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IMPOSTOS
Sigilos bancário e fiscal impedem ação do órgão
Receita Federal monta mapa da sonegação, mas não pode punir
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário da Receita Federal,
Everardo Maciel, tinha uma boa e
uma má notícia para dar ontem.
A boa é que seus técnicos já recolheram fortes indícios sobre os
maiores sonegadores de impostos
no país. A má é que, apesar disso,
seus fiscais não podem fazer nada
para punir os infratores.
O mapa da sonegação, divulgado ontem por Maciel, mostra que
209 empresas não pagaram Imposto de Renda em 1998, embora
tenham movimentado, individualmente, mais de R$ 100 milhões em suas contas bancárias
naquele ano.
O estudo também informa que
201 pessoas físicas se declararam
isentas do imposto ou sequer fizeram declaração apesar de suas
contas bancárias registrarem movimentação superior a R$ 10 milhões, ainda em 1998.
Os nomes das empresas e pessoas sobre as quais pairam fortes
indícios de sonegação fiscal não
foram divulgados pelo secretário.
Estão protegidos pelos sigilos
bancário e fiscal.
Com base na arrecadação da
CPMF (Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira),
a Receita teve acesso a dados sobre as transações bancárias de cada contribuinte. Mas não pode
utilizá-los em processos de investigação porque, segundo o secretário, a lei não permite.
"A Receita fala, mas faz de conta
que não enxerga devido ao sigilo", afirmou Maciel, justificando
sua impossibilidade de perseguir
as pistas da sonegação descobertas pelo estudo. "Vou sentar e
chorar!", brincou.
O drama do secretário só não é
maior porque o levantamento
mostrou que a maior parte da população economicamente ativa
tem pagado IR.
Dados cruzados
Durante mais de dois meses, foram analisadas as informações de
38,5 milhões de pessoas físicas.
Desse total, 14 mil contribuintes
(apenas 0,03% do total) não pagaram IR relativo a 1998, embora
suas contas bancárias tenham
movimentado mais de R$ 1 milhão naquele ano.
Os técnicos da Receita também
contabilizaram os dados de 2,1
milhões de empresas. Desse universo, 18,6 mil pessoas jurídicas
(0,9% do total) não cumpriram
suas obrigações com o fisco, apesar de suas contas terem registrado mais de R$ 1 milhão em transações em 1998.
O levantamento feito pela Receita -e antecipado pela Folha
em agosto- cruzou dados da
CPMF com os pagamentos do IR
relativos a 1998. "Não usamos as
informações de 1999 porque houve mudança de alíquota e isso poderia comprometer os resultados", explicou Maciel.
Segundo o secretário, trata-se
de um estudo geral "sobre o qual
não se pode tirar inferências definitivas". Ali, misturados, podem
estar abastados sonegadores e
simplórios "laranjas" (como são
conhecidos aqueles que, com ou
sem consentimento, emprestam
seu nome a operações bancárias
irregulares).
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