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LUÍS NASSIF
O medo de crescer
Assim como não se pode
exigir de Rubens Barrichello que seja um Ayrton Senna, não dá para exigir da equipe econômica que pilote um
Fórmula 1. Recentemente o
presidente eleito do Ciesp
(Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Claudio
Vaz, lembrava que não há
crescimento sem enfrentar
problemas, fricções que ocorrem no organismo econômico.
São os chamados problemas
do crescimento. Pode ser uma
mudança momentânea de
preços relativos, um gargalo
provisório na oferta, na infra-estrutura. O desenvolvimento
significa uma mudança de patamar. E é impossível mudar o
patamar sem gerar desequilíbrios, porque o próprio desenvolvimento pressupõe a alteração nas condições anteriores.
Quem tem olhos para ver
percebe que a inflação está aumentando por conta de tarifas
e de problemas localizados de
oferta nos setores exportadores. Não existe explosão de demanda. São preços não afetados diretamente pelas taxas de
juros.
Por exemplo, o Ministério da
Fazenda poderia operar a economia, reduzindo as tarifas de
importação nas áreas de
maior pressão. Poderia até
criar impostos sobre a exportação para aqueles setores mais
aquecidos.
É como o médico que localiza o problema e atua diretamente sobre ele, em vez de tratamentos que afetam todo o
organismo da pessoa e, por tabela, atuam sobre a doença.
Mas essas formas de ação
exigem dois pré-requisitos: coragem para correr o risco e agilidade e conhecimento para
responder aos desafios. E não
temos Ayrton Senna. O ex-ministro Pedro Malan consagrou
um estilo de política econômica que consistia em nada fazer
e passar o trabalho sujo para
elevação de juros e arrocho fiscal.
Essa não-política foi revestida com o suposto manto da
impessoalidade, do "trabalho
limpo". No fundo, refletia apenas o desconhecimento amplo
de sucessivas equipes econômicas sobre o funcionamento
real da economia.
Tome-se a questão da tributação sobre ativos financeiros.
O que a Receita tira de um lado, o Tesouro paga -e com
sobra- do outro. Por que
ocorre isso? Porque a gestão de
política econômica, desde os
tempos de Malan, deixou de
ser um exercício sistêmico das
diversas peças que a compõe.
A vulnerabilidade externa
tem sido o principal fator de
risco da economia desde o Plano Real. Abortou sucessivas
tentativas de crescimento. Mas
não há um departamento responsável pelo combate à vulnerabilidade externa. Então,
toda vez que a situação melhora, o Banco Central deixa o
câmbio apreciar porque vulnerabilidade externa não é seu
departamento -mesmo que
as sucessivas crises externas
acabem explodindo em mais
inflação, quando se realizam.
Há tempos a Fazenda perdeu a própria capacidade de
analisar a inter-relação entre
as diversas ações que conduz.
No fundo, em termos de política econômica, o pensamento
predominante nos sucessivos
governos tem sido tão tosco
quanto o da prioridade única
das empresas, nos tempos de
mercado fechado.
Não adiantam os assomos de
voluntarismo e a agonia do
ministro José Dirceu. O governo Lula é isso aí.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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