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TENSÃO PÓS-COPOM
Elevação da taxa é a primeira em 19 meses; Banco Central diz que esse é o começo de um processo de alta
BC inicia ajuste e juros sobem para 16,25%
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de ameaçar por dois meses seguidos, o Banco Central elevou os juros básicos da economia
em 0,25 ponto percentual e indicou que novos aumentos devem
ocorrer nos próximos meses.
Ontem, o Copom (Comitê de
Política Monetária do BC), em sua
centésima reunião mensal, fixou a
Selic em 16,25% ao ano e informou que a medida foi apenas o
"início de um processo de ajuste
moderado da taxa". Mesmo dentro do BC, houve quem quisesse
um aumento maior: dos oito
membros da instituição, cinco votaram pela alta de 0,25 ponto, enquanto três preferiam 0,50.
Foi a primeira alta da Selic (taxa
básica) desde fevereiro de 2003.
No governo Lula, a taxa saiu de
25%, foi a 26,5% e, depois de cortes sucessivos, chegou a 16%
-patamar desde abril deste ano.
Em nota, o BC disse que a alta da
taxa é necessária para que "a trajetória da inflação não prejudique
a recuperação da renda real, preservando, assim, o crescimento
sustentado da economia".
Nos últimos dias, o rumo das taxas de juros foi motivo de polêmica entre membros do governo. O
ministro José Dirceu (Casa Civil)
foi um dos que criticaram uma
eventual alta dos juros, já que, na
sua avaliação, não haveria pressões inflacionárias que justificassem tal decisão. Críticas semelhantes foram feitas pelo vice-presidente José Alencar, para quem
as taxas praticadas no Brasil são
um "despropósito".
Já o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) condicionou
uma eventual queda dos juros a
um maior aperto fiscal. Na mesma linha, seu colega Guido Mantega (Planejamento) afirmou que
havia pressões inflacionárias para
justificar um aumento dos juros.
A discussão sobre as taxas reflete a preocupação do governo com
o efeito que juros maiores podem
ter sobre o crescimento econômico. Para o BC, uma elevação não
compromete a recuperação da
economia, pois ainda permitiria
que o país crescesse cerca de 4%
neste ano. Para quem critica a decisão, porém, o resultado poderia
ser superior a 4%, caso as taxas
não fossem tão elevadas.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) disse, por meio de nota, que a decisão de ontem pode colocar um
"pé no freio" na retomada do consumo e dos investimentos. A Fecomercio SP (federação do comércio paulista) classificou a decisão como um "retrocesso".
Segundo o BC, o aumento dos
juros se justifica por causa da necessidade de manter a inflação
dentro das metas. Para este ano, a
meta é de 5,5%, admitindo-se um
desvio de até 2,5 pontos percentuais. Entre janeiro e agosto, a alta
dos preços, medida pelo IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), ficou em 5,14%.
Segundo pesquisa feita pelo BC
entre analistas do setor privado, a
expectativa do mercado é de inflação de 7,37%. Para 2005, quando a
meta é de 4,5% -também com
uma margem de 2,5 pontos-, a
estimativa está em 5,70%.
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