|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para analistas,
BC já está de olho em 2005
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do Copom de iniciar
um processo de ajuste dos juros
visa inverter as expectativas do
mercado financeiro e conter repasses de preços em 2005. Nas últimas três semanas, os analistas
do mercado ajustaram para cima
as projeções de inflação em 2005.
"O Banco Central está olhando
para o ano que vem ao decidir aumentar os juros. A meta de inflação é 4,5%, mas o mercado, nesta
semana, já projeta uma taxa de
5,8%, segundo a pesquisa Focus
do BC", diz o economista Fábio
Silveira, da MS Consult.
Nas últimas semanas os analistas do mercado, ao refazerem
suas contas e projeções, passaram
a sinalizar o risco de repasse de
aumentos de custos para preços
num ambiente de crescimento
econômico acelerado.
O aumento dos juros atenuaria
essa pressão inflacionária potencial, pela via da reversão de expectativas. "Os agentes econômicos
ficariam menos propensos a remarcar preços", diz Silveira.
O efeito prático da medida também iria nessa direção. Com juros
mais altos, a tendência é arrefecer
o crescimento até o final deste ano
e em 2005. Dessa forma, ficaria
mais difícil o consumidor sancionar aumentos de preços.
Na opinião de alguns analistas, a
pressão sobre os preços existe e
vem desde janeiro, quando começaram a crescer o salário nominal
e a massa salarial (o salário real
multiplicado pelo total de trabalhadores). Mas eles discordam da
terapia do Banco Central.
A MS Consult afirma que, tecnicamente, não seria necessário aumentar a taxa de juro. "O ritmo
lento de crescimento da massa salarial, o real valorizado e a queda
dos preços das commodities esperada para o próximo ano seriam suficientes para amortecer a
pressão altista", diz Silveira.
Para Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor de economia da
USP, a principal pressão inflacionária, hoje, vem dos ganhos nominais de salários, que cresceram,
em média, 6% de janeiro a julho.
Segundo ele, como os salários
vêm aumentando mais depressa
que a inflação, é como se a economia estivesse no pleno emprego.
Uma forma de neutralizar o efeito
dos ganhos nominais de salário é
segurando o câmbio -o que reduz a pressão dos insumos importados. "É o que está ocorrendo
agora com o real valorizado."
A outra forma de evitar que os
ganhos salariais virem inflação é
reduzindo o nível de atividade e,
conseqüentemente, de emprego.
"Para fazer isso, o BC tem de subir
os juros." Toledo diz que a desaceleração virá já no primeiro trimestre de 2005, pois a taxa futura
de juro começou a subir no trimestre passado no mercado.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Comentário: Sempre à beira de um ataque de nervos monetário Índice
|