São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Fiscalização concentra mercado de postos

BR, Ipiranga, Shell e Esso passam a ocupar espaço dos estabelecimentos sem bandeira após cerco ao comércio ilegal de combustíveis

Expansão dos postos sem bandeira chegou ao limite, avalia a ANP; companhias tradicionais começam a ocupar espaços perdidos

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O cerco aos postos que sonegam tributos ou comercializam combustíveis irregulares -problemas encontrados com maior freqüência nos postos sem bandeira- vai resultar no aumento do mercado das distribuidoras tradicionais, como BR, Ipiranga, Shell e Esso.
Com a lei nš 8.478/99, que abriu o mercado brasileiro de combustíveis para novas distribuidoras e redes, os postos sem bandeira (aqueles que não têm contratos de exclusividade com distribuidoras) vinham crescendo ano a ano e ocupando os espaços de redes tradicionais.
Levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo) mostra que os também chamados postos "bandeira branca" representavam, em julho deste ano, 42,5% dos postos instalados no país -são cerca de 35 mil. Até 1999, somente meia dúzia de distribuidoras e redes abasteciam o mercado no país.
A ANP considera que a expansão dos postos sem bandeira chegou ao limite, para felicidade, principalmente, das companhias tradicionais, que já começam a ocupar espaços perdidos nos últimos sete anos.
Até o final do ano que vem, os postos sem bandeira deverão representar não mais de 25% dos postos espalhados pelo país, como resultado do combate à sonegação fiscal e à venda de combustíveis irregulares, segundo avaliação da ANP.
As sete distribuidoras reunidas no Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes) -BR, Ipiranga, Shell, Esso, Chevron (Texaco), Repsol e AleSat-, que detêm cerca de 46% dos postos no Brasil, são as que têm mais condições para ocupar o espaço dos postos sem bandeira, segundo consultores ouvidos pela Folha.
As companhias menores, que surgiram com a abertura do mercado de combustíveis (são 270 distribuidoras no Brasil) e detêm hoje cerca de 11% dos postos no país, também terão algum espaço para crescer, segundo estimativa da ANP.
"O número de postos não deve diminuir com as ações [da ANP, da Fazenda paulista e da prefeitura paulistana] para retirar do mercado os postos que operam de forma ilegal. O que percebemos é o início de um processo de fortalecimento de postos com bandeira. Uma distribuidora regional já nos informou que tem planos de abrir mil postos com sua bandeira em três anos", diz Roberto Ardenghy, superintendente de abastecimento da ANP.
A Ipiranga nota que o consumidor está mais preocupado com a qualidade do combustível e, por isso, procura abastecer o carro em postos com bandeira. A distribuidora tem cerca de 4.200 postos espalhados pelo país e espera terminar este ano com 4.300 postos.
"Esses cem postos a mais já existiam e passarão a ter a nossa bandeira", diz Jerônimo Santos, gerente da divisão de desenvolvimento de marketing da Ipiranga.
A Esso, que chegou a ter 3.300 postos no país no início da década passada e hoje tem cerca de 1.750 unidades, também sente o movimento para a volta dos postos com bandeira.
"É um processo que se iniciou devido à pressão do consumidor, que volta a procurar postos com tradição", diz Helvio Rebeschini, coordenador para assuntos regulatórios e legais da Esso e diretor de Defesa da Concorrência do Sindicom.
Com 6.600 postos no país, sendo 1.600 no mercado paulista, a BR confirma que as ações para combater as fraudes favoreceram os postos com bandeira. "Existe esse movimento, só que nós não deveremos elevar o número de postos, pois estamos tirando da nossa rede os estabelecimentos que não operam de forma ética para trabalhar com aqueles que têm comprovada idoneidade", diz Reinaldo Belotti, diretor da rede de postos da BR.
De janeiro a agosto deste ano, 648 postos -com e sem bandeiras- foram fechados no país, sendo 255 no Estado de São Paulo, segundo a ANP.
A Fazenda paulista já cassou neste ano a inscrição estadual de 152 postos, principalmente pela venda de produto adulterado. A Prefeitura de São Paulo informa que existem 1.449 postos interditados no município por atuação de forma irregular.
Na avaliação do consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, num primeiro momento, o cerco aos postos deve resultar no aumento dos com bandeira, das distribuidoras tradicionais. Numa segunda fase, pode haver redução no número de postos e aumento das margens de lucro. "Existem postos demais no país. A tendência é a concentração de mercado em algumas grandes distribuidoras, resultando em alta de preços."

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