São Paulo, Quinta-feira, 16 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fabricantes criticam a medida

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

"Só falta o Brasil fechar a fronteira para o leite argentino", afirmou o gerente-geral da CIL (associação dos produtores de lacticínios da argentina), Jorge Secco, ao saber que o seu maior parceiro comercial irá ser mais rígido nas inspeções fitossanitárias de fronteira.
Para os produtores de leite da Argentina, o governo brasileiro está dificultando a entrada do produto do país vizinho há alguns meses. Na semana passada, Secco disse que o Brasil proibiu a compra governamental de leite em pó argentino.
O departamento de defesa comercial brasileiro também analisa um processo de práticas desleais de comércio (dumping) na venda de leite em pó, por parte dos produtores vizinhos. Caso seja confirmado o dano no processo, poderão ser estabelecidas barreiras à importação do produto.
Secco reclama da dificuldade para conseguir as autorizações (licenças não-automáticas) para a exportação de produtos lácteos. Segundo ele, antes as licenças de importação eram emitidas em 48 horas. "Nos últimos meses, tem demorado de 20 a 30 dias", diz.
A indústria de leite da Argentina é uma das poucas que conseguiram aumentar suas exportações para o Brasil este ano, mesmo com a recessão na região e a forte desvalorização do real.

Comércio
Nos primeiros sete meses do ano passado, o parceiro brasileiro exportou cerca de US$ 135 milhões. No mesmo período deste ano, a venda para o Brasil alcançou US$ 166 milhões, dos quais US$ 140 milhões são de leite em pó. Os dados são da CIL.
Do total exportado pela Argentina (20% da produção nacional de lácteos), aproximadamente 80% têm como destino o Brasil.
Para o ex-secretário de Comércio Exterior Raúl Ochoa, "o Brasil está mostrando que as medidas protecionistas adotadas pela Argentina, no setor de calçados e papéis, não são grátis".
O ex-secretário e atual consultor privado afirmou que o Brasil escolheu um dos poucos setores exportadores dinâmicos no país para retaliar.
Mas Ochoa acredita que o atual governo não vai voltar atrás nas medidas, pois está muito débil no final do mandato de Carlos Menem, que passa a faixa presidencial no dia 10 de dezembro.
O gerente da CIL, por sua vez, acha injusto a indústria láctea pagar a conta por problemas comerciais de outros setores. "Os problemas de cada área devem ser resolvidos dentro das associações de classe de cada setor", afirmou.
"Não é justo colocar um setor de refém, por causa de outros", completou.



Texto Anterior: Economista defende ação mais cautelosa
Próximo Texto: Tributação: Deputado do PT propõe novas faixas para Imposto de Renda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.