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Por que me orgulho do presidente FHC
ALOYSIO BIONDI
Clinton apareceu no Planalto,
o presidente FHC não deixou
por menos: fez um discurso incisivo, corajoso, avisando seu
colega que a "globalização não
deve ser imposta" pelos países
ricos, em proveito dos países ricos à custa dos países menos
desenvolvidos, como o Brasil.
Por pouco, o presidente brasileiro não chegou a dizer, com
todas as letras, a mesma coisa
que os críticos "bocós", "dinossauros" vêm tentando mostrar
nos últimos anos: que a teoria
da "globalização" é apenas
uma roupagem nova, um disfarce, para os EUA se apossarem dos mercados, patrimônios,
riquezas mundiais. Uma estratégia que, no caso brasileiro,
sempre teve a cooperação escandalosa da equipe econômica
FHC/BNDES.
Pode-se suspeitar que o corajoso discurso de FHC tenha sido
apenas uma encenação, já que
ele tem não apenas pactuado,
mas contribuído para a destruição da economia nacional.
Uma bravata, para seduzir a
opinião pública.
Da mesma forma que toda a
"onda" em torno dos desaforos
cometidos pelos organizadores
da visita de Clinton pode fazer
parte, também, de maquiavélica estratégia para dar a impressão de que ainda existe alguma
reação, no Brasil, contra a aviltante situação de "newcucarachos" a que os milhões de brasileiros fomos atirados.
Ronco no palanque, enquanto
a política de destruição da economia nacional persiste, sem
nenhum esboço de reação das
lideranças empresariais, políticas, classe média e povão. A coragem do presidente FHC é motivo de orgulho, sim. Mesmo
que tudo não passe de palavras
vazias.
Milagre brasileiro
O mundo se curva diante do
Brasil. Nenhum governo, em
tão curto espaço de tempo, meros três anos, jamais conseguiu
isto: transformar um saldo positivo de US$ 15 bilhões na balança comercial (exportações
superiores às importações) em
um rombo também de US$ 15
bilhões. Por ano. Fabricar um
rombo total de US$ 30 bilhões
ao ano é uma façanha mundial
que só pode nos encher de orgulho.
Modernização
A indústria de semicondutores é uma das bases da fabricação de eletroeletrônicos. Neste
ano, o Brasil importará US$ 1,6
bilhão em semicondutores. Produzirá, aqui dentro, o equivalente a apenas US$ 80 milhões.
Por quê? Em 1989, havia 223
fábricas brasileiras nessa área.
Agora, existem cinco. Não é engano, não: 218 fábricas fecharam. É a "modernização", a
"conquista da tecnologia" trazida pela globalização. Pelo corajoso governo FHC.
Dólares
Na semana passada, manchetes sobre a enxurrada de dólares para os países latino-americanos, Brasil inclusive. No caso
da Argentina, US$ 1,6 bilhão
em setembro. Dólar para quê?
Bancos norte-americanos emprestaram US$ 1,1 bilhão -para uma empresa operadora de
TV a cabo. Argentina? Não.
Um grupo norte-americano,
que comprou uma empresa local em 1994. Outros US$ 600
milhões foram para o grupo
Santander comprar um banco
argentino. Argentina, Brasil.
Dólares para o país? Não. Para
abocanhar o patrimônio já
existente.
Naufrágio
Desde maio, as vendas do comércio vêm em queda. As entidades empresariais "capachildas", e os analistas Polianas, tinham uma explicação otimista
para o problema: "o consumidor está preferindo pagar dívidas, para chegar ao Natal com o
crédito recuperado". Léria. Em
setembro, o número de consumidores em atraso que liquidaram dívidas caiu 25%, de 196 mil
para 145 mil. Nem compras, nem
pagamento de dívidas.
O número de novos inadimplentes voltou aos 270 mil, ou
quatro vezes a média histórica.
Cheques sem fundos avançaram
30% e atingiram o dobro da média histórica.
Supermercados anunciam que
só farão encomendas equivalentes a apenas 60% do ano passado,
para o Natal. Lojas de eletrodomésticos, idem. Não haverá aumento do emprego, renda, consumo na indústria e, por extensão, na economia. O presidente
FHC encaminha o país para um
Natal memorável.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha. É diretor-geral do grupo Visão. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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