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ANÁLISE
Versão pós-moderna de corrida aos bancos
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
O sistema financeiro dos
EUA entrará em colapso nos
próximos dias? Não creio, mas
estou longe da certeza.
Para compreender o problema, é preciso saber que o velho
mundo dos bancos, no qual instituições abrigadas em grandes
edifícios de mármore aceitavam depósitos e emprestavam
dinheiro a clientes de longo
prazo, em larga medida desapareceu, substituído por aquilo
que costuma ser designado como "o sistema bancário paralelo". Os bancos que operavam
contas-correntes, aqueles dos
edifícios de mármore, hoje desempenham papel menor em
canalizar fundos dos poupadores aos interessados em empréstimos; a maior parte dos
negócios são executados em
complexas transações organizadas por instituições "não depositárias", como o Bear
Stearns e o Lehman Brothers.
O novo sistema deveria fazer
um trabalho melhor em distribuir e reduzir riscos. Mas, depois da crise da habitação e da
resultante crise hipotecária,
parece aparente que o risco não
foi exatamente reduzido, mas
ocultado: número demasiado
de investidores não fazia idéia
de sua exposição.
E, à medida que as incógnitas
não conhecidas se tornam incógnitas conhecidas, o sistema
vem começando a sofrer versões pós-modernas de uma
corrida aos bancos. Elas não se
assemelham às versões passadas: com poucas exceções, não
estamos falando sobre multidões de investidores perturbados batendo nas portas cerradas dos bancos. Em lugar disso,
falamos de apertões frenéticos
nos mouses e telefonemas
igualmente urgentes, à medida
que os protagonistas dos mercados financeiros retiram suas
linhas de crédito e tentam desmontar os riscos gerados por
suas contrapartes em transações. Mas os efeitos econômicos -o congelamento do crédito, a espiral de queda nos valores dos ativos- são os mesmos
das grandes corridas aos bancos nos anos 1930.
E eis a questão: as defesas
instaladas para impedir que essas corridas aos bancos retornassem, basicamente garantias
federais aos saldos de contas-correntes e acesso a linhas de
crédito no Fed (o BC dos EUA),
só protegem os sujeitos nos
edifícios de mármore, que não
ocupam posição central na
atual crise. Isso cria uma verdadeira possibilidade de que 2008
venha a ser 1931 revivido.
É fato que as autoridades estão conscientes dos riscos -antes de assumir a responsabilidade por salvar o mundo, Ben
Benanke, do Fed, era um dos
principais especialistas sobre a
Grande Depressão. Assim, ao
longo de 2007, o Fed e o Tesouro orquestraram planos de resgate improvisados. Linhas especiais de crédito com acrônimos impronunciáveis foram
oferecidas a instituições não
depositárias. O Fed e o Tesouro
intermediaram um acordo que
protegeu as contrapartes do
Bear Stearns -as instituições
que representavam as pontas
opostas de suas transações-,
mas não os acionistas do banco.
E, na semana passada, o Tesouro tomou o controle da
Freddie Mac e Fannie Mae, as
grandes do crédito hipotecário.
Mas as conseqüências desses
resgates estão enervando as autoridades. Para começar, elas
estão assumindo riscos pesados com o dinheiro dos contribuintes. Por exemplo, hoje boa
parte da carteira do Fed está
amarrada a empréstimos lastreados por cauções dúbias.
Além disso, os funcionários do
governo também estão preocupados com a possibilidade de
que seus esforços de resgate encorajem comportamento ainda
mais arriscado no futuro.
A verdadeira resposta ao problema seria, evidentemente,
agir preventivamente antes
que tivéssemos chegado a esse
ponto. Mesmo deixando de lado a óbvia necessidade de regulamentar o sistema bancário
paralelo caso instituições precisem ser resgatadas como se
fossem bancos, por que fomos
apanhados tão despreparados?
Quando o Bear Stearns quebrou, muita gente comentou a
necessidade de um mecanismo
de "liquidação ordeira" para os
bancos de investimento em colapso. Bem, já faz seis meses.
Onde está o mecanismo? Por
isso estamos aqui, com o secretário do Tesouro, Henry Paulson, aparentemente disposto a
acreditar que jogar roleta-russa
com o sistema financeiro dos
EUA era sua melhor opção.
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