São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006

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Mais de 120 milhões não utilizam internet

Quase 80% da população com mais de dez anos não acessou a rede de computadores nos 3 meses anteriores à pesquisa do IBGE

Nos domicílios com renda mensal maior, 70% usam a web; nos mais pobres, porém, percentual cai para apenas 3% dos brasileiros


DA SUCURSAL DO RIO

Em plena era digital, um contigente de mais de 120 milhões de brasileiros não usa a internet, a rede mundial de computadores. Eles representam 79% da população com mais de dez anos de idade que, de acordo com o IBGE, não acessou nenhuma vez à rede nos últimos três meses.
Como era de esperar em um país com altos índices de desigualdade, o acesso varia significativamente de acordo com renda ou escolaridade. No maior extremo de renda pesquisado (domicílios com renda mensal per capita superior a cinco salários mínimos), 69,5% dos brasileiros usavam. No extremo oposto (renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo), esse mesmo percentual era de apenas 3%.
O acesso cresce de acordo com a renda, mas mesmo em faixas de renda intermediárias, como na de dois a três salários mínimos per capita, ele ainda é restrito a uma minoria (42%) de brasileiros.
O mesmo fenômeno acontece quando é analisado o acesso de acordo com o grau de escolaridade. No menor extremo de instrução (menos de quatro anos de estudo), somente 2,5% acessavam a internet. No extremo oposto (os que completaram ao menos o ensino médio), essa proporção chega a 76,2%.
Esta é a primeira vez em que o instituto analisa o acesso à internet pelas pessoas, e não apenas sua presença nos domicílios. A situação de acesso nos domicílios vem aumentando constantemente desde 2001, mas continua em patamares muito baixos. No início da década, 8,6% de residências possuíam computadores conectados. Em 2005, esse percentual chegou a 13,9%.
Analisando por unidade da Federação, a que apresentava maior percentual de sua população com acesso regular à internet era o Distrito Federal, com 41,2% usando a rede. O menor percentual foi encontrado em Alagoas (7,2%) e no Maranhão (7,1%).
Além de restrito ainda a uma minoria de maior poder aquisitivo, o acesso à internet varia muito também de acordo com a idade. Quanto mais jovem, maior a probabilidade de um brasileiro ter feito uso da rede nos últimos três meses de casa, do trabalho, da escola ou de qualquer outro ponto.
Os maiores percentuais de acesso foram encontrados na faixa etária de 15 a 17 anos, com 33,9% da população usando a rede. De 18 a 24 anos, a proporção continua acima de 30%, mas passa a cair gradualmente de acordo com a idade, chegando a apenas 3,3% da população acima de 60 anos.

Apartheid
Para Rodrigo Baggio, diretor-executivo do Comitê pela Democratização da Informática -organização não-governamental que mantém 891 escolas de informática e cidadania no Brasil e em nove países-, os dados do IBGE revelam um apartheid digital.
"Há uma legião de excluídos à margem da sociedade do conhecimento. É um cenário extremamente preocupante, principalmente quando comparamos nossa situação com a de outros países, já que hoje o uso da tecnologia é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma sociedade", diz Baggio.
Para ele, para reverter essa situação, é preciso investir na melhoria de infra-estrutura de acesso à internet em municípios pequenos, na capacitação de pessoas de baixa renda em informática e cidadania e na disseminação de pontos públicos de acesso.

Investimentos
Para o presidente da Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Acesso), Antônio Tavares, faltam investimentos em educação, não só para crianças como também para adultos para acelerar o ritmo de expansão da internet no país.
"A internet precisa crescer de forma útil e não apenas como entretenimento, como se vê muitas vezes nas classes A e B, e, para isso, é preciso investir na inclusão digital."


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