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Banco ganha benefício antes de mutuário
Com novo pacote, custo de captação de recursos para empréstimos cairá, mas redução não deve ser repassada de imediato a clientes
Prestação fixa para imóvel é
vista como mais segura para os bancos; associação de mutuários prevê que o crédito continuará caro
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto, por um lado, o pacote habitacional anunciado
pelo governo na última semana
diminuiu o risco e reduzirá
imediatamente o custo dos
bancos para financiar a compra
da casa própria, por outro, o
mutuário ainda deverá esperar
até que a concorrência gere juros menores do que os atuais.
Com a permissão do governo
para fazerem empréstimos
com taxas fixas dentro do SFH
(Sistema Financeiro de Habitação), os bancos reduzirão, já na
largada, o custo de captação dos
recursos que são repassados
aos clientes nesse tipo de operação de algo entre 14% ao ano
e 15% ao ano para perto de 8%
ao ano.
Isso porque, em vez de utilizar nesses empréstimos dinheiro captado no próprio
mercado, que custa mais caro,
eles poderão fazer essas transações com recursos da caderneta
de poupança, que rendem um
pouco mais de 8% ao ano (6%
ao ano mais a variação da TR).
Como a taxa cobrada do
cliente deverá ficar, pelo menos
inicialmente, no mesmo patamar da que vinha sendo praticada nos empréstimos normais
do SFH, entre 14% e 15% ao ano
(equivalente à variação da TR
mais juros de 12% ao ano), essas operações serão bem mais
lucrativas para os bancos do
que os empréstimos com prestações fixas feitos até agora.
Apesar das taxas maiores
-entre 18% ao ano e 19% ao
ano-, os financiamentos habitacionais atuais com parcelas
prefixadas rendem menos para
os bancos porque a demanda é
baixa e a margem de lucro também.
Seguro
Além de pagar caro para captar o dinheiro no mercado financeiro, o risco do descasamento entre os juros de mercado e o embutido no contrato
obriga as instituições financeiras a fazerem seguro, já que os
contratos habitacionais são de
longo prazo.
Isso reduzia a margem de lucro dos bancos nessas operações, que eram oferecidas por
poucas instituições. Segundo
Osvaldo Correa Fonseca, diretor da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança),
cerca de 2,8% da taxa final era
apenas para garantir a proteção
desse descasamento.
Com isso, um banco que captasse dinheiro a 14% ao ano e
emprestasse a 18% ao ano, ficava com apenas 1,2 ponto percentual para acomodar os outros custos e o seu lucro com a
operação.
Agora, além de minimizar esse risco, já que os financiamentos serão baseados na TR e,
portanto, não terão o impacto
integral de uma alta dos juros
de mercado, os bancos têm
mais garantia, podendo descontar as prestações diretamente na folha de pagamento, e
uma margem de lucro bem
maior.
Considerando o banco que
aplicar a 14% ao ano, terá seis
pontos percentuais para cobrir
custos bem menores e um lucro
maior. Por outro lado, o consumidor que se recusava a pegar
um empréstimo a 18% ao ano
ou 19% ao ano, continuará com
a mesma opção do SFH, com o
custo de TR mais 12% ao ano
(cerca de 14% ao ano).
"O novo modelo é mais seguro para o banco. O risco de oscilação é apenas o do diferencial
da poupança. Com isso, cada
banco vai criar seu produto, e as
instituições não vão querer
perder mercado", diz Fonseca.
Ele argumenta que a concorrência fará a taxa cair.
"O financiamento habitacional continuará caro", afirma o
advogado Cleiton Pena Araújo,
diretor-adjunto da Asmut (Associação dos Mutuários e Consumidores de Imóveis). Segundo ele, o interessante no primeiro momento é ter uma
prestação fixa.
"Não é porque é fixa que o
consumidor vai aceitar pagar o
olho da cara", afirma. Portanto,
recomenda, é preciso ter muito
cuidado.
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