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TENSÃO PÓS-COPOM
Valor é o impacto na dívida pública caso a Selic fique em 16,25% por 12 meses; peso de títulos cambiais recua
Juro maior deve custar R$ 1 bilhão ao país
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alta dos juros anunciada ontem pelo Banco Central deve provocar um impacto anual de aproximadamente R$ 1 bilhão na dívida pública. Esse será o efeito da
elevação de 0,25 ponto percentual
na Selic caso a taxa se mantenha
em 16,25% ao ano pelos próximos
12 meses.
No mês passado, segundo dados mais recentes divulgados pelo
Tesouro Nacional, 52,93% dos títulos públicos em circulação no
mercado eram corrigidos pela Selic -logo, quando o BC aumenta
os juros, crescem também as despesas financeiras do governo.
Por outro lado, a valorização do
real ocorrida nas últimas semanas
tem feito o governo reduzir a parcela de sua dívida corrigida pelo
dólar. Desde o mês passado, o BC
resgatou US$ 2,619 bilhões em
contratos atrelados ao câmbio.
Ao todo, neste ano, os resgates somam US$ 24,6 bilhões.
A redução da dívida cambial é
um dos objetivos do governo na
área fiscal. Em janeiro, 21,03% dos
títulos públicos em circulação no
país eram corrigidos pelo câmbio.
No mês passado, essa proporção
havia se reduzido a 13,15%, o nível
mais baixo desde dezembro de
1999, quando essa estatística passou a ser calculada pelo BC.
Segundo o chefe do Departamento de Mercado Aberto do BC,
Sérgio Goldenstein, essa melhora
no perfil da dívida interna se deve
a vários fatores. "A demanda por
hedge [proteção contra variações
no câmbio] está bastante fraca, e
não há expectativa de que o real
irá se depreciar no curto e médio
prazos", afirma.
A procura por títulos indexados
ao dólar reflete, em boa parte, o
interesse dos investidores em se
proteger de eventuais variações
na taxa de câmbio -o chamado
hedge. Para Goldenstein, portanto, não se espera uma forte alta do
dólar no curto prazo, o que tem
diminuído a demanda por papéis
cambiais. No mês passado, a cotação do dólar registrou uma queda
de 3,07%.
Ao logo de todo o ano de 2003,
foram resgatados US$ 19,1 bilhões
em papéis cambiais. Até dezembro, outros US$ 3 bilhões irão
vencer. Goldenstein afirma que o
valor da parcela a ser resgatada
dependerá das condições do mercado, mas diz também que, até o
final do ano, a parcela do endividamento atrelada ao câmbio deve
cair para 12% -quanto menor o
tamanho do endividamento corrigido pelo dólar, menor é o risco
de um aumento da dívida na
ocorrência de uma desvalorização do real.
Mesmo com o resgate de parte
da dívida cambial, o endividamento total do governo teve uma
pequena alta no mês passado. O
total de títulos públicos em circulação no país chegou a R$ 761,77
bilhões, um aumento de 0,34%
em relação ao resultado de julho.
O aumento se deve ao efeito que
os juros tem sobre a dívida. Segundo estimativas do Tesouro, o
governo federal paga, em média,
cerca de R$ 9 bilhões por mês em
encargos decorrentes de seu endividamento -número que deve
mudar com a alta da Selic.
Em agosto, portanto, os gastos
com juros superaram o efeito positivo que os resgates de parcelas
do endividamento tiveram no período. No mês passado, além dos
resgates referentes à dívida cambial, o governo tirou de circulação
do mercado R$ 6,357 bilhões em
títulos públicos.
Para evitar que oscilações na taxa Selic tenham impacto muito
forte na dívida, o governo tenta
também aumentar a parcela do
endividamento formada por títulos prefixados. No mês passado,
essa proporção havia chegado a
16,66% -em janeiro, a relação
estava em 12,57%.
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