São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FINANÇAS

Relatório do Fundo volta a elogiar o Brasil e diz que país está sendo "recompensado por suas boas políticas recentes"

FMI vê melhor momento global desde 2001

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) pintou ontem um quadro extremamente favorável para o sistema financeiro mundial. Segundo o Fundo, as finanças globais atravessam seu melhor momento desde o estouro da chamada "bolha financeira", em meados de 2001.
O cenário também é positivo para os mercados emergentes. Nesse contexto, o Brasil, que novamente mereceu elogios do Fundo, estaria sendo "recompensado por suas boas políticas recentes".
Em seu "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global -2004", divulgado ontem, o Fundo faz poucas ressalvas para o risco de uma nova crise, mas alerta de que as economias em recuperação não devem "baixar a guarda", mas persistir em políticas macroeconômicas consistentes.
"Há coisas boas demais nesse relatório. Muito positivas. A coragem para fazer uma declaração como essa vem de vários resultados e tendências favoráveis", afirmou Gerd Haeusler, diretor do Departamento de Mercado de Capitais do FMI, em entrevista coletiva.
Haeusler apontou como "um dos mais positivos" o fato de o apetite por risco entre investidores e instituições financeiras estar hoje "balanceado entre o medo e a ganância".
O maior risco imediato, segundo o FMI, seria justamente "o retorno a um quadro de apetite indiscriminado e estimulado pela forte tendência entre os investidores de buscar ganhos maiores".
Entre outros riscos apontados para o médio prazo estão os altos preços do petróleo, a ameaça de ataques terroristas e a continuidade de um elevado déficit fiscal nos Estados Unidos.
O Fundo sustenta que a maior parte dos problemas causados pela excessiva valorização de ativos até 2001 -e sua posterior e rápida desvalorização- está praticamente superada.
"Os balanços dos bancos e demais instituições financeiras foram reparados e fortalecidos. Todos estão agora bem capitalizados" a ponto de poderem agüentar, segundo Haeusler, "choques consideráveis".
Haeusler disse que a recuperação econômica mundial constituiu a base para o ajuste financeiro. Com o setor corporativo não-financeiro retomando negócios e o faturamento, os bancos puderam diminuir provisões contra a inadimplência, fortalecendo ainda mais seus balanços.
O diretor do Fundo ressaltou, no entanto, que a ressaca da crise de 2001 deixou os investidores internacionais mais atentos, "discernindo entre os bons e os maus países e empresas".
Nesse contexto, Haeusler afirmou que o Brasil "está se beneficiando" tanto do crescimento econômico mundial quanto de um fluxo de investimentos maiores para os países emergentes.
"Para os emergentes, as condições financeiras atuais formam uma excelente janela de oportunidades que deveria ser usada para perseverar em políticas e reformas que potencializem o crescimento e a resistência a novas crises", disse o diretor do FMI.
No caso do Brasil, o relatório também destacou "o fortalecimento" do sistema bancário e o fato de o governo ter reduzido de 30%, em 2002, para 15%, atualmente, as obrigações de sua dívida pública atreladas ao dólar.
A "melhora do crédito" dos países emergentes na percepção dos investidores internacionais, segundo o FMI, tem contribuído para novas emissões de bônus no mercado com valores, prazos e condições mais vantajosas.
Nos primeiros oito meses de 2004, segundo o relatório do FMI, os países emergentes emitiram um total de US$ 122 bilhões em bônus, contra US$ 97 bilhões durante o ano passado.
Haeusler também deu amplo destaque ao fato de a maioria dos países desenvolvidos e emergentes terem se adaptado, "sem maiores problemas", a um novo ambiente de elevação da taxa de juros internacionais, sobretudo nos Estados Unidos.
Após quatro anos congelada em 1% ao ano, a taxa básica americana já subiu a 1,5% desde o final de junho -e novos aumentos graduais são esperados.


Texto Anterior: Luís Nassif: O medo de crescer
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.