São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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Para analistas, BC já está de olho em 2005

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Copom de iniciar um processo de ajuste dos juros visa inverter as expectativas do mercado financeiro e conter repasses de preços em 2005. Nas últimas três semanas, os analistas do mercado ajustaram para cima as projeções de inflação em 2005.
"O Banco Central está olhando para o ano que vem ao decidir aumentar os juros. A meta de inflação é 4,5%, mas o mercado, nesta semana, já projeta uma taxa de 5,8%, segundo a pesquisa Focus do BC", diz o economista Fábio Silveira, da MS Consult.
Nas últimas semanas os analistas do mercado, ao refazerem suas contas e projeções, passaram a sinalizar o risco de repasse de aumentos de custos para preços num ambiente de crescimento econômico acelerado.
O aumento dos juros atenuaria essa pressão inflacionária potencial, pela via da reversão de expectativas. "Os agentes econômicos ficariam menos propensos a remarcar preços", diz Silveira.
O efeito prático da medida também iria nessa direção. Com juros mais altos, a tendência é arrefecer o crescimento até o final deste ano e em 2005. Dessa forma, ficaria mais difícil o consumidor sancionar aumentos de preços.
Na opinião de alguns analistas, a pressão sobre os preços existe e vem desde janeiro, quando começaram a crescer o salário nominal e a massa salarial (o salário real multiplicado pelo total de trabalhadores). Mas eles discordam da terapia do Banco Central.
A MS Consult afirma que, tecnicamente, não seria necessário aumentar a taxa de juro. "O ritmo lento de crescimento da massa salarial, o real valorizado e a queda dos preços das commodities esperada para o próximo ano seriam suficientes para amortecer a pressão altista", diz Silveira.
Para Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor de economia da USP, a principal pressão inflacionária, hoje, vem dos ganhos nominais de salários, que cresceram, em média, 6% de janeiro a julho.
Segundo ele, como os salários vêm aumentando mais depressa que a inflação, é como se a economia estivesse no pleno emprego. Uma forma de neutralizar o efeito dos ganhos nominais de salário é segurando o câmbio -o que reduz a pressão dos insumos importados. "É o que está ocorrendo agora com o real valorizado."
A outra forma de evitar que os ganhos salariais virem inflação é reduzindo o nível de atividade e, conseqüentemente, de emprego. "Para fazer isso, o BC tem de subir os juros." Toledo diz que a desaceleração virá já no primeiro trimestre de 2005, pois a taxa futura de juro começou a subir no trimestre passado no mercado.


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