São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Elevação da taxa é a primeira em 19 meses; Banco Central diz que esse é o começo de um processo de alta

BC inicia ajuste e juros sobem para 16,25%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de ameaçar por dois meses seguidos, o Banco Central elevou os juros básicos da economia em 0,25 ponto percentual e indicou que novos aumentos devem ocorrer nos próximos meses.
Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC), em sua centésima reunião mensal, fixou a Selic em 16,25% ao ano e informou que a medida foi apenas o "início de um processo de ajuste moderado da taxa". Mesmo dentro do BC, houve quem quisesse um aumento maior: dos oito membros da instituição, cinco votaram pela alta de 0,25 ponto, enquanto três preferiam 0,50.
Foi a primeira alta da Selic (taxa básica) desde fevereiro de 2003. No governo Lula, a taxa saiu de 25%, foi a 26,5% e, depois de cortes sucessivos, chegou a 16% -patamar desde abril deste ano.
Em nota, o BC disse que a alta da taxa é necessária para que "a trajetória da inflação não prejudique a recuperação da renda real, preservando, assim, o crescimento sustentado da economia".
Nos últimos dias, o rumo das taxas de juros foi motivo de polêmica entre membros do governo. O ministro José Dirceu (Casa Civil) foi um dos que criticaram uma eventual alta dos juros, já que, na sua avaliação, não haveria pressões inflacionárias que justificassem tal decisão. Críticas semelhantes foram feitas pelo vice-presidente José Alencar, para quem as taxas praticadas no Brasil são um "despropósito".
Já o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) condicionou uma eventual queda dos juros a um maior aperto fiscal. Na mesma linha, seu colega Guido Mantega (Planejamento) afirmou que havia pressões inflacionárias para justificar um aumento dos juros.
A discussão sobre as taxas reflete a preocupação do governo com o efeito que juros maiores podem ter sobre o crescimento econômico. Para o BC, uma elevação não compromete a recuperação da economia, pois ainda permitiria que o país crescesse cerca de 4% neste ano. Para quem critica a decisão, porém, o resultado poderia ser superior a 4%, caso as taxas não fossem tão elevadas.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) disse, por meio de nota, que a decisão de ontem pode colocar um "pé no freio" na retomada do consumo e dos investimentos. A Fecomercio SP (federação do comércio paulista) classificou a decisão como um "retrocesso".
Segundo o BC, o aumento dos juros se justifica por causa da necessidade de manter a inflação dentro das metas. Para este ano, a meta é de 5,5%, admitindo-se um desvio de até 2,5 pontos percentuais. Entre janeiro e agosto, a alta dos preços, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ficou em 5,14%.
Segundo pesquisa feita pelo BC entre analistas do setor privado, a expectativa do mercado é de inflação de 7,37%. Para 2005, quando a meta é de 4,5% -também com uma margem de 2,5 pontos-, a estimativa está em 5,70%.


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