São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Brasileiros buscam salário alto e desafios

Trabalhadores enfrentam diferenças culturais para atuar no desenvolvimento de segmentos pouco explorados na África

Executivos reclamam da burocracia e da falta de infra-estrutura em saúde e transporte; família só vai após período de adaptação

DA SUCURSAL DO RIO

Salário mais alto e oportunidade de fazer algo novo na área em que atuam são alguns dos motivos que levam brasileiros a trabalhar na África. Em alguns casos, o desafio é iniciar um mercado que mal começou.
É o caso de Marcos Elias, ex-presidente do Núcleos, fundo de pensão da Nuclebrás. Após 27 anos de atuação na área de previdência, ele decidiu fomentar a criação de fundos de pensão privados em Angola e vai trabalhar também como consultor do governo na modernização do INSS local. "O país cresce mais de 20% ao ano e deve continuar com essa taxa por pelo menos mais cinco anos."
Antes mesmo de se mudar, ele já tomou precauções. Comprou um carro em Angola -o transporte público local é considerado pouco eficiente- e só pretende levar a família quando estiver acostumado.
Nem sempre foi tão simples. Alice Oliveira morou lá no início da década de 90, quando o país estava em guerra, e o marido era gerente da Petrobras. A rotina incluía toque de recolher e motorista particular para evitar conflitos no trânsito.
"Morávamos dentro de uma minicidade construída pela Odebrecht. Meus filhos estudavam em um colégio brasileiro que foi instalado lá. Luanda, na época, parecia uma grande favela. Era uma pobreza que chocava." Ela lembra que os filhos pegaram malária diversas vezes e a qualidade da água era uma preocupação. "Mesmo com os problemas, fui muito feliz lá."
Os problemas que afligem os brasileiros hoje são outros. Cynthia Andrade, analista de sistemas que vive em Maputo, capital de Moçambique, reclama da burocracia. "Nada aqui é informatizado, qualquer procedimento pode levar meses."
Ela presta serviços para o Ministério das Finanças. Começou a trabalhar com um grupo de 20 brasileiros, em 2005, e hoje só restam dez. A comunidade brasileira reúne "200 brasileiros numa festa junina", e, no dia-a-dia, a presença da cultura do Brasil é forte. "O porteiro do meu prédio assiste a novela brasileira todo dia."
Aos poucos, ela aprendeu a lidar com as diferenças. "Aqui não tem taxímetro. Se não combinar o valor antes, o motorista pode cobrar o quanto quiser depois." Segundo ela, viver em Maputo é como morar no interior. A única preocupação é com a oferta de serviços de saúde porque "não há muitos recursos".
Samir Awad, gerente da área internacional da Petrobras para Américas, África e Ásia, diz que foi a "cobaia" da empresa na Nigéria, onde morou por sete anos. "Tive que construir a infra-estrutura doméstica da empresa. Hoje, temos 11 famílias brasileiras morando lá. Não é fácil. Estamos falando de países em que um dia pode faltar leite, no outro não ter água e no terceiro não ter luz. Quando tem uma revolução, você tem que sair correndo."

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