São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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Temor político faz Lula adotar projeto paliativo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao autorizar o envio ao Congresso do projeto que taxa as cadernetas de poupança, o presidente Lula tenta combinar uma necessidade técnica com o menor desgaste político possível. Dá espaço para a política monetária reduzir os juros básicos (Selic) ou não elevá-los e preserva da tributação 99% dos poupadores.
Tecnicamente, seria preciso alterar a fórmula de rendimento da caderneta para todos os poupadores a fim de não impor à política monetária um limite mínimo para a queda da Selic, hoje em 8,75% ao ano. Se a Selic cair mais, a poupança deve render mais do que a grande maioria dos fundos de investimentos de renda fixa, atrelados aos juros.
No entanto, Lula considerou um vespeiro político mudar as regras para todos os poupadores. Disse que daria munição à oposição na campanha eleitoral de 2010.
O presidente afirmou que uma mudança mais radical das regras da poupança seria assunto para o próximo governo. Na época das discussões com a equipe econômica, em abril e maio, Lula afirmou: "Uma medida dessas a gente toma no primeiro ano de governo, quando tem força política. Não é assunto para final de governo".
Por isso, Lula decidiu por uma solução intermediária que lhe desse discurso perante os mais pobres, para os quais não haverá mudança de regra.
No debate de abril e maio com a equipe econômica, Lula rejeitou opções mais radicais, como atrelar o rendimento da poupança a um percentual da Selic. Naquela época, o governo fora acuado pela propaganda do PPS no rádio e na TV dizendo que Lula mexeria na poupança. O partido de oposição falou que o petista poderia fazer bloqueio semelhante ao do governo Collor.
De maio para cá, o governo adiou o quanto pôde o envio do projeto ao Congresso. Lula foi convencido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que disse que perdera margem para reduzir a Selic e que só uma mudança na poupança poderia recuperar espaço para a política monetária. Lula quer juros menores, ou ao menos estáveis, em 2010.


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