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Mais de 120 milhões não utilizam internet
Quase 80% da população com mais de dez anos não acessou a rede de computadores nos 3 meses anteriores à pesquisa do IBGE
Nos domicílios com renda mensal maior, 70% usam a web; nos mais pobres, porém, percentual cai para apenas 3% dos brasileiros
DA SUCURSAL DO RIO
Em plena era digital, um contigente de mais de 120 milhões
de brasileiros não usa a internet, a rede mundial de computadores. Eles representam 79%
da população com mais de dez
anos de idade que, de acordo
com o IBGE, não acessou nenhuma vez à rede nos últimos
três meses.
Como era de esperar em um
país com altos índices de desigualdade, o acesso varia significativamente de acordo com
renda ou escolaridade. No
maior extremo de renda pesquisado (domicílios com renda
mensal per capita superior a
cinco salários mínimos), 69,5%
dos brasileiros usavam. No extremo oposto (renda per capita
inferior a 1/4 do salário mínimo), esse mesmo percentual
era de apenas 3%.
O acesso cresce de acordo
com a renda, mas mesmo em
faixas de renda intermediárias,
como na de dois a três salários
mínimos per capita, ele ainda é
restrito a uma minoria (42%)
de brasileiros.
O mesmo fenômeno acontece quando é analisado o acesso
de acordo com o grau de escolaridade. No menor extremo de
instrução (menos de quatro
anos de estudo), somente 2,5%
acessavam a internet. No extremo oposto (os que completaram ao menos o ensino médio),
essa proporção chega a 76,2%.
Esta é a primeira vez em que
o instituto analisa o acesso à internet pelas pessoas, e não apenas sua presença nos domicílios. A situação de acesso nos
domicílios vem aumentando
constantemente desde 2001,
mas continua em patamares
muito baixos. No início da década, 8,6% de residências possuíam computadores conectados. Em 2005, esse percentual
chegou a 13,9%.
Analisando por unidade da
Federação, a que apresentava
maior percentual de sua população com acesso regular à internet era o Distrito Federal,
com 41,2% usando a rede. O
menor percentual foi encontrado em Alagoas (7,2%) e no
Maranhão (7,1%).
Além de restrito ainda a uma
minoria de maior poder aquisitivo, o acesso à internet varia
muito também de acordo com a
idade. Quanto mais jovem,
maior a probabilidade de um
brasileiro ter feito uso da rede
nos últimos três meses de casa,
do trabalho, da escola ou de
qualquer outro ponto.
Os maiores percentuais de
acesso foram encontrados na
faixa etária de 15 a 17 anos, com
33,9% da população usando a
rede. De 18 a 24 anos, a proporção continua acima de 30%,
mas passa a cair gradualmente
de acordo com a idade, chegando a apenas 3,3% da população
acima de 60 anos.
Apartheid
Para Rodrigo Baggio, diretor-executivo do Comitê pela Democratização da Informática
-organização não-governamental que mantém 891 escolas de informática e cidadania
no Brasil e em nove países-, os
dados do IBGE revelam um
apartheid digital.
"Há uma legião de excluídos
à margem da sociedade do conhecimento. É um cenário extremamente preocupante,
principalmente quando comparamos nossa situação com a
de outros países, já que hoje o
uso da tecnologia é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma sociedade", diz
Baggio.
Para ele, para reverter essa
situação, é preciso investir na
melhoria de infra-estrutura de
acesso à internet em municípios pequenos, na capacitação
de pessoas de baixa renda em
informática e cidadania e na
disseminação de pontos públicos de acesso.
Investimentos
Para o presidente da Abranet
(Associação Brasileira dos Provedores de Acesso), Antônio
Tavares, faltam investimentos
em educação, não só para
crianças como também para
adultos para acelerar o ritmo de
expansão da internet no país.
"A internet precisa crescer
de forma útil e não apenas como entretenimento, como se vê
muitas vezes nas classes A e B,
e, para isso, é preciso investir
na inclusão digital."
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