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BENJAMIN STEINBRUCH
O FMI dos pobres
Para que seja instituição que financie desenvolvimento, o Banco do Sul tem de buscar
seu equilíbrio financeiro
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ASSIM COMO nenhuma mente
sã pode ser contra a luz elétrica ou a água encanada, é razoável supor que ninguém possa se
opor a ações ou entidades que promovam o desenvolvimento, sejam
elas nacionais ou internacionais.
Esse é um enunciado básico na
discussão da decisão de sete países
da América do Sul, sob a liderança da
Venezuela, de criar o Banco do Sul,
tomada na semana passada em reunião de ministros, no Rio. Em tese, é
bem-vinda a criação de uma entidade regional cujo objetivo seja financiar projetos de integração e desenvolvimento na América do Sul.
Até aí, tudo certo. Mas é preciso
saber como se pretende fazer funcionar essa instituição. Pela idéia
original do presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, o Banco do Sul seria
uma alternativa política ao Fundo
Monetário Internacional e ao Banco
Mundial para socorrer países sul-americanos endividados ou com
graves dificuldades em seu balanço
de pagamentos. Se fosse por esse caminho, que previa a criação de uma
espécie de FMI dos pobres, o banco
não teria futuro. Ainda que o velho
FMI (dos ricos) mereça críticas e tenha falhado seguidamente em seus
programas de ajuda amparados por
políticas recessivas, a proposta de
Chávez é por demais ideológica e peca por não conseguir enxergar o tamanho das carências financeiras do
subcontinente.
Quando Chávez esboçou seu plano, o Brasil ameaçou ficar fora do
Banco do Sul. Felizmente, numa
concessão ao bom senso, voltou
atrás, por perceber que seria muito
melhor participar do banco e tentar
representar um fator de equilíbrio
nas decisões do que deixar Chávez
espalhar sozinho sua demagogia aos
carentes vizinhos sul-americanos.
O Brasil não conseguiu adiar o
lançamento do banco de Chávez para 2010, como desejava, nem impedir que sua sede seja em Caracas.
Mas obteve duas importantes vitórias na reunião da semana passada,
quando os ministros de sete países
aprovaram as diretrizes principais
do banco, cuja operação deve começar em 2008.
A primeira vitória foi a decisão de
que a instituição funcionará só como banco de desenvolvimento, não
como FMI dos pobres, como imaginava Chávez. A segunda foi a restrição das atividades financiadoras ao
território sul-americano, impedindo que sua ação se estenda para países amigos (de Chávez) da América
Central, como Nicarágua e Cuba.
Nada garante, porém, que estejamos livres do viés ideológico sonhado pelo chavismo, ou seja, do risco
de que o Banco do Sul possa ser usado para o assistencialismo demagógico com dinheiro alheio. Nada contra ajudas assistenciais, desde que se
defina claramente de quais cofres
sairão os recursos a fundo perdido.
Caso contrário, o banco não teria
nenhuma credibilidade para captar
poupanças no mercado internacional. Em outras palavras, nasceria
quebrado.
Para que seja uma verdadeira instituição financiadora de desenvolvimento, o Banco do Sul tem de manter os pés no chão e buscar o equilíbrio financeiro. Para isso, o Brasil
deve desempenhar papel importante e ter poder político na nova entidade. Não faz sentido que todos os
parceiros tenham o mesmo peso em
voto, como quer Chávez. Esse peso
tem de ser, naturalmente, proporcional ao volume de capital desembolsado por cada sócio.
Racionalidade e equilíbrio, portanto, é o que se espera do Brasil
nessa iniciativa, para que não venha
a entrar em canoa furada. Nenhum
agente financiador pode sobreviver
só de bravatas marqueteiras.
BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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