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Temor político faz Lula adotar projeto paliativo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao autorizar o envio ao
Congresso do projeto que
taxa as cadernetas de poupança, o presidente Lula
tenta combinar uma necessidade técnica com o
menor desgaste político
possível. Dá espaço para a
política monetária reduzir
os juros básicos (Selic) ou
não elevá-los e preserva da
tributação 99% dos poupadores.
Tecnicamente, seria
preciso alterar a fórmula
de rendimento da caderneta para todos os poupadores a fim de não impor à
política monetária um limite mínimo para a queda
da Selic, hoje em 8,75% ao
ano. Se a Selic cair mais, a
poupança deve render
mais do que a grande
maioria dos fundos de investimentos de renda fixa,
atrelados aos juros.
No entanto, Lula considerou um vespeiro político mudar as regras para
todos os poupadores. Disse que daria munição à
oposição na campanha
eleitoral de 2010.
O presidente afirmou
que uma mudança mais
radical das regras da poupança seria assunto para o
próximo governo. Na época das discussões com a
equipe econômica, em
abril e maio, Lula afirmou:
"Uma medida dessas a
gente toma no primeiro
ano de governo, quando
tem força política. Não é
assunto para final de governo".
Por isso, Lula decidiu
por uma solução intermediária que lhe desse discurso perante os mais pobres, para os quais não haverá mudança de regra.
No debate de abril e
maio com a equipe econômica, Lula rejeitou opções
mais radicais, como atrelar o rendimento da poupança a um percentual da
Selic. Naquela época, o governo fora acuado pela
propaganda do PPS no rádio e na TV dizendo que
Lula mexeria na poupança. O partido de oposição
falou que o petista poderia
fazer bloqueio semelhante
ao do governo Collor.
De maio para cá, o governo adiou o quanto pôde
o envio do projeto ao Congresso. Lula foi convencido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que disse que perdera margem para reduzir
a Selic e que só uma mudança na poupança poderia recuperar espaço para
a política monetária. Lula
quer juros menores, ou ao
menos estáveis, em 2010.
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