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LUÍS NASSIF
A saga da Embraer
A saga da Embraer (Empresa
Brasileira de Aeronáutica) é o
melhor exemplo de como países
podem se tornar competitivos,
desde que obedeçam a visões estratégicas de longo prazo. Recentemente, saiu na imprensa um
suplemento sobre como Portugal
conseguiu montar um centro importante de telecomunicações e
software que reforça essa idéia
do planejamento integrado.
Praticamente única área de
ponta na qual o Brasil conseguiu
se destacar, a Embraer é exemplo desse esforço continuado, segundo seu presidente, Maurício
Botelho, hoje em dia considerado um dos paradigmas do executivo brasileiro moderno. Ele entrou na empresa em setembro de
1995, logo após a privatização.
Segundo Botelho, a Embraer é
resultado de um programa estratégico anterior, bem concebido e
bem implementado. Logo após a
Segunda Guerra, o governo teve
a visão estratégica sobre a importância das forças aéreas nos
sistemas de defesa nacionais.
Em cima dessa visão, iniciou
esse plano com a criação do Centro Tecnológico de Aeronáutica
(CTA), em 1948, em São José dos
Campos. A segunda etapa foi a
criação de uma universidade para preparar pessoas ligadas à
ciência aeronáutica, o que surgiu com o Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA). A terceira
etapa, em 1969, foi a criação da
Embraer, da ciência sob forma
aplicada.
O projeto de capacitação tecnológica e industrial prosseguiu
com bastante eficiência ao longo
do tempo, criando uma tecnologia nacional, com produtos desenvolvidos e bem recebidos.
Apesar da péssima imagem no
país, por exemplo, o Bandeirantes tornou-se um dos únicos produtos industriais nacionais com
visibilidade internacional.
Os problemas da Embraer começaram quando ficou mais sujeita à sua condição de estatal.
Os novos controladores encontraram pessoal extremamente
bem formado e capacitado e, gerencialmente, uma empresa desestruturada. Agregaram a
quarta etapa que faltava: foco
empresarial e ferramentas empresariais modernas.
Esse tipo de procedimento não
era possível no período estatal,
quando cada procedimento, inclusive meras viagens de representantes comerciais, necessitava antes ser publicado no "Diário Oficial" e a abertura de cada
subsidiária dependia de autorização prévia do Congresso.
Investimentos
Além da mudança de hábitos
empresariais, os novos controladores investiram nos últimos
quatro anos US$ 150 milhões,
quantia que o governo não poderia investir dadas as limitações orçamentárias. Para os
próximos cinco anos, a previsão
é de investimentos da ordem de
US$ 1,3 bilhão, no desenvolvimento das novas famílias de
aviões 70, 98 e 108. As primeiras
unidades estarão prontas em
dezembro de 2002.
Com as novas práticas gerenciais, encurtou o ciclo de produção dos aviões. Em 1994, o Brasília levava 15 meses para ser
construído. Hoje em dia, a média é de seis meses. Provisoriamente está em sete meses, porque houve queda na fabricação
desse modelo no último ano.
Já os jatos regionais -ARJ-145, de 50 e 37 lugares- tinham
um ciclo de produção de nove
meses e meio em 1995. Hoje, o ciclo caiu para cinco meses e
meio. Nos últimos cinco anos
como estatal, a receita por empregado era de US$ 40 mil. Este
ano será de US$ 300 mil.
Hoje em dia, a Embraer disputa o mercado internacional
com dois produtos e já tem um
total de 950 unidades vendidas,
dos modelos ARJ-145 e ARJ-135.
O novo ARJ-190 já tem 175
aviões vendidos.
Joint ventures
O próximo passo vai ser a definição de parcerias internacionais. Desde 95 faz parte do plano estratégico da Embraer, mas,
diz Botelho, não se acredita em
aliança de fraco com forte. Hoje
a Embraer considera-se forte,
tem valor a agregar, participações expressivas de mercado e
posições estratégicas relevantes.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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