São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise faz dólar e Bolsas romperem barreiras

Pela 1ª vez desde maio, moeda fecha acima dos R$ 2, enquanto Bovespa fica abaixo dos 50 mil pontos, com queda de 3,19%

Estrangeiros vendem ativos brasileiros; incertezas fazem Dow Jones ficar abaixo dos 13 mil pontos pela primeira vez desde abril

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A turbulência levou o mercado financeiro a romper barreiras que não eram ameaçadas havia três meses. O dólar subiu 2,27% e passou de R$ 2 pela primeira vez desde 14 de maio, fechando a R$ 2,03 -maior cotação desde 4 de maio. A moeda já subiu 7,8% neste mês.
A Bovespa caiu 3,19% e ficou abaixo da marca dos 50 mil pontos, o que não ocorria desde o início de maio, fechando a 49.285 pontos -seu mais baixo patamar desde 30 de abril. No ano, a Bovespa ainda acumula alta de 10,8%. Já o risco-país brasileiro subiu 1,5% e encerrou a 200 pontos.
Nos EUA, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, caiu 1,29% e fechou abaixo dos 13 mil pontos pela primeira vez desde 24 de abril.
Nos últimos dias, os ativos (ações, títulos e moedas) brasileiros sofreram com a aceleração da saída de capital externo. Os estrangeiros têm vendido ativos de países emergentes como o Brasil para elevar sua liquidez e assumir posições mais defensivas diante de uma volatilidade que deve perdurar.
"Nos últimos meses, muito investidor tomou empréstimos baratos no mercado internacional e aplicou em ativos de maior risco, como Bolsa e títulos de emergentes. Agora estão reduzindo essas posições mais arriscadas", avalia Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas.
Os pregões novamente foram de muita oscilação, com as Bolsas chegando a subir nas primeiras horas. Mas o pessimismo deu o tom final, e os mercados não tiveram como evitar o fechamento no vermelho.
Entre os latino-americanos, a maior perda ficou com o índice Merval, de Buenos Aires (-5,17%). No México, a Bolsa caiu 2,61%.
Na Europa, as quedas foram menos intensas, pois as Bolsas fecharam antes da piora do mercado. A Bolsa de Londres teve baixa de 0,56%.
Na Bovespa, o fato de ontem ter havido vencimento de contratos colaborou para a instabilidade e fez com que o montante negociado fosse recorde, de R$ 18,43 bilhões.
A informação de que a Merrill Lynch alterou de compra para venda a sua recomendação para as ações da Countrywide Financial -maior financiadora imobiliária dos EUA- colaborou para a piora no dia, apesar de importante índice de inflação ter sido positivo.
Há três semanas, os mercados globais têm sofrido com a crise que abala o setor de crédito imobiliário de alto risco nos EUA. Enquanto alguns analistas vêem um "ajuste positivo" de mercados que estavam em seus picos históricos, há o temor de que a crise atinja os fundamentos das economias, ameaçando o crescimento.
Com a continuidade da crise, o Fed (BC dos EUA) injetou mais US$ 7 bilhões no sistema financeiro, como tem feito desde quinta, para tentar equilibrar o mercado. Hoje, o BC japonês emprestou 2,5 bilhões.

Dólar
O BC voltou ontem a não atuar no mercado, ao contrário do que vinha fazendo há um ano. "Os estrangeiros têm mudado suas posições na BM&F. Isso significa que aumentou a demanda por dólares no mercado", diz João Medeiros, da corretora de câmbio Pionner.
No dia 8, antes de a crise se acentuar, os estrangeiros estavam "vendidos" (aposta em queda da moeda) em dólar em US$ 4,79 bilhões. Na terça, essa posição havia encolhido para US$ 1,82 bilhão, o que mostra que estão mais confiantes no movimento de alta do dólar.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Paulo Nogueira Batista Jr.: De susto em susto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.