronegócio, presente à Agrifam, diz que "não há conflito; a diferença é apenas o porte".
Ele se referia à diferença entre a
chamada agricultura "empresarial" e a "familiar", cada uma com
seu tamanho e sua importância.
E é exatamente essa diferença
que os promotores da Agrifam
querem preservar. João Carlos
Pedreira de Freitas, diretor da
Hecta Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios, empresa
responsável pela Agrifam, diz que
não há incompatibilidade entre
agricultura empresarial e familiar.
A primeira gera dólares; a segunda, comida. Mas com dólares
se compra comida, diz. "O que
não pode ocorrer é um avanço do
modelo concentrador. É preciso
repensar a agricultura, e a familiar
tem um grande papel porque trabalha em pequena escala e é sustentável", afirma Pedreira.
E não é só o entusiasta Pedreira
que acredita na agricultura familiar. A 3ª Agrifam, realizada de 12
a 14 deste mês, atraiu 117 expositores e teve 152 estandes. Participaram da feira sete multinacionais, principalmente da área de
herbicidas e fungicidas, bancos e
indústrias de máquinas e equipamentos, todos com programação
específica de orientações, por palestras e cursos, ou de vendas para
os pequenos produtores.
Os negócios realizados são pequenos se comparados às grandes
feiras que ocorreram neste ano no
país, mas mostram um caminho
bem diferente do dos grandes
eventos. Enquanto a Agrishow de
Ribeirão Preto deste ano teve queda de 40% nos negócios, a 3ª Agrifam superou em 73% o volume
negociado em 2004. Foram 120
propostas de financiamentos, no
valor de R$ 1,5 milhão, e R$ 3,7
milhões em negócios efetuados
durante a feira, diz Pedreira.
No caso da agricultura familiar,
o importante, no entanto, é o pós-feira, diz ele. A decisão é sempre
tomada pelo produtor junto com
a mulher e os filhos, após o evento. Por isso, Pedreira estima que
os negócios totais do evento devam atingir R$ 24 milhões neste
ano, 100% acima dos de 2004.
A análise de Pedreira é corroborada por informações de duas
empresas do setor. Segundo elas,
enquanto há queda nas vendas de
tratores de grande porte, não existe recuo nas vendas de veículos de
baixa potência.
Mas a agricultura familiar também tem os seus problemas, segundo Braz Agostinho Albertini,
presidente da Fetaesp (Federação
dos Trabalhadores na Agricultura
do Estado de São Paulo), entidade
que congrega 176 sindicatos e é a
realizadora do evento.
Crédito e tecnologia são dois deles. "O produtor rural familiar
tem de ter acesso não só ao crédito mas também ao conhecimento", diz Albertini. Na avaliação do
presidente da Fetaesp, o produtor
tem de "trabalhar com a melhor
tecnologia disponível".
Albertini diz que é preciso conhecer exatamente o papel da
agricultura familiar. "É preocupante quando se associa a agricultura familiar a assentamentos
com produtores sem recursos,
sem raízes agrícolas, sem know-how e sem vocação para a lavoura. Existem pequenos produtores
que, com um empurrãozinho,
vão produzir muito mais, já que
são eficientes e sabem administrar seus negócios", afirma.
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