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OPINIÃO ECONÔMICA
Reforma agrária
RUBENS TELLECHEA CLAUSELL
Nas condições atuais da
economia brasileira, torna-se urgente melhorar o aproveitamento das terras agriculturáveis,
preservando nossa riqueza em
águas, a floresta amazônica, a
mata atlântica e o Pantanal. Nossa produtividade na agropecuária, sem ser baixa, comporta crescimento, para que possamos diminuir a fome em parte de nossa
população e mesmo exportar,
cooperando com outros países.
Devemos investir não somente no
importante setor industrial, mas
em especial no aproveitamento
racional e na conservação de nossos solos, aumentando sua produtividade.
Política de solidariedade, respeito às leis, saúde, educação e investimentos na melhoria das condições de segurança nas cidades
constam em todos os programas
políticos nesta véspera de eleições.
São mesmo péssimas as condições
de vida e saúde em algumas regiões de nosso interior e nos arredores das grandes cidades. Mais
ainda sofrem as populações rurais, em grande parte sem terra
nem trabalho e com deficiência
alimentar. Desesperados, migram
para as grandes cidades, onde esperam encontrar trabalho e, com
restos de materiais, constroem
nas favelas abrigos para as famílias.
A atual e discutida reforma
agrária -em grande parte apenas política- não cria condições
para a melhoria da vida no meio
rural que permitam progresso técnico. Desperdiça terras férteis e
produtivas, em quase todos os
"assentamentos", pela dispersão
das residências e construções
complementares. Salvo algumas
pequenas unidades, como no Rio
Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, ocasiona desperdício de solos e de investimentos e
perturba as atividades da agropecuária produtiva. Ademais, não
gera condições de segurança para
as famílias implantadas nem as
assiste em saúde, educação, moradia e técnicas agropecuárias.
Não melhora a vida rural, em seu
conjunto. Apenas dispersa a miséria nas grandes cidades e atrasa
a agricultura em muitas regiões.
As invasões de propriedades
produtivas violam a Constituição
e destroem os efetivos e inegáveis
direitos dos proprietários e trabalhadores rurais. Nas terras que
têm recebido, os trabalhadores
não se organizam para produzir,
por falta da assistência técnica e
treinamento na utilização de outras áreas. Os lotes recebidos em
grande parte são negociados, em
favor de terceiros, sem melhorias
e conservação dos solos e, por vezes, são vendidos, regressando o
vendedor ao grupo de pedintes.
Mesmo com todos esses fatos,
que os jornais relatam, não devemos combater a reforma agrária
racional, legal e produtiva, de que
o Brasil necessita. O novo governo
federal deverá reestudá-la, com
critério tecnológico e social: com
novas diretivas, respeitando os direitos dos produtores legalmente
estabelecidos. Deve considerar as
grandes áreas públicas disponíveis e improdutivas, o número de
famílias sem terra e ainda os
"marginais" nas cidades, que a
fome e a ignorância encaminham
ao crime e à miséria.
Vivemos em país rico em terras,
de clima favorável ao desenvolvimento vegetal e animal, com o
melhor suprimento mundial em
águas, sem vulcões nem terremotos, onde neve ocorre por poucos
dias e é apenas atrativo turístico.
Ao Norte, a Amazônia e suas florestas e grandes rios, com fauna e
flora que encantam o mundo civilizado. No Nordeste, com pouca
água de superfície, mas em grande área com rico lençol freático,
ainda sem aproveitamento racional, ademais de coleta das chuvas
em depósitos adequados, não faltará água para o consumo dos
habitantes e seus animais e mesmo para irrigação. O grande fator
desfavorável, em algumas regiões
nordestinas, é o fracionamento
das terras em minifúndios, que
além de tecnologia adequada necessitariam de reestruturação.
Do centro ao sul, há grandes
áreas para a agricultura e criatórios produtivos, com minerais para a fertilização das pastagens, de
plantios de leguminosas e oleaginosas, podendo produzir, além do
óleo alimentar, o "agrodiesel",
para tratores e veículos. Cana na
produção de açúcar, álcool-motor
e energia elétrica, além de cereais
diversos, mandioca, frutas variadas, produtivas, do norte ao sul,
carnes e leite, suficientes para o
consumo nacional e a exportação.
Por essas possibilidades, devemos estudar -e com cuidado-
o problema dos "assentamentos"
das famílias rurais, em especial
na sua estrutura na vida coletiva,
com orientação e propósitos definidos, dentro da Constituição e
normas técnicas.
Rubens Tellechea Clausell é engenheiro agrônomo.
E-mail -
clausell@hotmail.com
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